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Crise domina cúpula entre AL, Espanha e Portugal
Escassez de crédito passou a ser a maior preocupação em encontro ibero-americano
Enrique Iglesias, secretário-geral, diz que estiagem de crédito pode ser "letal" para os países da comunidade; reunião começa no dia 28
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O tema da Cúpula Iberoamericana que começa no dia 28 em
El Salvador deveria ser "Juventude e Desenvolvimento". Mas
o secretário-geral da Comunidade Ibero-Americana, o uruguaio Enrique Iglesias, avisa
que os líderes presentes devem
se concentrar em discutir "a estiagem do crédito, que pode ser
letal para os nossos países".
Iglesias tem experiência suficiente para saber o que diz: já
dirigiu a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina,
braço da ONU), foi presidente
do BID (Banco Interamericano
de Desenvolvimento), chanceler e também banqueiro central
no Uruguai.
Foi e continua sendo testemunha direta e ativa de todas
as crises pelas quais passou a
região nos últimos 30 anos.
Do alto dessa experiência, recomenda que os líderes regionais, dos setores público e privado, "façam todos os esforços
para manter o nível de crédito".
A preocupação de Iglesias vai
no rumo certo, pelo menos no
que diz respeito ao Brasil: o
grande problema da economia
brasileira no momento é exatamente o crédito, a ponto de o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ter ameaçado recolher os
compulsórios dos bancos que o
governo havia liberado para irrigar a economia -o que não
aconteceu até agora.
Lula disse, na segunda-feira,
que irá a El Salvador, embora
inicialmente pensasse em não
comparecer. Com isso, serão 21
os países representados por
seus máximos governantes. Só
o uruguaio Tabaré Vázquez já
avisou que não poderá ir.
Essa será, portanto, a primeira oportunidade para que Lula
exponha a seus pares da região
e também de Espanha e Portugal, os países europeus que fazem parte da Comunidade, as
suas idéias para aperfeiçoar a
governança global.
Iglesias acha que será fácil
trazer Espanha e Portugal para
o debate, porque os seus bancos
estão fortemente envolvidos na
América Latina e a cúpula se dá
em "um momento complicado
para todo o mundo e complicando-se para a América Latina".
As complicações que esse experiente funcionário internacional vê na região, além do bloqueio do crédito:
1 - A queda dos preços de petróleo e alimentos, "que é veneno para alguns e vitamina para
outros". Veneno, no caso do petróleo, para os países produtores, como Venezuela e Equador, e, no caso dos alimentos,
para os grandes exportadores
(Brasil, por exemplo).
Vitamina para quem depende da importação de alimentos,
cujo encarecimento neste ano
aumentou em 75 milhões o número de pessoas que passam
fome no mundo, elevando-o a
923 milhões, de acordo com relatório divulgado pela FAO (o
braço da ONU para Agricultura
e Alimentação).
2 - A queda nas remessas dos
emigrantes latino-americanos,
que, em países como Honduras,
chegam a representar 25% da
economia.
3 - Diminuição no número de
turistas dos países ricos.
4 - Cairá o apetite por novos
investimentos.
Mas Iglesias vê também um
"estoque importante de ativos"
na América Latina para enfrentar as dificuldades. Cita a estabilidade macroeconômica, o fato de o sistema financeiro ser
mais sólido e o câmbio flexível.
Mas avisa o óbvio: "Com todo
esse estoque, fazemos parte do
planeta do mesmo jeito".
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