São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Para Delfim, EUA "premiam" atuação de risco nos mercados

DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O ex-ministro Antonio Delfim Netto disse que a decisão do Federal Reserve de reduzir as taxas de juros terá efeito benéfico, aumentando a liquidez e tranqüilizando os mercados, mas, por outro lado, consagra o chamado "moral hazard" (risco moral, em inglês), termo usado para designar comportamento arriscado por parte de investidores e países devedores com base num excesso de confiança nos bancos centrais.
"[A medida] certamente melhora a situação. Agora, consagra, na verdade, tudo aquilo que eles combatiam, que é o "moral hazard". Vai ficar claro que eles têm uma grande preocupação com os especuladores", disse.
Segundo o economista, o corte nos juros americanos não deve provocar impacto no mercado brasileiro, mas certamente aumentará o fluxo de capitais em conseqüência de a diferença entre as taxas de juros dos dois países ficar agora ainda maior: 11,25% ao ano no Brasil e 4,75% nos Estados Unidos.
"O Brasil é o último peru disponível, fora o do dia de Ação de Graças" disse.
Sobre como os mercados poderiam interpretar o corte maior do juro, que superou as expectativas, o ex-ministro comentou, em referência à dimensão da crise financeira: "Isso sinaliza para o mercado o seguinte: que eles sabem muito mais do que nós sabemos".
Delfim Netto ministrou palestra no 4º Fórum de Economia, promovido pela FGV (Fundação Getulio Vargas), em São Paulo, e defendeu a tese de que a chave para o crescimento da economia brasileira está no desenvolvimento da indústria de manufaturados sem que haja desequilíbrio nas contas correntes. Delfim destacou a retração da participação brasileira na exportação mundial de manufaturados, atualmente em torno de 2%.
Segundo ele, olhando para crises anteriores na economia, como a de 2002, a impressão que se tem hoje é que o país está "nadando em recursos". "E estamos", disse. "Mas não há nenhuma garantia de que esse modelo, que abandona o desenvolvimento industrial, vá continuar propiciando condições para continuarmos a crescer."


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