São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ministério do Trabalho favorece o PDT

Aliados do partido, presidido pelo ministro Carlos Lupi, vão receber cerca de R$ 50 milhões para treinar mão-de-obra jovem

Dirigentes de entidades beneficiadas são parentes, doadores de campanha ou políticos do próprio PDT; ministério nega preferência

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério do Trabalho e Emprego aprovou repasse de R$ 50 milhões a pelo menos 12 entidades ligadas ao PDT para realizar treinamento de jovens em vários Estados do país.
O presidente do PDT é o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e seu partido é o maior beneficiado. O ministério aprovou 30 convênios, em um total de R$ 111,5 milhões. Mas quase a metade do dinheiro seguirá para 12 entidades apenas, todas relacionadas ao PDT.
Alguns dos dirigentes das entidades que estão recebendo os recursos são parentes, doadores de campanha ou amigos dos políticos do PDT que fizeram os pedidos de verba. Outras organizações são chefiadas pelos próprios políticos do PDT.
Os acordos foram assinados entre 30 de novembro de 2007 e 10 de janeiro passado, e a primeira parcela dos repasses já foi feita. O valor desses 12 convênios sobe para R$ 70 milhões se computadas verbas para bolsas destinadas a jovens.
O Ministério do Trabalho e os beneficiados pelos convênios negam irregularidades nos repasses ou o uso de influência política na liberação da verba.

Mãe, cunhada e candidato
No Maranhão, a Fedecma receberá R$ 3,1 milhões. A presidente da entidade é Marileide Rocha, mãe do secretário da Juventude do Estado, Weverton Rocha (PDT).
Em Alagoas, a vice-presidente do Lar São Domingos (R$ 1,8 milhão), Maria Russo Lessa, é cunhada de Ronaldo Lessa, presidente do PDT alagoano.
Em Catanduva, interior de São Paulo, o presidente da Associação São Vicente de Paulo, Francisco Batista de Souza, o "Careca", é o provável candidato a vice-prefeito da cidade pelo mesmo PDT de Lupi. A entidade vai receber R$ 3,6 milhões.
No Rio, R$ 8,1 milhões serão destinados à Fundação Oscar Rudge, presidida por Clemilce Sanfim Carvalho, candidata a deputada federal (derrotada) pelo PDT-RJ em 2006. A Oscar Rudge já esteve envolvida em suspeitas de irregularidades com verbas repassadas pelo governo do Rio até 2006.
No total, os 12 convênios autorizados pelo Ministério do Trabalho prevêem quase R$ 70 milhões para treinar 29,5 mil jovens. O custo médio por treinado será de R$ 2.373,00. Desse total, os jovens receberão somente uma bolsa de R$ 600,00.
Os R$ 1.773,00 restantes por jovem vão para a entidade conveniada. Em vários casos, porém, a entidade terceirizará a realização dos cursos.

Força Sindical e PDT
Entre os repasses, constam ainda R$ 10,7 milhões para a DataBrasil, que funciona dentro da sede, em São Paulo, da Força Sindical (entidade presidida pelo pedetista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho), e R$ 4 milhões para o Inesp, parceira da Força Sindical em alguns projetos.
Embora os dirigentes da DataBrasil e do Inesp declarem ser concorrentes entre si no mercado de treinamento de mão-de-obra, há "atestados de capacidade técnica" de uma entidade recomendando a outra para fazer esse tipo de trabalho. E de ambas sendo recomendadas pela Força Sindical.
Na semana passada, a Folha noticiou a intenção do Ministério do Trabalho de repassar R$ 7,07 milhões à CNTM (Confederação Nacional de Trabalhadores Metalúrgicos), também filiada à Força Sindical de Paulinho (PDT), para recolocação de mão-de-obra em São Paulo.
Se aprovado, o convênio representaria um custo 97% maior por trabalhador recolocado no mercado do que o gasto hoje pelo Estado de São Paulo e 65% a mais em relação ao da prefeitura paulistana para o mesmo serviço. Ontem, uma semana após a publicação da reportagem, os valores do convênio foram modificados, barateando o custo.

Convênios suspeitos
Até 2002, vários convênios com verbas do Ministério do Trabalho para treinamento e colocação de mão-de-obra foram objeto de denúncias de irregularidades, algumas envolvendo a Força Sindical, além de outras entidades.
Entre as suspeitas, constavam treinamentos de trabalhadores "fantasmas", pessoas sendo treinadas no mesmo dia em Estados diferentes do país e estruturas totalmente incompatíveis para atender ao número de candidatos determinados nos convênios.
Após acórdão do TCU (Tribunal de Contas da União) em 2003, esse tipo de convênio foi suspenso. Meses depois, eles acabaram voltando e direcionados a entidades como as citadas acima, algumas relacionadas aos órgãos que foram objeto da suspensão e investigação -que ainda não terminou.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Outro lado: MTE e beneficiados negam influência política
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.