São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008

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Lula diz que não quer "surpresa" na crise

Com temor de desaceleração em setores como o da construção civil, presidente pediu à equipe econômica "o máximo de vigilância'

Mantega vai apresentar diagnóstico sobre momento econômico na reunião ministerial da próxima quarta-feira, a 1ª do ano

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar da piora no cenário da crise norte-americana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que o governo tem tempo para tomar medidas preventivas para combater os efeitos de uma eventual recessão nos Estados Unidos. Ele já teme, contudo, uma redução no ritmo de alguns setores da economia brasileira, como a construção civil.
Em conversas com sua equipe, Lula disse que não quer ser pego de "surpresa". Por isso, o presidente convocou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada, e pediu o "máximo de cuidado e vigilância" no acompanhamento da crise internacional.
Mantega estava em férias, mas antecipou seu retorno para avaliar a situação da economia brasileira. Ele vai apresentar um diagnóstico do atual momento econômico na reunião ministerial de quarta-feira, a primeira do ano.
O presidente ficou preocupado com a informação repassada por seus assessores de que a "curva de juros futuros" está em alta, o que significa que o mercado projeta para o médio e longo prazos possibilidade de alta nas taxas devido às turbulências na economia.
Lula teme que essa expectativa do mercado financeiro já tenha efeitos imediatos na economia real, afetando os setores produtivos, sobretudo sobre o ritmo da construção civil, um dos principais setores que estão puxando o crescimento da economia brasileira.
Em conversas com assessores, o presidente disse que os empresários do setor "ainda não pisaram no freio, mas podem começar a reduzir o ritmo". Por isso, pediu atenção de sua equipe para tomar as medidas necessárias para evitar um cenário como esse.
O presidente já foi informado pela área econômica dos riscos de contágio para o Brasil e das reações possíveis para conter o impacto de uma crise sobre a qual o governo não tem o menor controle. A principal e mais eficiente delas, na avaliação da equipe econômica, é a elevação dos juros. Justamente o que Lula pediu para ser evitado. O presidente sabe que isso azedaria o clima de otimismo do empresariado e os investimentos.
Neste primeiro momento, a contaminação da economia se dá pela saída de dinheiro externo que estava aplicado no mercado brasileiro. O medo do governo é que esse movimento se prolongue. Nesse caso, poderá haver uma desvalorização mais forte do real ante o dólar, com impacto na inflação.

Aperto monetário
Apesar de ter fôlego para agüentar respingos iniciais da crise nos EUA, a equipe econômica sabe que não poderá fugir da receita tradicional de aperto monetário caso as turbulências se intensifiquem.
Com base nas avaliações de sua equipe, Lula não crê que a economia brasileira sofra muito neste ano com os efeitos da crise internacional. No máximo, o país deixará de repetir o ritmo do ano passado, quando cresceu na casa dos 5%, ficando mais próximo de uma taxa entre 4% e 4,5% em 2008.
A preocupação é mais com 2009. Afinal, a previsão é que, se houver um desaquecimento mais forte da economia brasileira, ele ocorreria a partir do segundo semestre, refletindo no próximo ano. Neste ano, avalia o governo, o país cresce no mínimo 2,5% apenas pelos efeitos do crescimento registrado em 2007.
Lula tem repetido nas reuniões com sua equipe que o governo precisa estar "alerta" e "tranqüilo" ao mesmo tempo, para evitar surpresas ou reações precipitadas. Antes de agir, segundo ele, é preciso ter uma avaliação mais profunda da intensidade da crise norte-americana e de seus efeitos no resto do mundo.
Como o Brasil está numa posição "mais confortável" hoje do que no passado, Lula diz que o país tem tempo suficiente para fazer essa análise e adotar medidas de correção de rumo. Como destacou um ministro na sexta-feira passada, após se reunir com o presidente, "a crise dos Estados Unidos não é um furacão entrando pela porta brasileira".
Lula já determinou, porém, que a equipe não deixe dúvidas de que haverá o corte de R$ 20 bilhões no Orçamento por causa do fim da CPMF, além de garantir que a meta de superávit primário será respeitada. Isso, em sua opinião, é fundamental para sinalizar ao mercado que o governo não vai descuidar da economia e continuará perseguindo uma inflação baixa.
(VALDO CRUZ E SHEILA D'AMORIM)


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