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Queda do investimento piora contas externas, diz Ricupero
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise econômica internacional de 2008/2009 continuará afetando o fluxo de investimento estrangeiro para o Brasil
por alguns anos ainda, na avaliação de Rubens Ricupero, ex-secretário geral da Unctad, ex-ministro da Fazenda (governo
Itamar Franco) e colunista da
Folha.
Devido a essa menor disponibilidade de dinheiro, ficará
mais difícil para o país cobrir o
deficit nas suas transações correntes (as quais englobam, por
exemplo, operações comerciais
do Brasil com outras nações e
remessas de lucros feitas por
empresas estrangeiras instaladas no país). Se essa conta fica
negativa, significa que o país está mandando mais dinheiro para fora do que recebendo, então
precisa atrair recursos de outras nações a fim de se equilibrar.
Ricupero alerta, porém:
"É preciso tomar cuidado
com a dependência excessiva
do financiamento externo, especialmente quando o investimento está diminuindo".
Leia abaixo trechos da entrevista concedida por ele.
FOLHA - Os investimentos estrangeiros no mundo todo foram muito
afetados pela crise. Mas quais são as
perspectivas para a recuperação
desse fluxo nos próximos anos?
RUBENS RICUPERO - Acho que não
veremos tão cedo um retorno
do investimento aos elevados
patamares da sua época de ouro, na década de 1990. Ninguém
está prevendo uma forte volta
da atividade econômica nos
próximos três a quatro anos no
mundo industrializado, o que é
um diferencial a favor dos
emergentes. Mas isso significa
que os empresários adotarão
uma certa cautela, já que não
vislumbram um cenário de
grande demanda. Em um momento de grande insegurança,
é difícil que exista o otimismo
que leva ao investimento produtivo de longo prazo.
FOLHA - Que efeitos essa tendência trará para o Brasil?
RICUPERO - O cenário é preocupante. Há dois anos as contas
externas brasileiras voltaram a
ser deficitárias, e a expectativa
da maior parte dos especialistas é que esse saldo negativo se
amplie. O país está esperando
atrair consideráveis volumes
de investimento para os seus
principais projetos, como os de
infraestrutura e o pré-sal, e
usar esses recursos para cobrir
o buraco. Pode ser que não
aconteça. O Brasil deve receber
menos do que imaginava. E ainda surgem economistas defendendo a ideia de que o estágio
de desenvolvimento no qual o
país se encontra "permite" que
tenha contas externas ruins.
FOLHA - Por que o senhor discorda
dessa ideia?
RICUPERO - Só faria sentido se
fosse realmente possível contar
com esses recursos de outros
países. E não é o que a realidade
internacional sugere. É preciso
tomar cuidado com a dependência excessiva do financiamento externo, especialmente
em um momento no qual o investimento está diminuindo.
FOLHA - Como resolver isso?
RICUPERO - É essencial aumentar a taxa de investimento e de
poupança do setor privado. Para conseguir isso, deve-se atacar o problema da expansão
exagerada dos gastos do governo, diminuindo o seu peso e
abrindo espaço para a atuação
das empresas.
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