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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Quinta alta seguida, somada a compulsório maior, vai pressionar financiamentos de empresas e consumidores

BC de Lula sobe taxa de juro e enxuga crédito

NEY HAYASHI DA CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central adotou ontem duas medidas de caráter fortemente recessivo na tentativa de conter a alta da inflação. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) elevou os juros pela segunda vez consecutiva em 2003: a taxa passou de 25,5% para 26,5% ao ano.
Com a alta, os juros para consumidores e empresas também vão ser pressionados. No cheque especial, a taxa anual sobe de 220,06% para 222,51%. Para as empresas, o custo para obtenção de capital de giro sobe de 62,33% ao ano para 63,65% ao ano. As estimativas são da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Além de subir os juros, o BC aumentou a alíquota do recolhimento compulsório dos bancos. A medida deve tirar cerca de R$ 8 bilhões que circulam atualmente na economia. "A inflação mostra sinais de resistência. Diante disso, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 26,5% ao ano. Concomitantemente, a diretoria aumentou a alíquota sobre depósitos à vista de 45% para 60% [dos recursos recolhidos que não são remunerados"", informou nota do BC.
A reunião de ontem do Copom durou cinco horas -o dobro da duração do encontro do mês passado. A demora ocorreu por causa das discussões em torno da alíquota do compulsório, tema que raramente é tratado pelo Copom. Foi a segunda elevação dos juros decidida durante o governo Lula.
Considerando desde 2002, último ano do governo FHC, foi o quinto mês seguido em que o BC aumentou os juros. A taxa de 26,5% ao ano é a mais alta desde maio de 1999. Em outubro passado, estava em 18% ao ano.
Tanto o aumento dos juros quanto o do compulsório colaboram para o desaquecimento da economia. Juros mais elevados fazem com que as pessoas consumam menos e também inibem os investimentos das empresas. Com isso, o nível de atividade econômica é prejudicado.
A elevação da alíquota de recolhimento compulsório tem efeito semelhante ao do aumento dos juros. Compulsório é o nome dado aos recursos que os bancos são obrigados a recolher no BC.
Até ontem, as instituições financeiras depositavam no BC, sem receber nenhuma remuneração, 45% dos depósitos em conta corrente de seus clientes. Agora, essa proporção subiu para 60%. Além disso, os bancos continuam recolhendo também o equivalente a 8% dos depósitos à vista, mas recebendo por esses recursos juros equivalentes à taxa Selic.
Na prática, o compulsório passou de 53% para 68% sobre os depósitos à vista. Ou seja, para cada R$ 100 depositados em conta corrente, os bancos são obrigados a recolher R$ 68 para o BC, dos quais R$ 60 não recebem nenhuma remuneração e R$ 8 são remunerados pela taxa Selic.
Com a mudança no compulsório, os bancos terão de recolher aos cofres do BC cerca de R$ 8 bilhões adicionais. Com menos dinheiro em caixa, a tendência é que as instituições financeiras passem a cobrar juros maiores para emprestar os recursos restantes.
A expectativa do BC é que o desaquecimento da economia possa ajudar no cumprimento da meta de inflação deste ano, fixada em 8,5%. Com a economia desaquecida, as empresas teriam menos espaço para reajustar seus preços.


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