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Lula diz que não quer "surpresa" na crise
Com temor de desaceleração em setores como o da construção civil, presidente pediu à equipe econômica "o máximo de vigilância'
Mantega vai apresentar diagnóstico sobre momento econômico na reunião ministerial da próxima quarta-feira, a 1ª do ano
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar da piora no cenário da
crise norte-americana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
avalia que o governo tem tempo para tomar medidas preventivas para combater os efeitos
de uma eventual recessão nos
Estados Unidos. Ele já teme,
contudo, uma redução no ritmo de alguns setores da economia brasileira, como a construção civil.
Em conversas com sua equipe, Lula disse que não quer ser
pego de "surpresa". Por isso, o
presidente convocou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada, e pediu
o "máximo de cuidado e vigilância" no acompanhamento
da crise internacional.
Mantega estava em férias,
mas antecipou seu retorno para avaliar a situação da economia brasileira. Ele vai apresentar um diagnóstico do atual
momento econômico na reunião ministerial de quarta-feira, a primeira do ano.
O presidente ficou preocupado com a informação repassada
por seus assessores de que a
"curva de juros futuros" está
em alta, o que significa que o
mercado projeta para o médio e
longo prazos possibilidade de
alta nas taxas devido às turbulências na economia.
Lula teme que essa expectativa do mercado financeiro já
tenha efeitos imediatos na economia real, afetando os setores
produtivos, sobretudo sobre o
ritmo da construção civil, um
dos principais setores que estão puxando o crescimento da
economia brasileira.
Em conversas com assessores, o presidente disse que os
empresários do setor "ainda
não pisaram no freio, mas podem começar a reduzir o ritmo". Por isso, pediu atenção de
sua equipe para tomar as medidas necessárias para evitar um
cenário como esse.
O presidente já foi informado
pela área econômica dos riscos
de contágio para o Brasil e das
reações possíveis para conter o
impacto de uma crise sobre a
qual o governo não tem o menor controle. A principal e mais
eficiente delas, na avaliação da
equipe econômica, é a elevação
dos juros. Justamente o que
Lula pediu para ser evitado. O
presidente sabe que isso azedaria o clima de otimismo do empresariado e os investimentos.
Neste primeiro momento, a
contaminação da economia se
dá pela saída de dinheiro externo que estava aplicado no mercado brasileiro. O medo do governo é que esse movimento se
prolongue. Nesse caso, poderá
haver uma desvalorização mais
forte do real ante o dólar, com
impacto na inflação.
Aperto monetário
Apesar de ter fôlego para
agüentar respingos iniciais da
crise nos EUA, a equipe econômica sabe que não poderá fugir
da receita tradicional de aperto
monetário caso as turbulências
se intensifiquem.
Com base nas avaliações de
sua equipe, Lula não crê que a
economia brasileira sofra muito neste ano com os efeitos da
crise internacional. No máximo, o país deixará de repetir o
ritmo do ano passado, quando
cresceu na casa dos 5%, ficando
mais próximo de uma taxa entre 4% e 4,5% em 2008.
A preocupação é mais com
2009. Afinal, a previsão é que,
se houver um desaquecimento
mais forte da economia brasileira, ele ocorreria a partir do
segundo semestre, refletindo
no próximo ano. Neste ano,
avalia o governo, o país cresce
no mínimo 2,5% apenas pelos
efeitos do crescimento registrado em 2007.
Lula tem repetido nas reuniões com sua equipe que o governo precisa estar "alerta" e
"tranqüilo" ao mesmo tempo,
para evitar surpresas ou reações precipitadas. Antes de
agir, segundo ele, é preciso ter
uma avaliação mais profunda
da intensidade da crise norte-americana e de seus efeitos no
resto do mundo.
Como o Brasil está numa posição "mais confortável" hoje
do que no passado, Lula diz que
o país tem tempo suficiente para fazer essa análise e adotar
medidas de correção de rumo.
Como destacou um ministro na
sexta-feira passada, após se
reunir com o presidente, "a crise dos Estados Unidos não é um
furacão entrando pela porta
brasileira".
Lula já determinou, porém,
que a equipe não deixe dúvidas
de que haverá o corte de R$ 20
bilhões no Orçamento por causa do fim da CPMF, além de garantir que a meta de superávit
primário será respeitada. Isso,
em sua opinião, é fundamental
para sinalizar ao mercado que o
governo não vai descuidar da
economia e continuará perseguindo uma inflação baixa.
(VALDO CRUZ E SHEILA D'AMORIM)
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