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Safra atrasa, e cortadores de cana passarão o Natal
e o Ano Novo no canavial
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
Os migrantes Francisco
Barros Afonso, 33, e Francisco das Chagas Nunes Ferreira, 22, ambos do Maranhão,
foram surpreendidos com a
notícia de que não vão passar
o Natal em casa. Os dois fazem parte de turmas de cortadores de cana do interior paulista que, pela primeira vez
nas últimas duas décadas, vão
passar o Natal e o Ano Novo
trabalhando no canavial.
A safra está sendo estendida até o final do ano ou meados de janeiro em algumas
usinas por causa das chuvas
-a colheita vai normalmente
até o dia 20 de dezembro.
Na usina Moreno, em Luiz
Antônio, a safra deve se estender até o dia 28 deste mês.
A usina emprega cerca de 800
pessoas no corte da cana.
Quem vai virar o ano em
plena colheita é a usina Maringá, de Araraquara. A safra
vai até 15 de janeiro. A Maringá emprega cerca de mil trabalhadores no corte.
Trabalhadores da Cerp
(Central Energética de Ribeirão Preto) disseram que a usina deve seguir com a moagem
até 24 de janeiro. A extensão,
porém, já havia sido anunciada pela Cerp.
De acordo com irmã Inês
Facioli, da Pastoral do Migrante, o maior temor dos migrantes é que a rescisão fique
abaixo da média dos outros
anos -de R$ 1.500 a R$ 1.800.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) não
tem uma estimativa oficial de
quantas usinas estenderão a
safra, mas o mercado prevê
que 40 usinas do Centro-Sul
devam estendê-la ou até
emendá-la com a próxima.
Na opinião de Francisco Alves, professor da UFSCar
(Universidade Federal de São
Carlos), que estuda o trabalho
na cana, obrigar migrantes a
permanecer até janeiro é um
"ato covarde" e uma "violação
do direito do trabalhador".
Revolta
Nem todos os trabalhadores aceitaram bem a notícia e
pretendem protestar no início da próxima semana. Outros ameaçam voltar para
seus Estados, mesmo sem garantia de acerto salarial.
Ferreira, que trabalha na
usina Maringá, disse que parte dos colegas que vieram
com ele do Maranhão ameaça
ir embora nos próximos dias.
Ferreira, que veio de Coroatá (MA), está na terceira
safra de cana na região. "É
muito chato virar o ano trabalhando. Ninguém concordou.
Todo mundo está cansado,
precisa ficar com a família. E
também tem a nossa lavoura
para a gente cuidar."
Afonso, que corta cana para
a usina Moreno, deixou a lavoura e a família em Timbiras, também no Maranhão.
Em 2008, ele conseguiu tomar um ônibus no dia 23 de
dezembro, levando R$ 1.875
no bolso. "Vou passar o Natal
aqui, né? Fazer o quê?"
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