São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2003 |
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Tendência de elevar juros surpreende e provoca críticas Para Fiesp, adoção de viés de alta é decisão "inoportuna"
DA REPORTAGEM LOCAL A decisão do Banco Central de manter os juros básicos da economia em 26,5% ao ano já era esperada pela maioria do mercado. Entretanto o viés de alta adotado pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) surpreendeu e recebeu críticas. O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, considerou "inoportuna" a decisão. "Não tenho nada a dizer com relação à manutenção dos juros, mas acho inoportuno o viés de alta", afirmou. Para Piva, a política monetária adotada pelo BC no novo governo já está bastante restritiva e tem provocado não só uma enorme desaceleração da economia como também uma certa tendência de queda da inflação. "Não sei por que esse viés de alta, imagino que seja a preocupação com a guerra", disse Piva. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, lamentou o uso do viés e disse que o governo poderá ter de conviver com a maior taxa de desemprego já registrada no Brasil. "A manutenção dos juros altos só vai trazer mais desemprego e mais recessão", afirma. Reunião extraordinária Na opinião de economistas ouvidos pela Folha, o Copom poderia ter mantido os juros sem adotar o viés e, caso os indicadores econômicos piorassem durante o mês devido à guerra, convocar uma reunião extraordinária. Para outros analistas, outra alternativa seria uma elevação de meio ponto percentual, o que eliminaria a incerteza e traria um consenso de que a taxa seria mantida em abril. "A melhor decisão era subir a Selic para 27%. Isso teria um efeito positivo sobre as expectativas do mercado em relação à evolução da inflação", diz Marcelo Cypriano, economista sênior do BankBoston. Para Marco Maciel, economista-chefe do banco Santos, a adoção do viés aumentou indiretamente a taxa, sem provocar o ônus político que a elevação da Selic traria para o governo. Isso porque houve um aumento das taxas de juros prefixadas. Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), as taxas nos contratos DI (juro interbancário) com vencimento em julho, os mais negociados, subiram de 26,65% para 27,07% anuais. "Na prática, o aumento ocorreu. O mercado "fez" o aumento para o governo", afirma Maciel. "A inquietação eleva os juros na BM&F, porque passa a ser incorporado o elemento da incerteza", disse Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB. Argumento descabido Abate criticou os motivos para a adoção do viés registrados na nota do Copom. "A justificativa de que não se conhece a velocidade de queda da inflação é um argumento descabido e que não faz sentido", afirma Abate. Para os analistas, os desdobramentos da guerra vão muito além da próxima reunião do Copom e ainda não há argumentos suficientes para avaliar a eficácia dos últimos aumentos dos juros. "Nós ainda não temos sequer os dados da indústria e comércio de fevereiro e só vamos tê-los em abril", disse Maciel. Texto Anterior: A nota do Copom Próximo Texto: Repercussão Índice |
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