São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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Análise

Minério testa ambições diplomáticas de Lula

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A questão do urânio brasileiro pode tornar-se o real teste dos limites das ambições diplomáticas do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Como é sabido, o Itamaraty lulista prega uma independência estridente, visando acompanhar o crescimento da importância econômica do Brasil. Para críticos, a longa lista de trapalhadas e fracassos na empreitada supera a iniciativa, mas nunca houve um questionamento externo incisivo.
Isso pode mudar. Se há um assunto que é tratado seriamente no mundo, é proliferação nuclear. Ainda que Barack Obama pareça dar prioridade a quase tudo, seus movimentos no setor reforçam o que já fazia George W. Bush: incentivar o controle da produção de combustível que eventualmente possa ser utilizado em armas nucleares.
O medo é dividido em duas vertentes. A primeira é a da proliferação estatal. Desde que foi descoberto no começo da década que cientistas paquistaneses haviam permitido à Coreia do Norte fazer sua bomba e alimentaram países como o Irã e a Líbia com segredos atômicos, Washington teme que regimes que lhe são hostis virem potências nucleares.
O segundo flanco é o do terrorismo. É bem difícil montar uma bomba e ter os meios para jogá-la sobre alguém, mas há uma longa lista de mecanismos simples que precisam de um pouco de material físsil para criar uma confusão dos diabos: são as chamadas bombas sujas, que, se não destroem uma cidade, podem contaminá-la de forma devastadora.
Se o Brasil não preocupa ninguém no segundo item, seu alinhamento ideológico a regimes antiamericanos em nome da tal independência pode gerar uma situação conflituosa quando o que está na mesa é algo mais que um cargo em algum organismo internacional.
O país considera o controle da produção de urânio enriquecido, como defendem os EUA na forma de um banco regulado pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), uma ameaça à sua soberania. É seu direito, ainda mais quando possui reservas importantes de urânio e pretende dominar todo o ciclo de enriquecimento em escala industrial. Mas, ao fazer isso e ao mesmo tempo abraçar o regime do iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o Brasil passa uma mensagem dúbia sobre suas intenções.
Não ajuda muito seu Plano de Defesa quase reclamar da limitação constitucional à bomba e de tempos em tempos alguma autoridade dizer que temos direito ao armamento nuclear. No jogo bruto da diplomacia nuclear, palavras são tão importantes quanto ações.


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