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Brasil analisa medida contra trigo argentino
Embora possa ir à OMC, governo prefere negociação à parte; protecionismo prejudica indústria nacional
LEONARDO SOUZA
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo argentino adotou
medidas protecionistas no setor de trigo que, na prática, funcionam como uma espécie de
dumping (venda por preço artificialmente baixo) no mercado
brasileiro.
O secretário-executivo da
Camex (Câmara de Comércio
Exterior), Mário Mugnaini, disse à Folha que cabe recurso à
OMC (Organização Mundial
do Comércio). Em sua opinião,
o Brasil teria grandes chances
de ganhar a disputa.
Ele afirmou, no entanto, que
o governo não tomou a decisão
política de acionar a OMC porque prefere tratar o assunto em
negociação bilateral.
No ano passado, as compras
de farinha de trigo do país vizinho aumentaram 350%, enquanto a produção nacional do
grão caiu para menos da metade em relação a 2005.
Segundo o presidente da Abitrigo (Associação Brasileira da
Indústria do Trigo), Samuel
Hosken, alguns moinhos já fecharam contratos de importação de farinha pronta da Argentina. Entre março e abril,
vão passar a empacotá-la e distribuí-la no mercado nacional,
reduzindo a fabricação própria.
Em outubro de 2006, o governo argentino reduziu a alíquota do imposto de exportação sobre a farinha de trigo de
20% para 10%. No mês passado, cortou o imposto sobre a
mistura de trigo (usada em
massas de pães e bolos, por
exemplo) de 10% para 5%. O
tributo sobre o grão, no entanto, foi mantido em 20%.
"O governo está atento aos
danos que esses impostos têm
causado ao setor no Brasil, mas
prefere avaliar a situação com
cuidado", disse Mugnaini.
Sob o argumento de conter a
inflação, o governo argentino
decidiu, ainda no mês passado,
tabelar o preço da tonelada de
trigo no mercado interno em
cerca de US$ 120 (370 pesos).
Para o comércio exterior, entretanto, a negociação com os
compradores é livre.
Faturamento menor
Maiores consumidores mundiais do trigo argentino, os moinhos brasileiros têm comprado
o grão por US$ 156 a tonelada
(mais frete e imposto). Ou seja,
o moinho argentino tem um
custo de produção reduzido artificialmente e incentivos comparativos na hora de exportar
seus produtos.
No sentido inverso, o moinho
nacional compra o trigo mais
caro e tem de pagar uma alíquota sobre a matéria-prima
muito maior do que os importadores dos itens industrializados (farinha e mistura).
"Ao tributar a farinha em 5%
e o trigo em 20%, a Argentina
está facilitando a exportação do
produto com maior valor agregado, o que prejudica o setor no
Brasil", afirmou Mugnaini.
De acordo com a Abitrigo, as
importações de farinha e mistura para massas, somadas, subiram de US$ 50,9 milhões em
2005 para US$ 71 milhões no
ano passado. Já o faturamento
dos moinhos brasileiros teve,
no mesmo período, redução de
R$ 565 milhões (de R$ 7,7 bilhões para R$ 7,135 bilhões).
"Se o governo não fizer nada,
seremos totalmente dependentes do mercado argentino. Os
moinhos fecharão e haverá somente importadores de farinha", disse Hosken.
O presidente da Abitrigo
alerta para o risco de aumento,
no futuro, dos preços de produtos básicos para o consumidor,
como o pão francês.
Ele diz que hoje, para ganhar
mercado, os produtores argentinos vendem a farinha ao Brasil a um preço normalmente
mais baixo do que o produto
feito no país. "Ao acabar com a
concorrência local, eles terão
muito mais facilidade para aumentar seus preços."
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