São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Crise domina cúpula entre AL, Espanha e Portugal

Escassez de crédito passou a ser a maior preocupação em encontro ibero-americano

Enrique Iglesias, secretário-geral, diz que estiagem de crédito pode ser "letal" para os países da comunidade; reunião começa no dia 28

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O tema da Cúpula Iberoamericana que começa no dia 28 em El Salvador deveria ser "Juventude e Desenvolvimento". Mas o secretário-geral da Comunidade Ibero-Americana, o uruguaio Enrique Iglesias, avisa que os líderes presentes devem se concentrar em discutir "a estiagem do crédito, que pode ser letal para os nossos países".
Iglesias tem experiência suficiente para saber o que diz: já dirigiu a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina, braço da ONU), foi presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), chanceler e também banqueiro central no Uruguai.
Foi e continua sendo testemunha direta e ativa de todas as crises pelas quais passou a região nos últimos 30 anos.
Do alto dessa experiência, recomenda que os líderes regionais, dos setores público e privado, "façam todos os esforços para manter o nível de crédito".
A preocupação de Iglesias vai no rumo certo, pelo menos no que diz respeito ao Brasil: o grande problema da economia brasileira no momento é exatamente o crédito, a ponto de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter ameaçado recolher os compulsórios dos bancos que o governo havia liberado para irrigar a economia -o que não aconteceu até agora.
Lula disse, na segunda-feira, que irá a El Salvador, embora inicialmente pensasse em não comparecer. Com isso, serão 21 os países representados por seus máximos governantes. Só o uruguaio Tabaré Vázquez já avisou que não poderá ir.
Essa será, portanto, a primeira oportunidade para que Lula exponha a seus pares da região e também de Espanha e Portugal, os países europeus que fazem parte da Comunidade, as suas idéias para aperfeiçoar a governança global.
Iglesias acha que será fácil trazer Espanha e Portugal para o debate, porque os seus bancos estão fortemente envolvidos na América Latina e a cúpula se dá em "um momento complicado para todo o mundo e complicando-se para a América Latina".
As complicações que esse experiente funcionário internacional vê na região, além do bloqueio do crédito:
1 - A queda dos preços de petróleo e alimentos, "que é veneno para alguns e vitamina para outros". Veneno, no caso do petróleo, para os países produtores, como Venezuela e Equador, e, no caso dos alimentos, para os grandes exportadores (Brasil, por exemplo).
Vitamina para quem depende da importação de alimentos, cujo encarecimento neste ano aumentou em 75 milhões o número de pessoas que passam fome no mundo, elevando-o a 923 milhões, de acordo com relatório divulgado pela FAO (o braço da ONU para Agricultura e Alimentação).
2 - A queda nas remessas dos emigrantes latino-americanos, que, em países como Honduras, chegam a representar 25% da economia.
3 - Diminuição no número de turistas dos países ricos.
4 - Cairá o apetite por novos investimentos.
Mas Iglesias vê também um "estoque importante de ativos" na América Latina para enfrentar as dificuldades. Cita a estabilidade macroeconômica, o fato de o sistema financeiro ser mais sólido e o câmbio flexível. Mas avisa o óbvio: "Com todo esse estoque, fazemos parte do planeta do mesmo jeito".


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