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TENSÃO
No dia mais nervoso desde o início do caso Waldomiro, Bovespa cai 4,77% e dólar registra maior valor desde setembro
Crise política derruba Bolsa e eleva risco
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado financeiro teve ontem a jornada mais nervosa desde
o início da crise política deflagrada pelas denúncias de corrupção
envolvendo um ex-assessor do
ministro José Dirceu (Casa Civil).
A Bolsa de Valores de São Paulo
registrou a segunda maior queda
do ano: 4,77%, recuando para os
20.950 pontos. Foi a primeira vez
em 2004 que a Bolsa paulista fechou abaixo de 21 mil pontos
-não ficava abaixo desse patamar desde 16 de dezembro.
Desde a publicação das denúncias contra o ex-assessor Waldomiro Diniz, há uma semana, a
Bolsa acumula queda de 9,16%.
Das 54 ações que compõem o Ibovespa, somente uma subiu ontem.
O dólar comercial subiu pelo
quinto dia seguido. A moeda
americana teve alta de 0,61% e terminou o dia a R$ 2,96, a maior cotação em quase cinco meses.
O risco Brasil chegou a 596 pontos. Esse indicador meda a diferença entre os juros pagos pelo
país e os cobrados pelo Tesouro
dos EUA e é uma espécie de termômetro da confiança de investidores estrangeiros.
Ontem, a alta foi de 5,39%, com
o risco fechando em 587 pontos.
De acordo com a assessoria do
banco JP Morgan, que elabora a
medição, o Brasil se manteve em
quinto no ranking dos países avaliados (liderado pela Argentina).
Mas se aproximou da Nigéria,
quarta, com 664 pontos. Quando
a crise política foi deflagrada, o
risco Brasil estava em 506 pontos.
A piora na confiança se refletiu
no C-Bond, título da dívida brasileira mais negociado, que recuou
1,11%, fechando o dia cotado a
94,12% de seu valor de face. Esse
papel chegou a ser comercializado a mais de 100% neste ano.
Para os analistas, a crise política
é o maior motivador da depreciação nos indicadores. Ontem, circularam rumores de que novas
denúncias envolvendo membros
do governo seriam divulgadas no
final de semana. Mas o componente político não é o único. Com
a proximidade do feriado de Carnaval, os investidores intensificaram o movimento de venda de
ações, a fim de minimizar eventuais riscos. Além disso, desde o
início do ano a Bolsa ensaia um
movimento de ajuste. "O pessoal
aproveita a situação para realizar
o lucro [embolsar ganhos obtidos] e esperar o que vai acontecer", diz Luiz Carlos Simão, sócio
da Questus Asset Management.
Walter Mundell, vice-presidente de investimentos da Sul-América, vê mais complicadores. Segundo ele, o governo começa a
pagar por não cumprir uma agenda de reformas na microeconomia, que tornem o país mais competitivo e permitam atravessar
um período de diminuição na liquidez mundial. "O investidor começa a ter percepção de que o governo não tem projeto e que agora, na forma como conduz a crise
política, se atrapalhou de vez."
Do início do mês até o dia 16, as
pessoas físicas retiraram R$ 226
milhões da Bolsa. O saldo dos investimentos estrangeiros estava
positivo em R$ 731,6 milhões no
início do mês -um novo relatório sairá na próxima semana.
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