São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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VITÓRIA ORTODOXA

Novo presidente adota tom conciliador, mas deixa claro que não se sente subordinado a Furlan

Mantega indica mudança de estilo no comando do BNDES

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nas primeiras palavras como novo presidente do BNDES, Guido Mantega indicou uma mudança de estilo no comando do maior orçamento do governo, recusou rótulo de economista heterodoxo, fez discurso conciliador com os demais membros da equipe econômica, mas deixou claro que não se sente subordinado ao colega Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), pasta ao qual o banco está oficialmente vinculado.
"Essa é uma questão semântica, vamos trabalhar em equipe, vou continuar fazendo parte da Câmara de Política Econômica e me reportando ao presidente. A relação hierárquica é um trabalho em equipe", esquivou-se na entrevista, logo depois da terceira conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana para acertar a troca de cadeira. O convite para substituir Carlos Lessa foi feito em conversa na terça-feira de manhã.
Os desencontros entre Lessa e Furlan foram uma das fontes de desgaste do ex-presidente do BNDES no cargo. "Estamos em perfeita sintonia", registrou Mantega.
Em meio a elogios a Carlos Lessa, a quem chamou de "economista importante", responsável por corrigir um "desvio de rota" do BNDES, Guido Mantega deixou claro que o comando do banco passará por uma mudança de estilo.
Ele pretende falar menos e "agilizar" a liberação de empréstimos do BNDES. Mantega não deixou claro se poderá encurtar o prazo de análise dos projetos apresentados ao banco. "O banco tem de ter agilidade na liberação, já houve avanços, mas sempre é possível melhorar", disse.
No ano que vem, o banco terá R$ 60,8 bilhões para financiamentos. Parte desse dinheiro deverá ser destinada ao financiamento das PPPs (Parcerias Público-Privadas), segundo Guido Mantega, instrumento que o governo pretende ver aprovado ainda neste ano pelo Congresso para levar adiante projetos na área de infra-estrutura.
"O BNDES tinha perdido esse rumo [de banco de desenvolvimento], essa vocação, e o presidente Lessa recolocou nesse trilho. O BNDES não será apenas um banco financeiro, tocará projetos prioritários do governo e apoiará a política industrial", avaliou o novo presidente. A nomeação de Guido Mantega deve ser publicada na edição de hoje do "Diário Oficial" da União. A posse ainda não tem data marcada.
Na entrevista concedida no Palácio do Planalto, Guido Mantega anunciou a substituição de Darc Costa na vice-presidência do BNDES. "Será uma pessoa da minha inteira confiança", disse, sem confirmar se o novo vice-presidente será o economista Antonio Barros de Castro, recentemente levado para a assessoria especial do Ministério do Planejamento. Castro é nome confirmado na nova equipe do BNDES. O destino dos demais diretores do banco será definido a partir da semana que vem.
Visivelmente feliz com a ida para o BNDES, o ministro disse que não indicou nenhum substituto nas conversas que teve com Lula. No lugar de Mantega, responderá interinamente o atual secretário-executivo Nelson Machado.
A troca de cadeiras foi uma "promoção", de acordo com Mantega: "Saio para um cargo que tem R$ 60 bilhões para liberar, para mim é uma grande promoção. É muito mais confortável ter R$ 60 bilhões no bolso para liberar sem nenhum contingenciamento". Nos quase dois anos de mandato de Lula, ele foi um dos responsáveis pelo corte de gastos nos ministérios.


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