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Brasil estuda retaliar os EUA em direitos autorais
Seria suspenso o pagamento sobre produtos americanos importados pelo Brasil
Governo brasileiro estuda a adoção inédita da chamada retaliação cruzada, voltada contra os direitos autorais; valor pode atingir US$ 3 bi
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A OMC (Organização Mundial do Comércio) reconheceu
que o governo norte-americano mantém programas de subsídios ilegais aos seus produtores de algodão, mesmo depois
de condenados pela própria
OMC. Divulgada ontem, a decisão abre caminho para o Brasil
retaliar os Estados Unidos em
cerca de US$ 3 bilhões.
Segundo apurou a Folha, os
ministérios do Desenvolvimento e das Relações Exteriores estudam nos bastidores a
adoção inédita da chamada retaliação cruzada, voltada contra os direitos autorais.
Isso significa, na prática, suspender o pagamento de direitos autorais de produtos ou
serviços norte-americanos importados pelo Brasil. Há hoje
uma tendência de utilizar o
instrumento para baratear
bens de capital e máquinas.
Em nota, o Itamaraty informou ontem que cálculos realizados anteriormente indicam
que o Brasil poderia retaliar os
Estados Unidos até um limite
de cerca de US$ 3 bilhões.
A retaliação cruzada serviria
para evitar novos prejuízos à
indústria nacional. Na retaliação clássica, o Brasil aplicaria
uma sobretaxa aos produtos de
algodão norte-americano, tornando-os menos competitivos
no mercado brasileiro.
Uma eventual retaliação cruzada brasileira será decidida na
próxima reunião da Camex
(Câmara de Comércio Exterior), prevista para a segunda
quinzena de fevereiro.
"As medidas norte-americanas questionadas pelo Brasil
permanecem, assim, incompatíveis com as disciplinas multilaterais de comércio", assinalou o Itamaraty em nota.
Pressão
No universo da OMC, Washington poderá recorrer da decisão, no prazo de 60 dias, ou
não. Fora da OMC, Brasil e
EUA podem negociar outra forma de compensação pelos subsídios concedidos aos produtores norte-americanos.
Geralmente, os países que
vencem as disputas comerciais
utilizam as decisões da OMC
como forma de pressionar em
outras negociações. No caso do
Brasil, que lidera um grupo de
20 países emergentes na Rodada Doha, pode servir de carta
na manga para insistir por uma
oferta maior dos EUA nas discussões sobre agricultura.
Na avaliação da OMC, o governo norte-americano viola as
normas de comércio internacional com programas de apoio
à comercialização -"marketing loans"- e com os chamados "pagamentos contracíclicos", a liberação de recursos para os plantadores de algodão
quando o preço da commodity
cai no mercado internacional.
O contencioso entre Brasil e
EUA começou em setembro de
2002, com várias vitórias de
Brasília nos painéis da OMC.
Desde então, Argentina, Austrália, Canadá, Chade, China,
União Européia, Índia, Japão,
Nova Zelândia e Tailândia ingressaram contra os Estados
Unidos na mesma disputa.
Segundo ONGs norte-americanas, os subsídios aos produtores de algodão dos EUA distorcem a tal ponto o mercado
global que diversas nações africanas têm suas exportações
prejudicadas seriamente.
Procurada no final da tarde
de ontem, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil informou que não se manifestaria
por ora a respeito do tema.
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