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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Mais um teco na turma da bufunfa
A combinação juro alto e câmbio valorizado é a receita
infalível para manter o Brasil
crescendo abaixo do potencial
A Fernando Gasparian
In memoriam
O DEBATE econômico na campanha presidencial, mesmo
no segundo turno, tem sido
bastante rarefeito. Os gastos públicos acabaram assumindo a posição
de destaque. Apareceram até defensores entusiasmados de uma redução radical e imediata das despesas
correntes não-financeiras.
O destaque deveria ser outro: os
erros clamorosos do Banco Central
na condução da política de juros e
câmbio. A combinação juros altos-câmbio valorizado é a receita infalível para manter o Brasil crescendo
abaixo do seu potencial.
Lamentavelmente, a poderosa
turma da bufunfa não colabora.
Banqueiros, rentistas e seus numerosos asseclas nos meios políticos e
na imprensa nem sempre permitem
que o tema juros-câmbio receba a
atenção e o tratamento merecidos.
São, como se sabe, os felizes beneficiários da política de juros do Banco
Central. É o Bolsa Família dos ricos.
Muitos analistas insistem em condicionar a redução das taxas de juro
ao prévio equacionamento dos problemas fiscais do governo. Trata-se
de uma inversão. O déficit público
contribui para o nível da taxa de juro, mas a relação de causalidade é tênue e difícil de captar com precisão.
Já a relação inversa, da taxa de juro
para o déficit, é clara e cristalina, podendo ser mensurada com relativa
facilidade.
Graças à overdose aplicada pelo
Banco Central, o custo da dívida pública continua nas alturas. O setor
público como um todo paga juros
equivalentes a nada menos que 8%
do PIB.
Repare, leitor, que, apesar das despesas financeiras, a situação das
contas públicas está longe de ser calamitosa. Há diversos pontos de fragilidade, mas não existe crise fiscal.
O superávit primário tem sido sempre superior a 4% do PIB nos anos
recentes. O déficit público total (incluindo juros) alcança atualmente
3,5% do PIB. Poderia ser menor,
mas não é nada de excepcional em
termos do que se vê no resto do
mundo. Nos EUA, o déficit do governo geral será de 3,1% do PIB em
2006, segundo projeção do FMI. Na
Alemanha, de 2,9%; na França, de
2,7%; na Itália, de 4%; no Reino Unido, de 3,2%; no Japão, de 5,2%. O
único país do Grupo dos 7 que apresentará superávit nas contas do governo geral é o Canadá (de 1,1% do
PIB).
A dívida pública brasileira também não é excepcionalmente alta
para padrões internacionais. Em
termos líquidos, ela está estabilizada, flutuando entre 50% e 52% do
PIB desde o final de 2004. Isso depois de ter aumentado rapidamente
no governo FHC e no primeiro ano
do governo Lula, quando chegou a
57% do PIB.
O que é, sim, claramente fora do
comum é o nível das taxas de juro
praticadas no Brasil. A começar pela
taxa básica fixada pelo Banco Central. Apesar da queda da Selic nos últimos meses, a taxa real brasileira
ainda é a maior do mundo. A brasileira é superior a 9%; a média internacional dos principais países desenvolvidos e emergentes é 1,9%, segundo levantamento da UpTrend
Consultoria.
Vamos sonhar um pouco. Imaginemos, por um instante, uma diminuição das taxas básicas de juro para
níveis mais próximos aos internacionais, digamos, uma Selic nominal
da ordem de 7% a 8%, patamar que
poderia ser alcançado acelerando o
ritmo de diminuição dos juros ao
longo dos próximos meses. Isso traria enorme alívio para as contas públicas. De duas maneiras. Diretamente, por diminuir o custo médio
da dívida governamental. Indiretamente, por provocar aceleração do
crescimento da economia com benefícios para as contas públicas do
lado da receita (maior arrecadação
sem aumento de impostos) e do lado
dos gastos (diminuição das despesas
com seguro-desemprego e outros
gastos de caráter cíclico).
A turma da bufunfa, tradicional
defensora do ajustamento das contas públicas, teria motivos de sobra
para apoiar essa economia de despesas. Mas já sabemos. Não o fará
nunca.
Como diz o deputado Delfim Neto, "o bolso é a parte mais sensível do
corpo humano".
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 51, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional:
Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
pnbjr@attglobal.net
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