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Café italiano também aposta no Brasil
Lavazza, uma das principais empresas do ramo no mundo, acerta detalhes para instalar fábrica e rede de cafeterias no país
Foco da companhia será
o mercado "fora de casa';
diretor de marketing vê
preços baixos e necessidade de agregar valor ao produto
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A TURIM
A Lavazza, a principal processadora de café da Itália e
uma das maiores do mundo,
sempre esteve próxima do Brasil, o maior fornecedor do grão.
A partir de agora, a empresa estará ainda mais perto. Acerta
detalhes finais para a construção de uma fábrica no país, a
primeira fora da Itália nos 111
anos da empresa, e deve trazer
a "Expression by Lavazza", sua
nova rede de cafeterias.
As informações são de Giuseppe Lavazza, diretor de marketing. Ele aposta no crescimento do mercado de cafeterias no país, mas diz que os brasileiros têm de assumir mais os
negócios e evitar que isso seja
feito só pelos que vêm de fora.
O Brasil precisa aprender,
ainda, a valorizar mais o café,
que tem preços muito baixos,
segundo ele. A Lavazza não
pretende participar da venda
de café para o consumo domiciliar. Os preços são baixos, devido à competitividade, e as posições já estão ocupadas, diz.
Giuseppe, que trocaria a Itália pelo Brasil, diz que o país terá uma cara bem melhor em
uma década. Sobre o futuro do
consumo de café no país, diz
que é promissor. Acredita que a
Starbucks, com caráter eminentemente norte-americano,
poderá ter sucesso no país, mas
dentro de alguns limites, e não
em larga escala, como nos Estados Unidos.
Leia a seguir trechos de entrevista com Giuseppe Lavazza,
concedida à Folha.
FOLHA - O mercado brasileiro tem
atraído redes de cafeterias como
Starbucks, Illycaffè e Nespresso. A
Lavazza tem algum plano para o
país nesse setor?
GIUSEPPE LAVAZZA - Não excluímos essa possibilidade. A realidade brasileira é muito complexa, e o consumo de café está
mudando. A população aumenta o consumo de expresso nas
cafeterias. Para uma empresa
como a nossa, é muito importante observar esse mercado de
consumo fora da Itália.
FOLHA - O foco da Lavazza no Brasil
é o mercado "fora de casa"?
LAVAZZA - Sim, nosso foco será
esse, o "fora de casa". O mercado doméstico é um pouco pobre. Não tem valor e, além disso, as posições já estão todas
ocupadas. Já o mercado "fora
de casa" pode ser interessante.
FOLHA - Portanto a montagem de
cafeterias com a marca Lavazza no
Brasil pode ajudar a empresa a
"mostrar a cara"?
LAVAZZA - É uma oportunidade
muito importante para nós. Já
temos uma cadeia de franquias
na Espanha, em Portugal, na
Itália e nos Estados Unidos. Estamos também no Oriente Médio e chegando à Ásia.
FOLHA - O que as cafeterias da Lavazza podem oferecer?
LAVAZZA - Além de café, receitas de café e comida, um ambiente muito particular. A oferta dessas cafeterias leva em
consideração as particularidades de cada país, apesar de todas terem o mesmo desenho.
FOLHA - Como está o consumo de
café atualmente?
LAVAZZA - Na Itália, está estável
quando se fala de consumo em
casa. Em alguns países europeus, como a França e a Alemanha, está em queda.
FOLHA - Por quê?
LAVAZZA - Menos renda. Na
Europa, há uma fase conjuntural negativa, que está levando a
esse consumo menor. O aumento de preços também é responsável.
FOLHA - E o consumo "fora de casa", vai bem?
LAVAZZA - Está aumentando.
Em alguns mercados, vão muito bem o consumo de expresso
e todos os produtos ligados a
ele, como o capuccino, produtos com leite etc.
FOLHA - Quais os novos mercados
para o café?
LAVAZZA - Índia, China e todos
os mercados que consomem
chá. Eles estão iniciando agora
o consumo de café.
FOLHA - Essa mudança do chá para
o café é fácil?
LAVAZZA - É difícil, muito difícil. Nesses países, há uma tendência de consumo de produtos doces. O café é amargo. Por
isso, eles iniciam o consumo do
café com leite.
FOLHA - Quais são os projetos da
Lavazza para o Brasil?
LAVAZZA - Já abrimos uma subsidiária. Estamos procurando
entender muitos temas específicos do país e fazendo contatos
comerciais com empresas locais e, por ora, desenhando o
que será a nossa casa no Brasil.
FOLHA - Quando a empresa inicia a
construção da fábrica no Brasil?
LAVAZZA - O mais rápido possível. Não depende só de nós, mas
estamos próximos de começar
as coisas mais importantes.
FOLHA - Qual sua leitura do consumo brasileiro?
LAVAZZA - O café agrada muito
aos brasileiros, e o consumo está crescendo. Mas acho que
mais importante do que ter
crescimento forte é ter um produto com maior valor.
FOLHA - E como agregar esse valor?
LAVAZZA - O café e a marca devem transferir, aos poucos, valor para o produto para tirá-lo
da situação de commodity. É
preciso agregar valor ao café
com valores de imagem. Mas é
preciso evitar que isso seja feito
apenas pelos que vêm de fora
do país.
FOLHA - Qual será o estilo Lavazza
no Brasil?
LAVAZZA - O valor será dado pelo "blend". Fazer café no Brasil
nos dá uma vantagem. Faltam
marcas que dão valor ao produto no Brasil. As que servem ao
mercado doméstico adotam a
política de preços muito competitivos, onde é difícil o aumento de valor.
FOLHA - Como fazer isso?
LAVAZZA - É preciso inverter o
processo no Brasil. O consumo
"fora de casa" pode ajudar. Não
se compra só um café, mas um
serviço, um ambiente e a vontade de estar com amigos. Enfim,
compra-se um valor que não
está na xícara, mas ao lado dela.
FOLHA - Como o sr. vê a chegada da
rede norte-americana Starbucks ao
Brasil?
LAVAZZA - O modelo da Starbucks é profundamente americano. Nasceu ali, cresceu ali e se
desenvolveu com uma lógica
que é própria do mercado norte-americano: grandes dimensões, o leite, o "take away" [café
para viagem], um ambiente em
que as pessoas podem estar.
FOLHA - Isso funciona no Brasil?
LAVAZZA - É preciso ver se todas essas coisas vão funcionar
também para os brasileiros,
que são diferentes. O sucesso
deve ser visto com base no que
se quer obter. Não creio que a
Starbucks pense em fazer no
Brasil o que fez nos EUA. Provavelmente se contentará com
uma presença importante, mas
menor. Mas, para muitos consumidores, será interessante
"provar" essa experiência. Starbucks é uma moda neste momento, e seguramente há ótimas chances de obter sucesso,
mas o mercado é muito grande
é há lugar para todos.
FOLHA - Inclusive para brasileiros?
LAVAZZA - Sim, aos poucos vai-se estruturar uma oferta com
diversos participantes e em diversas formas. Temos o exemplo de belas experiências em
São Paulo. Posso citar o Santo
Grão. É preciso coragem porque nas vendas vence o que
chega primeiro. É uma cafeteria de alto nível.
FOLHA - A Lavazza está aumentando cada vez mais a produção de cápsulas de café. Por quê?
LAVAZZA - O futuro da Lavazza
é sempre mais cápsulas. É um
café de grande qualidade, mas
simples. Por esse sistema, levamos nossa qualidade até os
consumidores mais distantes.
O jornalista MAURO ZAFALON
viajou a convite da Lavazza.
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