São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Queda do investimento piora contas externas, diz Ricupero

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise econômica internacional de 2008/2009 continuará afetando o fluxo de investimento estrangeiro para o Brasil por alguns anos ainda, na avaliação de Rubens Ricupero, ex-secretário geral da Unctad, ex-ministro da Fazenda (governo Itamar Franco) e colunista da Folha.
Devido a essa menor disponibilidade de dinheiro, ficará mais difícil para o país cobrir o deficit nas suas transações correntes (as quais englobam, por exemplo, operações comerciais do Brasil com outras nações e remessas de lucros feitas por empresas estrangeiras instaladas no país). Se essa conta fica negativa, significa que o país está mandando mais dinheiro para fora do que recebendo, então precisa atrair recursos de outras nações a fim de se equilibrar.
Ricupero alerta, porém: "É preciso tomar cuidado com a dependência excessiva do financiamento externo, especialmente quando o investimento está diminuindo". Leia abaixo trechos da entrevista concedida por ele.

 

FOLHA - Os investimentos estrangeiros no mundo todo foram muito afetados pela crise. Mas quais são as perspectivas para a recuperação desse fluxo nos próximos anos?
RUBENS RICUPERO
- Acho que não veremos tão cedo um retorno do investimento aos elevados patamares da sua época de ouro, na década de 1990. Ninguém está prevendo uma forte volta da atividade econômica nos próximos três a quatro anos no mundo industrializado, o que é um diferencial a favor dos emergentes. Mas isso significa que os empresários adotarão uma certa cautela, já que não vislumbram um cenário de grande demanda. Em um momento de grande insegurança, é difícil que exista o otimismo que leva ao investimento produtivo de longo prazo.

FOLHA - Que efeitos essa tendência trará para o Brasil?
RICUPERO
- O cenário é preocupante. Há dois anos as contas externas brasileiras voltaram a ser deficitárias, e a expectativa da maior parte dos especialistas é que esse saldo negativo se amplie. O país está esperando atrair consideráveis volumes de investimento para os seus principais projetos, como os de infraestrutura e o pré-sal, e usar esses recursos para cobrir o buraco. Pode ser que não aconteça. O Brasil deve receber menos do que imaginava. E ainda surgem economistas defendendo a ideia de que o estágio de desenvolvimento no qual o país se encontra "permite" que tenha contas externas ruins.

FOLHA - Por que o senhor discorda dessa ideia?
RICUPERO
- Só faria sentido se fosse realmente possível contar com esses recursos de outros países. E não é o que a realidade internacional sugere. É preciso tomar cuidado com a dependência excessiva do financiamento externo, especialmente em um momento no qual o investimento está diminuindo.

FOLHA - Como resolver isso?
RICUPERO
- É essencial aumentar a taxa de investimento e de poupança do setor privado. Para conseguir isso, deve-se atacar o problema da expansão exagerada dos gastos do governo, diminuindo o seu peso e abrindo espaço para a atuação das empresas.


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