São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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TENSÃO

No dia mais nervoso desde o início do caso Waldomiro, Bovespa cai 4,77% e dólar registra maior valor desde setembro

Crise política derruba Bolsa e eleva risco

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro teve ontem a jornada mais nervosa desde o início da crise política deflagrada pelas denúncias de corrupção envolvendo um ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil).
A Bolsa de Valores de São Paulo registrou a segunda maior queda do ano: 4,77%, recuando para os 20.950 pontos. Foi a primeira vez em 2004 que a Bolsa paulista fechou abaixo de 21 mil pontos -não ficava abaixo desse patamar desde 16 de dezembro.
Desde a publicação das denúncias contra o ex-assessor Waldomiro Diniz, há uma semana, a Bolsa acumula queda de 9,16%. Das 54 ações que compõem o Ibovespa, somente uma subiu ontem.
O dólar comercial subiu pelo quinto dia seguido. A moeda americana teve alta de 0,61% e terminou o dia a R$ 2,96, a maior cotação em quase cinco meses.
O risco Brasil chegou a 596 pontos. Esse indicador meda a diferença entre os juros pagos pelo país e os cobrados pelo Tesouro dos EUA e é uma espécie de termômetro da confiança de investidores estrangeiros.
Ontem, a alta foi de 5,39%, com o risco fechando em 587 pontos. De acordo com a assessoria do banco JP Morgan, que elabora a medição, o Brasil se manteve em quinto no ranking dos países avaliados (liderado pela Argentina). Mas se aproximou da Nigéria, quarta, com 664 pontos. Quando a crise política foi deflagrada, o risco Brasil estava em 506 pontos.
A piora na confiança se refletiu no C-Bond, título da dívida brasileira mais negociado, que recuou 1,11%, fechando o dia cotado a 94,12% de seu valor de face. Esse papel chegou a ser comercializado a mais de 100% neste ano.
Para os analistas, a crise política é o maior motivador da depreciação nos indicadores. Ontem, circularam rumores de que novas denúncias envolvendo membros do governo seriam divulgadas no final de semana. Mas o componente político não é o único. Com a proximidade do feriado de Carnaval, os investidores intensificaram o movimento de venda de ações, a fim de minimizar eventuais riscos. Além disso, desde o início do ano a Bolsa ensaia um movimento de ajuste. "O pessoal aproveita a situação para realizar o lucro [embolsar ganhos obtidos] e esperar o que vai acontecer", diz Luiz Carlos Simão, sócio da Questus Asset Management.
Walter Mundell, vice-presidente de investimentos da Sul-América, vê mais complicadores. Segundo ele, o governo começa a pagar por não cumprir uma agenda de reformas na microeconomia, que tornem o país mais competitivo e permitam atravessar um período de diminuição na liquidez mundial. "O investidor começa a ter percepção de que o governo não tem projeto e que agora, na forma como conduz a crise política, se atrapalhou de vez."
Do início do mês até o dia 16, as pessoas físicas retiraram R$ 226 milhões da Bolsa. O saldo dos investimentos estrangeiros estava positivo em R$ 731,6 milhões no início do mês -um novo relatório sairá na próxima semana.


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