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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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Dúvida se pequenos aumentos da taxa são suficientes para combater inflação domina debate econômico

Eficácia do juro conta-gotas é questionada


ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pequenos aumentos na taxa de juros são suficientes para combater a inflação? Essa pergunta tem ganhado força no debate econômico recente, quando a política monetária parece ineficaz no combate ao aumento de preços no Brasil.
Desde outubro, o Copom (Comitê de Política Monetária) já elevou os juros cinco vezes: três pontos percentuais em outubro, um em novembro, outros três em dezembro, meio ponto em janeiro e mais um ponto ontem.
Os juros saíram de 18% para 26,5% ao ano nesse período. Mas as taxas e as expectativas de inflação continuavam subindo, até a semana passada.
A última pesquisa Focus -feita pelo BC com instituições financeiras- apontava elevação da expectativa do mercado para a inflação oficial (medida pelo IPCA) de 11,84% para 11,99% em 2003.
O objetivo de uma política monetária restritiva é fazer, justamente, com que as taxas de juros do mercado subam. Isso torna o crédito mais caro e desestimula as pessoas a buscar financiamento para consumir. Menos consumo tende a levar à redução da produção, no atacado, e à baixa dos preços, no varejo.
Essa política tem efeito recessivo, mas, rezam os livros de macroeconomia, tende a conter a inflação.
O problema é que, à primeira vista, a receita parece não estar surtindo efeito no Brasil. O principal sinal disso seriam os próprios índices mensais de inflação, que continuam altos.
Essa impressão, no entanto, parece errada. Os efeitos contrativos da política monetária começaram a aparecer, sim. Os últimos indicadores, tanto da atividade econômica como do varejo, já mostram sinais de arrefecimento da produção e do consumo.

Remédios
Então, por que a inflação continua alta? E qual seria o melhor remédio para combatê-la?
Essas perguntas refletem, justamente, o ponto no qual as opiniões divergem. Essa discordância sob a melhor forma de condução da política monetária se apresenta sob duas vertentes.
Primeira: há especialistas que acreditam que, embora a economia já esteja contraída, o aumento dos juros tem falhado em conter as expectativas do mercado, fundamentais para manter a inflação sob controle num regime de metas de inflação.
José Antônio Pena, economista-chefe do BankBoston, esperava, por exemplo, aumento maior dos juros, para 27%, ontem.
"Enquanto o BC continuar mirando na média, e não no topo das expectativas, vai continuar correndo atrás do mercado. Acredito que as expectativas do Focus vão continuar subindo", afirma.
Esse argumento parte do pressuposto de que a credibilidade da autoridade monetária é fundamental para conter a inflação no regime de metas. Se o mercado perde a crença na política monetária, tende a achar que a inflação continuará em alta. A reação é elevar os preços preventivamente.
Segunda: outros economistas defendem a idéia de que os juros já subiram o suficiente, que o efeito sobre a inflação é demorado, mas deverá surtir efeito ainda neste ano. Tão logo isso aconteça, as expectativas tendem a recuar.
"Depois de 70% de alta no câmbio a inflação não vai recuar totalmente da noite para o dia, mas já está caindo", diz Fernando Ferreira, da GlobalInvest. Pelos seus cálculos, o aumento de ontem elevará a dívida pública em R$ 3,3 bilhões em um ano.
A discussão, portanto, tende a continuar. O grande ponto a ser mensurado é o real impacto das chamadas expectativas do mercado sobre a alta dos preços.
Se o efeito for de fato grande, resta saber por que os preços continuam subindo depois que os juros aumentaram 8,5 pontos percentuais em cinco meses e, ainda, que expectativas exatamente o BC deveria levar em conta na hora de desenhar sua política monetária.


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