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São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Fundo afirma que só uma elevação sustentada do PIB pode diminuir efeitos do alto endividamento

Dívida "engole" crescimento do país, diz FMI

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

O FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou ontem que o alto endividamento do Brasil vai continuar absorvendo uma parcela do crescimento do país.
"A dívida doméstica é grande. A dívida externa é muito alta. Esses problemas não desaparecem da noite para o dia e continuarão absorvendo uma parcela do crescimento nos próximos anos. É preciso ter um crescimento sustentável para diminuí-los em relação ao PIB, a menos que o país adote medidas mais radicais", disse o economista-chefe do Fundo, Kenneth Rogoff.
Durante entrevista em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, na abertura do encontro anual do FMI e do Banco Mundial, Rogoff afirmou que o país ainda não pode "relaxar e ir em frente".
Apesar das advertências, o economista também fez elogios ao país. "A performance do Brasil desde as eleições tem sido exemplar, e a administração do BC, notável. Lula tem dado passos firmes na tentativa de realizar reformas, mas o país ainda tem um longo caminho pela frente", disse.
Atualmente, o Brasil tem como meta acertada com o FMI poupar 4,25% do PIB (a soma de todos os bens e serviços produzidos em um ano) para pagar juros de suas dívidas. Na Argentina, após uma moratória que durou pouco mais de um dia, a mesma meta acaba de ser fixada em 3%.
Apesar de citar a expressão "mais radical" como uma alternativa para o Brasil durante a entrevista, Rogoff não explicou o que isso significaria na visão do Fundo nem deixou claro se exortava a adotá-la.
O economista, entretanto, citou os casos do México, Chile, Grécia, Portugal e Espanha como exemplos de países que tinham dívidas pesadas e que conseguiram superar seus problemas ao longo do tempo. "Não devemos nos esquecer de que a Espanha, que vai muito bem hoje, tem um histórico de 13 moratórias", afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de o Brasil renovar o acordo com o Fundo no fim do ano, Rogoff disse que essa é uma decisão que cabe ao país tomar.
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, chega hoje a Dubai e terá encontro à tarde com o diretor-gerente-adjunto do Fundo, Agustin Carstens.
Palocci deverá estar com Horst Köhler, o número um do FMI, na segunda-feira. Lula já deu sinal verde para que o ministro inicie entendimentos com o Fundo para um eventual novo programa. O governo brasileiro, porém, quer discutir um acordo diferente do atual, que acaba em novembro.
O que o Brasil busca é um programa menor (seriam cerca de US$ 10 bilhões, contra os atuais US$ 30,5 bilhões) e com cláusulas diferentes (incluindo, por exemplo, metas sociais).
Ao comentar o resultado das previsões do Fundo para o crescimento mundial neste ano e no próximo, de 3,2% e 4,1%, respectivamente, Rogoff disse estar "razoavelmente otimista em assistir a um retorno" impulsionado, em boa medida, pelos Estados Unidos e pelos emergentes asiáticos.
Mas o FMI voltou a alertar para os "perigos dos déficits gêmeos [fiscal e em conta corrente]" nos Estados Unidos e sugeriu que a China deveria flexibilizar sua moeda, o yuan, a fim de amortecer os riscos de uma eventual queda brusca do dólar.
Rogoff diz que o pior cenário seria a Europa arcar com a maior parcela do custo do ajuste que os EUA "terão de fazer em suas contas, mais cedo ou mais tarde".


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