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Segundo entidade, é "insustentável" combater a inflação com juro alto; comércio critica compulsório
Para Fiesp, expansão do ano está ameaçada
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A expansão da economia nos
primeiros seis meses do ano já está comprometida e o desempenho de 2003 está "sob severa
ameaça". Essa foi a posição defendida ontem pela Fiesp, a maior
entidade do setor industrial do
país, em relação à elevação nos juros anunciada pelo governo.
Para a federação, a atual posição
do governo -de combater a inflação usando a política monetária- é "insustentável".
Representantes do varejo também criticaram a decisão e reviram -de 2% a 3% para até zero- a expansão do comércio no
Estado de São Paulo em 2003.
Os setores também se colocaram contra a medida de elevação
da alíquota de recolhimento do
compulsório. Para a Fiesp, a decisão deixará em posição delicada
"quem está em pior situação nesse momento", afirma.
Ou seja, as empresas que dependem de crédito interno e sofrem,
de forma direta, os impactos da
redução nos recursos disponíveis
na economia.
O recolhimento compulsório é
o dinheiro que os bancos são
obrigados a depositar no Banco
Central. Se esse volume aumenta,
os bancos ficam com menos capital para empréstimo em caixa e o
dinheiro passa a custar mais caro.
Aliás, os recursos já não estavam nada baratos antes da decisão de aumento nos juros, anunciada ontem. Por exemplo: para
obter capital de giro, as empresas
pagam agora taxa média de 4,19%
ao mês. Antes da elevação de um
ponto percentual, anunciada pelo
Banco Central, a taxa estava em
4,12% ao mês. Os dados são da
Anefac, entidade da área de finanças que faz esse tipo de pesquisa.
Dependência
Para a Fiesp, há uma excessiva
dependência do atual governo em
relação à política monetária, o
que acaba resultando num menor
crescimento da economia, inclusive no segundo semestre de 2003.
O erro, afirma Horacio Lafer Piva, presidente da federação que
assinou o comunicado da entidade, está em tomar decisões com
base nos reflexos a curto prazo
-ou seja, na contenção imediata
da inflação- e em subestimar os
efeitos na atividade produtiva.
Na última reunião da entidade,
diretores acreditavam numa expansão de 1,5% nas atividades industriais em 2003, assim como
um crescimento no PIB (Produto
Interno Bruto) próximo de 2%.
As taxas podem ser revistas.
Comunicado apresentado ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), entretanto,
mostra uma discordância em relação à Fiesp. A elevação nos juros, diz a CNI, é positiva por demonstrar "a disposição do governo em não dar trégua à inflação".
Para a Fiesp, o melhor caminho
no combate à inflação, no entanto, não está em utilizar mecanismos da política monetária. Isso
quer dizer, em mexer nas taxas de
juros para reduzir a demanda dos
consumidores por produtos. E,
com isso, brecar a disparada da
inflação.
Só o IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo) em janeiro
ficou em 2,25%, ante 2,10% em
dezembro. A taxa foi a maior no
mês de janeiro desde o início do
Plano Real.
Sem expansão
"A gente não imaginava que fossem elevar a taxa de recolhimento
de depósito compulsório. O que
eles estão fazendo é usando o que
podem para segurar a inflação reprimindo ainda mais a demanda", diz Antonio Carlos Borges,
diretor-executivo da Fecomercio
SP (Federação do Comércio do
Estado de São Paulo)
Segundo o presidente da entidade, Abram Szajman, foi preciso
rever as contas de expansão do
varejo após a decisão do governo.
A expectativa de crescimento do
comércio no ano, que era de 2% a
3%, cai para uma faixa de 0% a
1%, em faturamento real no Estado de São Paulo.
Com a alta anunciada pelo BC, a
taxa de juros que o consumidor
paga à loja (cada vez que compra
a prazo) passará de 6,66% ao mês,
em média, para 6,73% ao mês, informa a Anefac, que faz esse levantamento. Com isso, as prestações ficam mais caras, o varejo
vende menos e a indústria passa a
produzir menos também.
Um cenário perverso para uma
economia que sofre abalos há
tempos: a indústria paulista registrou retração de 1,2% em 2002. E o
varejo nacional só cresceu 0,68%
no mesmo ano, segundo o IBGE,
que reúne dados do país.
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