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VITÓRIA ORTODOXA
Novo presidente adota tom conciliador, mas deixa claro que não se sente subordinado a Furlan
Mantega indica mudança de estilo no comando do BNDES
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nas primeiras palavras como
novo presidente do BNDES, Guido Mantega indicou uma mudança de estilo no comando do maior
orçamento do governo, recusou
rótulo de economista heterodoxo,
fez discurso conciliador com os
demais membros da equipe econômica, mas deixou claro que não
se sente subordinado ao colega
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), pasta ao qual o banco
está oficialmente vinculado.
"Essa é uma questão semântica,
vamos trabalhar em equipe, vou
continuar fazendo parte da Câmara de Política Econômica e me
reportando ao presidente. A relação hierárquica é um trabalho em
equipe", esquivou-se na entrevista, logo depois da terceira conversa com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva na semana para
acertar a troca de cadeira. O convite para substituir Carlos Lessa
foi feito em conversa na terça-feira de manhã.
Os desencontros entre Lessa e
Furlan foram uma das fontes de
desgaste do ex-presidente do
BNDES no cargo. "Estamos em
perfeita sintonia", registrou Mantega.
Em meio a elogios a Carlos Lessa, a quem chamou de "economista importante", responsável
por corrigir um "desvio de rota"
do BNDES, Guido Mantega deixou claro que o comando do banco passará por uma mudança de
estilo.
Ele pretende falar menos e "agilizar" a liberação de empréstimos
do BNDES. Mantega não deixou
claro se poderá encurtar o prazo
de análise dos projetos apresentados ao banco. "O banco tem de ter
agilidade na liberação, já houve
avanços, mas sempre é possível
melhorar", disse.
No ano que vem, o banco terá
R$ 60,8 bilhões para financiamentos. Parte desse dinheiro deverá
ser destinada ao financiamento
das PPPs (Parcerias Público-Privadas), segundo Guido Mantega,
instrumento que o governo pretende ver aprovado ainda neste
ano pelo Congresso para levar
adiante projetos na área de infra-estrutura.
"O BNDES tinha perdido esse
rumo [de banco de desenvolvimento], essa vocação, e o presidente Lessa recolocou nesse trilho. O BNDES não será apenas
um banco financeiro, tocará projetos prioritários do governo e
apoiará a política industrial", avaliou o novo presidente. A nomeação de Guido Mantega deve ser
publicada na edição de hoje do
"Diário Oficial" da União. A posse
ainda não tem data marcada.
Na entrevista concedida no Palácio do Planalto, Guido Mantega
anunciou a substituição de Darc
Costa na vice-presidência do
BNDES. "Será uma pessoa da minha inteira confiança", disse, sem
confirmar se o novo vice-presidente será o economista Antonio
Barros de Castro, recentemente
levado para a assessoria especial
do Ministério do Planejamento.
Castro é nome confirmado na nova equipe do BNDES. O destino
dos demais diretores do banco será definido a partir da semana que
vem.
Visivelmente feliz com a ida para o BNDES, o ministro disse que
não indicou nenhum substituto
nas conversas que teve com Lula.
No lugar de Mantega, responderá
interinamente o atual secretário-executivo Nelson Machado.
A troca de cadeiras foi uma
"promoção", de acordo com
Mantega: "Saio para um cargo
que tem R$ 60 bilhões para liberar, para mim é uma grande promoção. É muito mais confortável
ter R$ 60 bilhões no bolso para liberar sem nenhum contingenciamento". Nos quase dois anos de
mandato de Lula, ele foi um dos
responsáveis pelo corte de gastos
nos ministérios.
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