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RECEITA ORTODOXA
Fundo afirma que só uma elevação sustentada do PIB pode diminuir efeitos do alto endividamento
Dívida "engole" crescimento do país, diz FMI
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI
O FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou ontem que o
alto endividamento do Brasil vai
continuar absorvendo uma parcela do crescimento do país.
"A dívida doméstica é grande. A
dívida externa é muito alta. Esses
problemas não desaparecem da
noite para o dia e continuarão absorvendo uma parcela do crescimento nos próximos anos. É preciso ter um crescimento sustentável para diminuí-los em relação
ao PIB, a menos que o país adote
medidas mais radicais", disse o
economista-chefe do Fundo,
Kenneth Rogoff.
Durante entrevista em Dubai,
nos Emirados Árabes Unidos, na
abertura do encontro anual do
FMI e do Banco Mundial, Rogoff
afirmou que o país ainda não pode "relaxar e ir em frente".
Apesar das advertências, o economista também fez elogios ao
país. "A performance do Brasil
desde as eleições tem sido exemplar, e a administração do BC, notável. Lula tem dado passos firmes
na tentativa de realizar reformas,
mas o país ainda tem um longo
caminho pela frente", disse.
Atualmente, o Brasil tem como
meta acertada com o FMI poupar
4,25% do PIB (a soma de todos os
bens e serviços produzidos em
um ano) para pagar juros de suas
dívidas. Na Argentina, após uma
moratória que durou pouco mais
de um dia, a mesma meta acaba
de ser fixada em 3%.
Apesar de citar a expressão
"mais radical" como uma alternativa para o Brasil durante a entrevista, Rogoff não explicou o que
isso significaria na visão do Fundo nem deixou claro se exortava a
adotá-la.
O economista, entretanto, citou
os casos do México, Chile, Grécia,
Portugal e Espanha como exemplos de países que tinham dívidas
pesadas e que conseguiram superar seus problemas ao longo do
tempo. "Não devemos nos esquecer de que a Espanha, que vai
muito bem hoje, tem um histórico
de 13 moratórias", afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de o Brasil renovar o acordo
com o Fundo no fim do ano, Rogoff disse que essa é uma decisão
que cabe ao país tomar.
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, chega hoje a Dubai
e terá encontro à tarde com o diretor-gerente-adjunto do Fundo,
Agustin Carstens.
Palocci deverá estar com Horst
Köhler, o número um do FMI, na
segunda-feira. Lula já deu sinal
verde para que o ministro inicie
entendimentos com o Fundo para
um eventual novo programa. O
governo brasileiro, porém, quer
discutir um acordo diferente do
atual, que acaba em novembro.
O que o Brasil busca é um programa menor (seriam cerca de
US$ 10 bilhões, contra os atuais
US$ 30,5 bilhões) e com cláusulas
diferentes (incluindo, por exemplo, metas sociais).
Ao comentar o resultado das
previsões do Fundo para o crescimento mundial neste ano e no
próximo, de 3,2% e 4,1%, respectivamente, Rogoff disse estar "razoavelmente otimista em assistir
a um retorno" impulsionado, em
boa medida, pelos Estados Unidos e pelos emergentes asiáticos.
Mas o FMI voltou a alertar para
os "perigos dos déficits gêmeos
[fiscal e em conta corrente]" nos
Estados Unidos e sugeriu que a
China deveria flexibilizar sua
moeda, o yuan, a fim de amortecer os riscos de uma eventual queda brusca do dólar.
Rogoff diz que o pior cenário seria a Europa arcar com a maior
parcela do custo do ajuste que os
EUA "terão de fazer em suas contas, mais cedo ou mais tarde".
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