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RECEITA ORTODOXA
Quinta alta seguida, somada a compulsório maior, vai pressionar financiamentos de empresas e consumidores
BC de Lula sobe taxa de juro e enxuga crédito
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central adotou ontem
duas medidas de caráter fortemente recessivo na tentativa de
conter a alta da inflação. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) elevou os juros pela segunda vez consecutiva em 2003: a
taxa passou de 25,5% para 26,5%
ao ano.
Com a alta, os juros para consumidores e empresas também vão
ser pressionados. No cheque especial, a taxa anual sobe de
220,06% para 222,51%. Para as
empresas, o custo para obtenção
de capital de giro sobe de 62,33%
ao ano para 63,65% ao ano. As estimativas são da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Além de subir os juros, o BC aumentou a alíquota do recolhimento compulsório dos bancos.
A medida deve tirar cerca de R$ 8
bilhões que circulam atualmente
na economia. "A inflação mostra
sinais de resistência. Diante disso,
o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para
26,5% ao ano. Concomitantemente, a diretoria aumentou a alíquota sobre depósitos à vista de
45% para 60% [dos recursos recolhidos que não são remunerados"", informou nota do BC.
A reunião de ontem do Copom
durou cinco horas -o dobro da
duração do encontro do mês passado. A demora ocorreu por causa das discussões em torno da alíquota do compulsório, tema que
raramente é tratado pelo Copom.
Foi a segunda elevação dos juros
decidida durante o governo Lula.
Considerando desde 2002, último ano do governo FHC, foi o
quinto mês seguido em que o BC
aumentou os juros. A taxa de
26,5% ao ano é a mais alta desde
maio de 1999. Em outubro passado, estava em 18% ao ano.
Tanto o aumento dos juros
quanto o do compulsório colaboram para o desaquecimento da
economia. Juros mais elevados fazem com que as pessoas consumam menos e também inibem os
investimentos das empresas.
Com isso, o nível de atividade
econômica é prejudicado.
A elevação da alíquota de recolhimento compulsório tem efeito
semelhante ao do aumento dos
juros. Compulsório é o nome dado aos recursos que os bancos são
obrigados a recolher no BC.
Até ontem, as instituições financeiras depositavam no BC, sem
receber nenhuma remuneração,
45% dos depósitos em conta corrente de seus clientes. Agora, essa
proporção subiu para 60%. Além
disso, os bancos continuam recolhendo também o equivalente a
8% dos depósitos à vista, mas recebendo por esses recursos juros
equivalentes à taxa Selic.
Na prática, o compulsório passou de 53% para 68% sobre os depósitos à vista. Ou seja, para cada
R$ 100 depositados em conta corrente, os bancos são obrigados a
recolher R$ 68 para o BC, dos
quais R$ 60 não recebem nenhuma remuneração e R$ 8 são remunerados pela taxa Selic.
Com a mudança no compulsório, os bancos terão de recolher
aos cofres do BC cerca de R$ 8 bilhões adicionais. Com menos dinheiro em caixa, a tendência é que
as instituições financeiras passem
a cobrar juros maiores para emprestar os recursos restantes.
A expectativa do BC é que o desaquecimento da economia possa
ajudar no cumprimento da meta
de inflação deste ano, fixada em
8,5%. Com a economia desaquecida, as empresas teriam menos
espaço para reajustar seus preços.
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