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Ministério do Trabalho favorece o PDT
Aliados do partido, presidido pelo ministro Carlos Lupi, vão receber cerca de R$ 50 milhões para treinar mão-de-obra jovem
Dirigentes de entidades beneficiadas são parentes,
doadores de campanha ou políticos do próprio PDT;
ministério nega preferência
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério do Trabalho e
Emprego aprovou repasse de
R$ 50 milhões a pelo menos 12
entidades ligadas ao PDT para
realizar treinamento de jovens
em vários Estados do país.
O presidente do PDT é o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e seu partido é o maior beneficiado. O ministério aprovou
30 convênios, em um total de
R$ 111,5 milhões. Mas quase a
metade do dinheiro seguirá para 12 entidades apenas, todas
relacionadas ao PDT.
Alguns dos dirigentes das entidades que estão recebendo os
recursos são parentes, doadores de campanha ou amigos dos
políticos do PDT que fizeram
os pedidos de verba. Outras organizações são chefiadas pelos
próprios políticos do PDT.
Os acordos foram assinados
entre 30 de novembro de 2007
e 10 de janeiro passado, e a primeira parcela dos repasses já
foi feita. O valor desses 12 convênios sobe para R$ 70 milhões
se computadas verbas para bolsas destinadas a jovens.
O Ministério do Trabalho e
os beneficiados pelos convênios negam irregularidades nos
repasses ou o uso de influência
política na liberação da verba.
Mãe, cunhada e candidato
No Maranhão, a Fedecma receberá R$ 3,1 milhões. A presidente da entidade é Marileide
Rocha, mãe do secretário da
Juventude do Estado, Weverton Rocha (PDT).
Em Alagoas, a vice-presidente do Lar São Domingos (R$ 1,8
milhão), Maria Russo Lessa, é
cunhada de Ronaldo Lessa,
presidente do PDT alagoano.
Em Catanduva, interior de
São Paulo, o presidente da Associação São Vicente de Paulo,
Francisco Batista de Souza, o
"Careca", é o provável candidato a vice-prefeito da cidade pelo
mesmo PDT de Lupi. A entidade vai receber R$ 3,6 milhões.
No Rio, R$ 8,1 milhões serão
destinados à Fundação Oscar
Rudge, presidida por Clemilce
Sanfim Carvalho, candidata a
deputada federal (derrotada)
pelo PDT-RJ em 2006. A Oscar
Rudge já esteve envolvida em
suspeitas de irregularidades
com verbas repassadas pelo governo do Rio até 2006.
No total, os 12 convênios autorizados pelo Ministério do
Trabalho prevêem quase R$ 70
milhões para treinar 29,5 mil
jovens. O custo médio por treinado será de R$ 2.373,00. Desse total, os jovens receberão somente uma bolsa de R$ 600,00.
Os R$ 1.773,00 restantes por
jovem vão para a entidade conveniada. Em vários casos, porém, a entidade terceirizará a
realização dos cursos.
Força Sindical e PDT
Entre os repasses, constam
ainda R$ 10,7 milhões para a
DataBrasil, que funciona dentro da sede, em São Paulo, da
Força Sindical (entidade presidida pelo pedetista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho), e R$
4 milhões para o Inesp, parceira da Força Sindical em alguns
projetos.
Embora os dirigentes da DataBrasil e do Inesp declarem
ser concorrentes entre si no
mercado de treinamento de
mão-de-obra, há "atestados de
capacidade técnica" de uma entidade recomendando a outra
para fazer esse tipo de trabalho.
E de ambas sendo recomendadas pela Força Sindical.
Na semana passada, a Folha
noticiou a intenção do Ministério do Trabalho de repassar R$
7,07 milhões à CNTM (Confederação Nacional de Trabalhadores Metalúrgicos), também
filiada à Força Sindical de Paulinho (PDT), para recolocação
de mão-de-obra em São Paulo.
Se aprovado, o convênio representaria um custo 97%
maior por trabalhador recolocado no mercado do que o gasto hoje pelo Estado de São Paulo e 65% a mais em relação ao
da prefeitura paulistana para o
mesmo serviço. Ontem, uma
semana após a publicação da
reportagem, os valores do convênio foram modificados, barateando o custo.
Convênios suspeitos
Até 2002, vários convênios
com verbas do Ministério do
Trabalho para treinamento e
colocação de mão-de-obra foram objeto de denúncias de irregularidades, algumas envolvendo a Força Sindical, além de
outras entidades.
Entre as suspeitas, constavam treinamentos de trabalhadores "fantasmas", pessoas
sendo treinadas no mesmo dia
em Estados diferentes do país e
estruturas totalmente incompatíveis para atender ao número de candidatos determinados
nos convênios.
Após acórdão do TCU (Tribunal de Contas da União) em
2003, esse tipo de convênio foi
suspenso. Meses depois, eles
acabaram voltando e direcionados a entidades como as citadas acima, algumas relacionadas aos órgãos que foram objeto da suspensão e investigação
-que ainda não terminou.
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