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Lula e Cristina ensaiam trégua comercial
Após tensão gerada por barreiras, Brasil e Argentina acenam diminuir de 180 para 60 dias o prazo para licenças de importação
Representantes dos 2 países
vão se reunir a cada 45 dias
para monitorar restrições
comerciais, que geraram
mal-estar entre os governos
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de não conseguir um
acordo para acabar com as barreiras no comércio bilateral, o
governo brasileiro obteve a
promessa das autoridades argentinas de que os prazos legais
para a concessão de licenças
não automáticas de importação
serão respeitados. Para monitorar a questão, membros de
ambos os governos passarão a
se reunir a cada 45 dias.
A OMC (Organização Mundial do Comércio) determina
um máximo de 60 dias para liberação das guias, mas o processo para alguns produtos tem
demorado até 180 dias, o que
elevou a tensão entre empresários dos dois países. A barreira
ajudou a derrubar em 37,8% os
embarques brasileiros para a
Argentina em 2009, enquanto
a retração total das vendas brasileiras ao exterior foi de 24,6%.
Após o encontro semestral entre os chefes de Estado dos dois
países, o presidente Lula pregou o fim do protecionismo nas
relações entre os maiores parceiros do Mercosul, mas ouviu
de Cristina Kirchner que a indústria argentina necessita de
uma dose de proteção.
"O caminho a seguir é o incremento das exportações argentinas, e não a diminuição
das exportações brasileiras. O
protecionismo não é solução,
apenas cria distorções difíceis
de resolver", disse Lula, destacando a importância de elevar
os investimentos nacionais no
país vizinho.
Cristina Kirchner, no entanto, respondeu que a diferença
entre os tamanhos das duas
economias torna necessários
mecanismos para equilibrar a
relação comercial.
"Somos uma sociedade, mas
é certo que existe um sócio
maior e um menor. E também é
certo que as exportações brasileiras para a Argentina contribuem para enxugar o deficit
que o Brasil tem com outros
países em matéria de comércio
de bens industriais", disse.
Segundo ela, enquanto o Brasil vive um longo e sustentável
período de industrialização, a
Argentina teve seu parque industrial devastado durante décadas e, portanto, os governos
devem usar a inteligência para
resolverem os problemas de setores específicos sem comprometerem a relação bilateral.
Diante da recusa argentina em
retirar as barreiras, o pedido
para que o Brasil avise com antecedência de 21 dias a adoção
de licenciamento não automático também não foi atendido.
Além da criação do grupo ministerial de trabalho para acelerar a resolução de contenciosos
comerciais e acompanhar os
trâmites burocráticos, os encontros entre os presidentes
passarão a ser realizados a cada
90 dias.
"É impossível discutir e resolver tudo em um encontro
tão curto, de quatro horas. Mas
há interesses tanto do Brasil
como da Argentina para resolver essas questões e certamente haverá espaço para discutir
isso", disse o ministro Miguel
Jorge (Desenvolvimento).
O presidente da Fiesp, Paulo
Skaf, avaliou que o verdadeiro
resultado do encontro dependerá das ações da Argentina.
"O presidente Lula censurou
o protecionismo, e eu escutei
isso como um bom recado."
A reunião também serviu para estreitar posições entre os
parceiros em discussões no
âmbito da OMC, no G20 e na
COP-15 (Convenção da ONU
sobre Mudança Climática).
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