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VITÓRIA ORTODOXA
Crítico da política econômica do governo, presidente do banco de fomento deixa o cargo; vaga para o Planejamento fica em aberto
Lessa é demitido do BNDES; Mantega assume
Alan Marques/Folha Imagem
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A presidência do banco de fomento será exercida pelo até ontem ministro Guido Mantega |
KENNEDY ALENCAR
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva demitiu ontem o presidente
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico Social), Carlos Lessa, e nomeou para
o seu lugar o ministro do Planejamento, Guido Mantega. Interinamente, assume a pasta o secretário-executivo Nelson Machado.
O futuro titular do Planejamento não estava escolhido até ontem.
Há grande chance de o cargo ser
usado numa composição política
para acalmar a base de sustentação de governo no Congresso.
Lessa, 68, foi demitido pelo desgaste de conflitos que começaram
já no início do governo. Esses embates, ora mais acirrados, ora
mais amenos, foram travados
com os ministros Antonio Palocci
Filho (Fazenda) e Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento) e também com seu alvo predileto, o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles.
Desde o final de outubro, Lula
dizia a interlocutores que havia
perdido as condições políticas de
manter Lessa, representante da
chamada ala "desenvolvimentista". Essa ala diverge da política
econômica de Palocci desde o começo do governo. A ala de Palocci
é chamada de "monetarista", por
priorizar, na visão dos "desenvolvimentistas", um rigor fiscal e
monetário que atrapalharia o
crescimento econômico.
A gota d'água foi a entrevista de
Lessa à Folha, publicada na última sexta, em que o então presidente do BNDES chama a gestão
de Meirelles de um "pesadelo".
Mantega, 55, foi escolhido para
tentar pôr fim a esses conflitos.
Indagado, por exemplo, se se reportaria a Furlan ou a Lula, disse:
"Essa é uma questão semântica,
vamos trabalhar em equipe".
Antigo auxiliar de Lula, Mantega é representante do pensamento econômico tradicional do PT.
No Planejamento, porém, não
criou problemas para Palocci.
Em 2003, logo no início da gestão Lula, Mantega ensaiou se alinhar de forma mais agressiva aos
"desenvolvimentistas", torpedeando Palocci. Mas foi rapidamente enquadrado por Lula. No
BNDES, deverá cumprir o papel
de não criar problemas.
A Folha apurou que Mantega
foi convidado por Lula na última
terça-feira. Na quarta, um auxiliar
do presidente chamou Lessa para
uma audiência ontem no Palácio
do Planalto. A conversa começou
às 12h45 e foi rápida. Lessa não se
manifestou após a demissão.
Depois de elogiar Lessa e agradecer sua colaboração, Lula disse
que os conflitos entre ele e a área
econômica chegaram a um ponto
que tornava insustentável a sua
permanência no BNDES. O ministro Furlan, por exemplo, chegou a dar a entender que sairia do
governo, caso Lessa sobrevivesse
mais uma vez no cargo. O ex-presidente do BNDES resistiu a várias articulações para derrubá-lo,
principalmente pelo poder de fogo de seus principais padrinhos: o
líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e os economistas Celso Furtado e Maria
da Conceição Tavares.
Entre os motivos para decidir
demitir Lessa ontem, estava um
movimento de aliados do ex-presidente do BNDES para segurá-lo
no cargo. O vice-presidente da
República, José Alencar, lhe fez
rasgados elogios. E um grupo de
intelectuais entregaria ainda ontem um manifesto pró-Lessa.
Lula avaliou que era melhor agir
rápido, sob pena de a pressão
crescer e a demissão ser mais custosa. O presidente gosta de Lessa e
confessou a auxiliares que foi "difícil" tirá-lo do posto.
Em relação a Lessa, a quem classificou de "economista muito importante", Mantega disse que ele
foi responsável por corrigir um
"desvio de rota" do banco. O novo presidente do BNDES afirmou
ainda que pretenderá "agilizar" a
liberação de empréstimos do
BNDES. Lessa era criticado por
suposta morosidade nessa área.
Apesar de perder o cargo de ministro, já que o BNDES é subordinado ao Desenvolvimento, Mantega disse que se sentia promovido. "Saio para um cargo que tem
R$ 60 bilhões para liberar."
Ao longo do dia de ontem, houve muitos rumores sobre o futuro
ministro do Planejamento. Mercadante negou que vá para o cargo. Na bolsa de apostas, constavam os deputados federais Paulo
Bernardo (PT-PR) e Jorge Bittar
(PT-RJ). Nessa hipótese, um ministro petista seria demitido para
dar lugar a outro aliado.
O empresário e auditor Antoninho Marmo Trevisan, que tomou
café da manhã com o ministro Palocci teria sido sondado para a posição, mas a teria recusado.
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