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São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Inflação e guerra fazem Copom usar pela primeira vez instrumento do viés de alta; taxa fica em 26,5%

BC mantém juro, mas já avisa que pode subir

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelas próximas cinco semanas, o Banco Central poderá, a qualquer momento, elevar os juros básicos da economia. O início da guerra entre Estados Unidos e Iraque é um dos eventos que podem precipitar o aumento na taxa, hoje em 26,5% ao ano. Mas essa é a taxa anual básica. Na concessão de empréstimos, os bancos cobram mais de 200% para pessoa física (cheque especial) e mais de 60% para empresas.
A decisão foi tomada ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária), que é composto pelos diretores e pelo presidente do BC. Pela primeira vez desde setembro, o Copom não elevou os juros, mantendo-os em 26,5% ao ano. Porém, também pela primeira vez, decidiu adotar o instrumento conhecido como "viés de alta", o que indica que a tendência dos juros é de alta.
Normalmente, o Copom se reúne uma vez por mês para fixar a taxa de juros que vai vigorar até o encontro seguinte do comitê. Em março de 1999 foi criado o "viés", instrumento concedido pelo próprio Copom ao presidente do BC para que ele mexa na taxa sem que seja necessária nova reunião.
De lá para cá, o BC já havia adotado, em dez ocasiões, o viés (tendência) de baixa, que permite que os juros sejam reduzidos a qualquer momento. O viés de alta nunca havia sido adotado.
A manutenção dos juros em 26,5% ao ano já era esperada, diante da queda da inflação. Mas a adoção do viés surpreendeu.
Nota do BC justificou a decisão da seguinte maneira: "Incertezas quanto à velocidade da queda da inflação e ao cenário externo recomendam a adoção de um viés de alta".
O BC sempre fixa os juros de modo a tentar fazer com que a inflação fique dentro das metas fixadas. Para este ano, a meta é de 8,5%. Quando se projeta uma alta superior a esse valor, os juros são elevados. E vice-versa.
Ao manter os juros em 26,5% ao ano, o BC mostra reconhecer que a inflação tem mostrado sinais de queda. Além disso, a instituição informou ainda que "o Copom entende ser necessário aguardar os efeitos dos recentes movimentos de política monetária para avaliar melhor os seus impactos".
Ou seja, o BC pretende, antes de elevar de novo os juros, aguardar para ver se os recentes aumentos -1,5 ponto percentual desde o início do ano- serão suficientes para conter a alta dos preços.
Por outro lado, a adoção do viés de alta mostra que o BC tem uma especial preocupação com os efeitos que a guerra entre Estados Unidos e Iraque possa ter sobre a economia brasileira. O conflito pode levar a aumentos na cotação internacional do petróleo, o que levaria a pressões sobre o preço da gasolina no Brasil e, consequentemente, sobre a inflação.
No caso de uma guerra que se estenda por muito tempo, o fluxo de dólares para países emergentes pode se reduzir. Nesse cenário, juros elevados serviriam para que o Brasil conseguisse atrair dólares para equilibrar suas contas externas. Sem isso, a cotação do dólar dispararia, o que traria efeitos negativos também sobre a inflação.
A reunião de ontem foi a primeira a contar com a participação dos três diretores indicados pelo presidente Lula: Luiz Augusto Candiota (Política Monetária), Paulo Sérgio Cavalheiro (Fiscalização) e João Antônio Fleury (Administração). Os demais foram nomeados por FHC.


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