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EUA cortam juros em meio ponto, e Bolsas disparam
Fed diz que agiu para evitar que crise imobiliária contagie crescimento do país
Medida do BC dos EUA deve aliviar situação de bancos e mutuários que passam por dificuldades; Bovespa sobe 4,75%, e Bolsa de NY, 2,5%
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Em uma decisão que surpreendeu e animou os mercados, o Fed (Federal Reserve, BC
dos EUA) anunciou um corte
de 0,5 ponto percentual na sua
taxa básica de juros, que passou
a 4,75% ao ano, após 15 meses
em 5,25%. Essa redução, a primeira desde junho de 2003, foi
classificada como ousada pelos
analistas, que esperavam diminuição de 0,25 ponto.
O Fed também cortou em 0,5
ponto, para 5,25% ao ano, a sua
taxa de redesconto (aplicada
nos empréstimos concedidos a
bancos). "Pela força das atitudes, podemos concluir, então,
que há muito mais motivos para preocupação com a desaceleração da economia do que imaginávamos", disse John Silvia,
economista-chefe do banco
Wachovia.
O Fed agiu para evitar que a
crise no setor de hipotecas
"subprime" (de alto risco) contaminasse outros segmentos e
provocasse uma recessão ou
forte desaceleração.
"A piora das condições de
crédito tem potencial para intensificar a correção no mercado imobiliário e refrear o crescimento em termos mais gerais", afirmou o comitê de política monetária do Fed em nota
sobre a decisão, unânime.
"A ação de hoje [ontem] pretende se antecipar a alguns dos
efeitos negativos que poderiam
surgir das dificuldades no mercado financeiro e garantir um
crescimento moderado ao longo do tempo", diz a nota. Para
economistas, o relatório que
apontou, há duas semanas, o fechamento de 4.000 vagas no
país em agosto serviu de alerta
para a decisão de ontem, o primeiro grande teste do Fed sob a
direção de Ben Bernanke, que
assumiu em janeiro de 2006.
A reação ao corte foi de euforia. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiu 2,51%. A
Bovespa ganhou 4,28%.
A redução dos juros foi a mais
recente de uma série de medidas adotadas pelo BC americano. No dia 17 de agosto, o Fed já
havia cortado a taxa de redesconto em 0,5 ponto. Até ontem,
injetou aproximadamente US$
40 bilhões no sistema a fim de
evitar o colapso de bancos com
situação complicada pelo aumento da inadimplência.
Além do efeito psicológico de
reforçar a confiança do mercado ao injetar liquidez no sistema, o Fed espera aliviar a situação de quem está afundado em
dívidas. "Pagando juros menores nos financiamentos imobiliários e em outros tipos de empréstimo, vai sobrar dinheiro
no bolso para os consumidores
gastarem", frisa Silvia.
No varejo, o Bank of America
apressou-se em responder, cortando em 0,5 ponto, para 7,75%
ao ano, a sua taxa principal.
Mas, apesar da grandeza, o
corte de ontem pode não ser
suficiente para dar um fim às
turbulências. Analistas dizem
que só após os próximos balanços dos bancos se conhecerão
melhor os estragos da crise.
O Fed ainda tem mais duas
reuniões neste ano para reavaliar os juros, e o mercado segue
atento a indicadores para balizar as suas expectativas.
Amanhã, saem o índice de
preços ao consumidor e o relatório sobre início de construção
de imóveis relativos a agosto.
Logo cedo, ontem, saíram os
números da inflação ao produtor no mês passado: queda de
1,4%, refletindo o desaquecimento da economia e, conseqüentemente, dos preços.
Mas o movimento agressivo
do Fed quanto aos juros não
significa que a possibilidade de
uma disparada dos preços tenha deixado de assustar a autoridade monetária. "As leituras
do núcleo [da inflação] melhoraram, mas o comitê julga que
algum risco de inflação permanece", frisou o documento do
Fed, deixando assim alguma incerteza sobre os próximos passos que dará.
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