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Álcool frustra investidores e produtores
Chamados de "heróis" por Lula na era da euforia, usineiros freiam projetos de expansão e dizem que boom do álcool não se comprovou
Produção deve continuar excedendo o consumo até 2010, diz BNDES; ao menos 25 projetos de usinas foram adiados ou reavaliados
ELVIRA LOBATO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Ao menos no curto prazo, o
mercado do álcool frustrou os
que acreditaram nas promessas de novo eldorado verde dos
negócios. A euforia de investidores e empresários com o
crescimento do setor, iniciada
em 2006, arrefeceu com a queda nos preços do produto no
mercado interno e com as dificuldades para a exportação,
que não se abriu na velocidade
alardeada pelo governo.
Segundo informações de empresários, ao menos 25 projetos
de implantação de novas unidades industriais foram adiados ou reavaliados.
Há no país 367 usinas em
funcionamento, com a previsão
de mais 29 entrarem em operação neste ano.
As exportações de álcool caíram 14% -de 3,6 bilhões de litros em 2006 para 3,2 bilhões
de litros em 2007-, e estudo
inédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) admite
possibilidade de excedente de
produção de 10% até 2010, a depender da evolução do preço da
gasolina. A partir daí, projeta
um longo ciclo de crescimento
sustentado, principalmente,
pelo mercado interno.
No auge da euforia, em 2007,
o presidente Lula chamou os
usineiros de heróis: ""Os usineiros de cana, que há dez anos
eram tidos como se fossem os
bandidos do agronegócio neste
país, estão virando heróis nacionais e mundiais, porque todo mundo está de olho no álcool", afirmou.
Os investidores acreditam no
potencial do mercado a médio e
longo prazos, mas dizem que o
setor tirou o pé do acelerador,
no curto prazo.
Pelas projeções do governo, o
consumo de álcool hidratado
vai ultrapassar o de gasolina em
2016. No ano passado, o consumo de gasolina foi três vezes
maior. A aposta no mercado interno, como força de sustentação da produção, baseia-se nos
carros flex (bicombustíveis),
que representam quase 90%
dos novos veículos.
O governo nega ter havido
otimismo demais: ""Houve excesso de declarações, mas
quem lida com o setor previa
dificuldades na exportação",
afirma o diretor do departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e
Energia, Ricardo Dornelles.
Desaceleração
Os sinais de desaceleração
são confirmados por vários segmentos. A Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar)
mandou equipe ao campo para
apurar se os projetos com início
de produção previsto para este
ano estão confirmados ou se terá de rever a próxima safra.
""Os preços da safra 2007/
2008 caíram muito. Não remuneram nem o custo de produção. A indústria não gerou caixa
nem registrou lucro suficiente
para remunerar os investimentos", declarou o diretor-técnico
da Unica, Antonio Pádua.
Para o especialista Josias
Messias, presidente do "Jornal
Cana", de Ribeirão Preto (SP),
até 25 projetos foram adiados.
"Os adiamentos ocorrem entre grupos menores, que dependem do caixa gerado pela
atividade para financiar os investimentos. Com os preços em
baixa, ficaram sem fôlego
-25% dos novos projetos estão
nessa situação", diz Messias. O
preço médio do álcool hidratado, ao produtor, em São Paulo,
que chegou a R$ 1,25/litro em
março de 2006, estava em R$
0,71 na semana passada.
Um exemplo é o do grupo
Equipav, que reduziu o tamanho de um novo projeto em
Mato Grosso do Sul, com início
de operação previsto para 2010.
""A desaceleração está ocorrendo. O ritmo dos projetos se reduziu. Poderíamos fazer uma
safra muito grande, de 2,5 milhões de toneladas de cana, mas
vamos produzir 1,8 milhão de
tonelada", diz Newton Salim
Soares, diretor da Equipav.
""Uma boa parte dos projetos
não vai virar nada. Quantos vão
adiante? Não sei. Muita gente
sonhou com ganhos extraordinários", diz Marcelo Vieira,
presidente da Adecoagro, que
investe na construção de usinas
e da qual o investidor George
Soros é o principal acionista.
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