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Retrato do governo FHC, por ele próprio
ALOYSIO BIONDI
O presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma declaração espantosa em sua viagem à
Itália. Pela primeira vez, desde
que foi ministro da Fazenda no
governo Itamar Franco, FHC
admitiu que a "abertura" da
economia brasileira às importações foi demasiado rápida. Isto é, FHC agora reconhece que
toda a base de sua política econômica é um desastre, e está
provocando a destruição da indústria brasileira, desempregando milhões de pessoas, reduzindo a produção nacional,
"torrando" dólares, provocando rombos na balança comercial em virtude da explosão das
importações -e, acrescente-se,
vai provocar nova e grave onda
recessiva no país.
Noticiada quase exclusivamente por esta Folha, a declaração de FHC foi, porém, acompanhada de falseamento da
verdade histórica. O presidente
da República atribuiu o "escancaramento" da economia
brasileira ao governo Collor.
Na verdade, seu antecessor
deu início ao processo. Mas, reconheça-se, a abertura do mercado, apresentada à sociedade
como "nova política industrial", seria feita de forma gradual, ao longo de alguns anos.
Ou, sinteticamente, o imposto
sobre as importações (tarifas)
seria reduzido um pouco a cada
ano, com o objetivo de "dar
tempo" à indústria nacional de
investir para produzir melhor e
mais barato, enfrentando a
concorrência estrangeira.
Quem mudou da noite para o
dia as regras do jogo foi a equipe do governo FHC/BNDES, que
reduziu para 10%, 3% ou mesmo 0% (isenção total de imposto) as tarifas sobre produtos importados.
Em lugar de reconhecer os erros monumentais cometidos por
ele próprio e sua arrogante
equipe, o ex-sociólogo FHC limita-se a inculpar Collor. Nenhuma autocrítica, capaz de
trazer a expectativa de mudanças nos rumos desastrosos da
política econômica. E o país paga, dramática e bovinamente, o
preço dos equívocos.
Com a declaração de FHC, como ficam os de-formadores de
opinião que há três ou quatro
anos vêm tecendo loas incontidas à "abertura"?
Mais recessão
Para conter o rombo da balança comercial, o governo já
estuda medidas para reduzir o
consumo, reduzir a produção,
provocar mais recessão e desemprego. Absurdo. As importações -até de matérias-primas- cresceram por causa do
"escancaramento" do mercado, e não por hipotética "explosão do consumo". É preciso
rever toda a política de importações. Combater as causas. Há
meses esta coluna diz isso.
Viva a fraude - 1
Escândalo de bilhões de reais,
na emissão de títulos por governadores e prefeitos. Dois pontos
a destacar. As emissões foram
autorizadas em regime de urgência, em poucos dias, pelo Senado. Leia-se: foram autorizações "políticas", dentro dos
conchavos entre o governo FHC
e as lideranças do Senado. E
mais: as emissões liberadas em
regime de urgência pelo Banco
Central, que dispensou até mesmo a apresentação de documentos por parte dos governadores ou prefeitos. Leia-se: ordens do Planalto. Estilo de governar.
Viva a fraude - 2
Investigações mostraram que
parte do dinheiro das fraudes
foi enviado para o exterior.
Lembre-se: o procurador da República que investigou o caso
PC Farias desabafou, na época,
que o Banco Central não apenas "tolera" remessas ilegais,
como dificulta as investigações
da Justiça. A Receita Federal
quis mudar leis, para dificultar
fraudes. O Banco Central se
opôs. O presidente da República apoiou o Banco Central. Estilo de governar.
Viva a dengue
O ministro Gustavo Krause
teve dengue. Milhões de brasileiros tiveram dengue. O Ministério da Saúde lança campanha
bilionária, inclusive com anúncios na TV, para combater a
doença, priorizando a erradicação do mosquito transmissor.
Está nos jornais (de 8 deste
mês): "Por enquanto, a Fundação Nacional da Saúde ainda enfrenta problemas de recursos para o combate à dengue e à malária''. Aguarda, por
exemplo, a liberação de verbas
da ordem de R$ 4 milhões
(atenção: milhões com m, ninharia) para a aquisição de inseticidas. Para matar o mosquito.
O governo FHC corta verbas
para a saúde. Dengue, malária,
tuberculose, leishmaniose são
algumas doenças que estão de
volta. Estilo Malan/Kandir/FHC de governar.
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha e diretor de
Redação da revista ``Visão''. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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