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RECEITA ORTODOXA
Inflação e guerra fazem Copom usar pela primeira vez instrumento do viés de alta; taxa fica em 26,5%
BC mantém juro, mas já avisa que pode subir
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelas próximas cinco semanas,
o Banco Central poderá, a qualquer momento, elevar os juros
básicos da economia. O início da
guerra entre Estados Unidos e
Iraque é um dos eventos que podem precipitar o aumento na taxa, hoje em 26,5% ao ano. Mas essa é a taxa anual básica. Na concessão de empréstimos, os bancos
cobram mais de 200% para pessoa física (cheque especial) e mais
de 60% para empresas.
A decisão foi tomada ontem pelo Copom (Comitê de Política
Monetária), que é composto pelos
diretores e pelo presidente do BC.
Pela primeira vez desde setembro,
o Copom não elevou os juros,
mantendo-os em 26,5% ao ano.
Porém, também pela primeira
vez, decidiu adotar o instrumento
conhecido como "viés de alta", o
que indica que a tendência dos juros é de alta.
Normalmente, o Copom se reúne uma vez por mês para fixar a
taxa de juros que vai vigorar até o
encontro seguinte do comitê. Em
março de 1999 foi criado o "viés",
instrumento concedido pelo próprio Copom ao presidente do BC
para que ele mexa na taxa sem
que seja necessária nova reunião.
De lá para cá, o BC já havia adotado, em dez ocasiões, o viés (tendência) de baixa, que permite que
os juros sejam reduzidos a qualquer momento. O viés de alta
nunca havia sido adotado.
A manutenção dos juros em
26,5% ao ano já era esperada,
diante da queda da inflação. Mas a
adoção do viés surpreendeu.
Nota do BC justificou a decisão
da seguinte maneira: "Incertezas
quanto à velocidade da queda da
inflação e ao cenário externo recomendam a adoção de um viés
de alta".
O BC sempre fixa os juros de
modo a tentar fazer com que a inflação fique dentro das metas fixadas. Para este ano, a meta é de
8,5%. Quando se projeta uma alta
superior a esse valor, os juros são
elevados. E vice-versa.
Ao manter os juros em 26,5% ao
ano, o BC mostra reconhecer que
a inflação tem mostrado sinais de
queda. Além disso, a instituição
informou ainda que "o Copom
entende ser necessário aguardar
os efeitos dos recentes movimentos de política monetária para
avaliar melhor os seus impactos".
Ou seja, o BC pretende, antes de
elevar de novo os juros, aguardar
para ver se os recentes aumentos
-1,5 ponto percentual desde o
início do ano- serão suficientes
para conter a alta dos preços.
Por outro lado, a adoção do viés
de alta mostra que o BC tem uma
especial preocupação com os efeitos que a guerra entre Estados
Unidos e Iraque possa ter sobre a
economia brasileira. O conflito
pode levar a aumentos na cotação
internacional do petróleo, o que
levaria a pressões sobre o preço da
gasolina no Brasil e, consequentemente, sobre a inflação.
No caso de uma guerra que se
estenda por muito tempo, o fluxo
de dólares para países emergentes
pode se reduzir. Nesse cenário, juros elevados serviriam para que o
Brasil conseguisse atrair dólares
para equilibrar suas contas externas. Sem isso, a cotação do dólar
dispararia, o que traria efeitos negativos também sobre a inflação.
A reunião de ontem foi a primeira a contar com a participação
dos três diretores indicados pelo
presidente Lula: Luiz Augusto
Candiota (Política Monetária),
Paulo Sérgio Cavalheiro (Fiscalização) e João Antônio Fleury (Administração). Os demais foram
nomeados por FHC.
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