São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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EUA cortam juros em meio ponto, e Bolsas disparam

Fed diz que agiu para evitar que crise imobiliária contagie crescimento do país

Medida do BC dos EUA deve aliviar situação de bancos e mutuários que passam por dificuldades; Bovespa sobe 4,75%, e Bolsa de NY, 2,5%

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Em uma decisão que surpreendeu e animou os mercados, o Fed (Federal Reserve, BC dos EUA) anunciou um corte de 0,5 ponto percentual na sua taxa básica de juros, que passou a 4,75% ao ano, após 15 meses em 5,25%. Essa redução, a primeira desde junho de 2003, foi classificada como ousada pelos analistas, que esperavam diminuição de 0,25 ponto.
O Fed também cortou em 0,5 ponto, para 5,25% ao ano, a sua taxa de redesconto (aplicada nos empréstimos concedidos a bancos). "Pela força das atitudes, podemos concluir, então, que há muito mais motivos para preocupação com a desaceleração da economia do que imaginávamos", disse John Silvia, economista-chefe do banco Wachovia.
O Fed agiu para evitar que a crise no setor de hipotecas "subprime" (de alto risco) contaminasse outros segmentos e provocasse uma recessão ou forte desaceleração.
"A piora das condições de crédito tem potencial para intensificar a correção no mercado imobiliário e refrear o crescimento em termos mais gerais", afirmou o comitê de política monetária do Fed em nota sobre a decisão, unânime.
"A ação de hoje [ontem] pretende se antecipar a alguns dos efeitos negativos que poderiam surgir das dificuldades no mercado financeiro e garantir um crescimento moderado ao longo do tempo", diz a nota. Para economistas, o relatório que apontou, há duas semanas, o fechamento de 4.000 vagas no país em agosto serviu de alerta para a decisão de ontem, o primeiro grande teste do Fed sob a direção de Ben Bernanke, que assumiu em janeiro de 2006.
A reação ao corte foi de euforia. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiu 2,51%. A Bovespa ganhou 4,28%.
A redução dos juros foi a mais recente de uma série de medidas adotadas pelo BC americano. No dia 17 de agosto, o Fed já havia cortado a taxa de redesconto em 0,5 ponto. Até ontem, injetou aproximadamente US$ 40 bilhões no sistema a fim de evitar o colapso de bancos com situação complicada pelo aumento da inadimplência.
Além do efeito psicológico de reforçar a confiança do mercado ao injetar liquidez no sistema, o Fed espera aliviar a situação de quem está afundado em dívidas. "Pagando juros menores nos financiamentos imobiliários e em outros tipos de empréstimo, vai sobrar dinheiro no bolso para os consumidores gastarem", frisa Silvia.
No varejo, o Bank of America apressou-se em responder, cortando em 0,5 ponto, para 7,75% ao ano, a sua taxa principal.
Mas, apesar da grandeza, o corte de ontem pode não ser suficiente para dar um fim às turbulências. Analistas dizem que só após os próximos balanços dos bancos se conhecerão melhor os estragos da crise.
O Fed ainda tem mais duas reuniões neste ano para reavaliar os juros, e o mercado segue atento a indicadores para balizar as suas expectativas.
Amanhã, saem o índice de preços ao consumidor e o relatório sobre início de construção de imóveis relativos a agosto.
Logo cedo, ontem, saíram os números da inflação ao produtor no mês passado: queda de 1,4%, refletindo o desaquecimento da economia e, conseqüentemente, dos preços.
Mas o movimento agressivo do Fed quanto aos juros não significa que a possibilidade de uma disparada dos preços tenha deixado de assustar a autoridade monetária. "As leituras do núcleo [da inflação] melhoraram, mas o comitê julga que algum risco de inflação permanece", frisou o documento do Fed, deixando assim alguma incerteza sobre os próximos passos que dará.


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