São Paulo, sábado, 19 de dezembro de 2009

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Safra atrasa, e cortadores de cana passarão o Natal e o Ano Novo no canavial

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Os migrantes Francisco Barros Afonso, 33, e Francisco das Chagas Nunes Ferreira, 22, ambos do Maranhão, foram surpreendidos com a notícia de que não vão passar o Natal em casa. Os dois fazem parte de turmas de cortadores de cana do interior paulista que, pela primeira vez nas últimas duas décadas, vão passar o Natal e o Ano Novo trabalhando no canavial.
A safra está sendo estendida até o final do ano ou meados de janeiro em algumas usinas por causa das chuvas -a colheita vai normalmente até o dia 20 de dezembro.
Na usina Moreno, em Luiz Antônio, a safra deve se estender até o dia 28 deste mês. A usina emprega cerca de 800 pessoas no corte da cana.
Quem vai virar o ano em plena colheita é a usina Maringá, de Araraquara. A safra vai até 15 de janeiro. A Maringá emprega cerca de mil trabalhadores no corte.
Trabalhadores da Cerp (Central Energética de Ribeirão Preto) disseram que a usina deve seguir com a moagem até 24 de janeiro. A extensão, porém, já havia sido anunciada pela Cerp.
De acordo com irmã Inês Facioli, da Pastoral do Migrante, o maior temor dos migrantes é que a rescisão fique abaixo da média dos outros anos -de R$ 1.500 a R$ 1.800.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) não tem uma estimativa oficial de quantas usinas estenderão a safra, mas o mercado prevê que 40 usinas do Centro-Sul devam estendê-la ou até emendá-la com a próxima.
Na opinião de Francisco Alves, professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), que estuda o trabalho na cana, obrigar migrantes a permanecer até janeiro é um "ato covarde" e uma "violação do direito do trabalhador".

Revolta
Nem todos os trabalhadores aceitaram bem a notícia e pretendem protestar no início da próxima semana. Outros ameaçam voltar para seus Estados, mesmo sem garantia de acerto salarial.
Ferreira, que trabalha na usina Maringá, disse que parte dos colegas que vieram com ele do Maranhão ameaça ir embora nos próximos dias.
Ferreira, que veio de Coroatá (MA), está na terceira safra de cana na região. "É muito chato virar o ano trabalhando. Ninguém concordou. Todo mundo está cansado, precisa ficar com a família. E também tem a nossa lavoura para a gente cuidar."
Afonso, que corta cana para a usina Moreno, deixou a lavoura e a família em Timbiras, também no Maranhão.
Em 2008, ele conseguiu tomar um ônibus no dia 23 de dezembro, levando R$ 1.875 no bolso. "Vou passar o Natal aqui, né? Fazer o quê?"


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