São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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Indústria puxa recorde de demissões no país

Mercado de trabalho fecha o dobro de vagas em dezembro e tem o pior resultado em dez anos; cortes afetam todos os setores

Na construção civil, saldo negativo mais que triplicou; maior empregador do país, Estado de SP cortou 44% das vagas com carteira assinada

JULIANNA SOFIA
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tragado por uma onda de demissões inédita na indústria brasileira, o mercado de trabalho formal encolheu em dezembro e registrou seu pior desempenho nos últimos dez anos. No mês passado, foram fechadas em todo o país 654.946 vagas com carteira assinada. Apesar de a redução ter afetado todos os setores, o maior estrago ocorreu na indústria de transformação, que perdeu 273.240 vagas.
O fechamento de empregos no setor foi quase o dobro do mesmo mês de 2007 e acendeu a luz vermelha no governo, que considera a indústria o "principal foco" dos abalos provocados pela crise mundial. O subsetor de produção de alimentos e bebidas foi o mais atingido pelas demissões e eliminou em apenas um mês 109.696 vagas.
Na avaliação do Ministério do Trabalho, os segmentos de suco de laranja e sucroalcooleiro aparecem entre os maiores perdedores. Por serem exportadores, foram fortemente sacudidos pela queda na demanda mundial por produtos. O mesmo ocorreu com os segmentos de calçados, borracha e couro e moveleiro, que fecharam o ano de 2008 com saldo negativo de empregos.
"Os estoques da indústria estavam muito elevados, e o número de empregos gerados nos últimos meses, muito alto. Por isso, houve uma queda maior do que em todos os outros setores", afirmou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, acrescentando que dezembro foi o pior mês da história para o emprego na indústria.
Os reflexos disso atingiram diretamente o maior Estado empregador do país. São Paulo perdeu em dezembro 285.532 postos de trabalho, o que representa 44% do total de vagas fechadas no mês. A redução no nível de emprego se deu principalmente no interior do Estado. Todas as regiões do país tiveram saldo negativo no mês.
Os resultados do Caged (Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados) divulgados ontem por Lupi sepultaram os planos do ministro de anunciar para 2008 o melhor resultado da história do emprego formal.
Ao longo do ano passado, ele chegou a projetar a geração de 2 milhões de postos em 2008. O saldo do ano, com o tombo em dezembro, ficou em 1,452 milhão. "O número de dezembro não surpreendeu, mas desagradou. Ninguém gosta de aumento do número de demissões."
Em dezembro de 2007, foram fechadas 319.424 vagas. Considerando a série histórica do Caged, o pior desempenho anterior ao de 2008 foi o de dezembro de 2004, com o fechamento de 352.093 mil vagas.
Considerando apenas os 23 dias úteis de dezembro, os 654 mil postos fechados significam que 28,5 mil vagas foram fechadas a cada 24 horas.

Retração
No setor de serviços, a retração no mercado em dezembro provocou a perda de 117.128 empregos. Na construção civil, foram 82.432 -mais que o triplo do saldo negativo de dezembro de 2007.
O número de demissões na agricultura também foi alto, mas o ministério explica que o mercado de trabalho no campo tradicionalmente encolhe em dezembro. Em 2007, ficou negativo em 121 mil vagas, enquanto em 2008 o corte chegou a 134.487 postos.
Já no comércio, embora a perda de postos tenha ficado próxima de 15 mil, o número costuma ser positivo por conta das festas de fim de ano.
Para Lupi, os setores que mais preocupam e vão exigir medidas por parte do governo são a indústria e a construção civil. Em reunião com o presidente Lula, o ministro sugeriu iniciativas, mas não quis antecipar o teor de suas propostas.


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