São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2008

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Socorro a montadoras emperra nos EUA

Setor pressiona congressistas, mas aprovação de pacote de ajuda pelo Congresso poderá ficar para sessão extra em dezembro

Para CEO da GM, se socorro de US$ 25 bilhões para o setor não sair, 3 milhões de trabalhadores americanos vão perder seus empregos

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Apesar de seus depoimentos apocalípticos, os dirigentes das três principais montadoras americanas encontraram resistência no Congresso em seu primeiro dia de romaria por uma ajuda financeira de US$ 25 bilhões para o setor.
Relatos de políticos de ambos os partidos majoritários dão conta de que a aprovação do pacote pode ficar para sessão extraordinária em dezembro, se sair. Se a ajuda não for aprovada, advertiu Rick Wagoner, CEO da GM, 3 milhões de empregos serão perdidos e o governo dos EUA deixará de arrecadar US$ 156 bilhões.
"Não estamos falando só de Detroit, mas de salvar a economia dos Estados Unidos de um colapso catastrófico", disse Wagoner, em depoimento ontem no Senado. "O total da destruição econômica excederá muito o auxílio do governo de que a nossa indústria precisa."
Os democratas apóiam a inclusão da ajuda num novo pacote de estímulo fiscal de mais de US$ 100 bilhões, sendo discutido agora, ou a utilização para esse fim de parte dos US$ 700 bilhões já aprovados, desde que o empréstimo traga embutidas salvaguardas como restrição a bônus de executivos de empresas auxiliadas.
Já republicanos são contra qualquer tipo de ajuda e acham que uma série de concordatas pode ajudar o setor, como ocorreu com a indústria aérea nos anos 90. Houve críticas mesmo entre os democratas. GM, Ford e Chrysler "buscam tratamento para ferimentos que, em larga medida, eles próprias se submeteram", disse o senador democrata Christopher Dodd.
O setor automotivo dos EUA é o mais recente da chamada "economia real" a sofrer a contaminação da crise financeira. No caso de Detroit, à queda recorde no consumo somou-se a falta de crédito na praça e uma indústria que críticos chamam de obsoleta, beneficiada por protecionismo e com excesso de salvaguarda trabalhistas.
Ao mesmo tempo, nos cálculos da governadora do Michigan, onde estão as sedes da GM, da Ford e da Chrysler, um em cada dez empregos norte-americanos vem da indústria ou está conectado a ela. Deixar as empresas quebrar aumentaria ainda mais a taxa de desemprego do país, hoje em 6,9%. É por esse motivo, diz o presidente eleito, Barack Obama, que um pacote de resgate é necessário.
Pela manhã, em depoimento na Câmara dos Representantes, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, voltou a negar o uso do pacote de US$ 700 bilhões para ajudar o setor. A verba "não é a panacéia para todas as nossas dificuldades econômicas", disse.
O secretário afirmou ser a favor de ajuda do Congresso para o setor, mas diz que ela deveria vir via Departamento de Energia. A posição foi confirmada logo depois pela porta-voz da Casa Branca. "Não achamos que os contribuintes devam ser convocados a jogar dinheiro numa companhia que não consegue provar que tem um plano de longo prazo para o sucesso", disse Dana Perino.
A administração Bush sustenta que já há dinheiro para as montadoras num pacote de US$ 25 bilhões aprovado para que modernizem sua linha de montagem no tocante a consumo de combustível. Para a Casa Branca, o pacote pode ser emendado para que o dinheiro seja usado para outros fins.


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