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OPINIÃO ECONÔMICA
PPP não é panacéia
GESNER OLIVEIRA
A aprovação pela Câmara
nesta semana de projeto de
PPP (Parceria Público-Privada)
constitui passo inicial na criação
de instrumento de mobilização de
recursos privados indispensáveis
ao investimento, especialmente
em infra-estrutura. Mas não é
uma panacéia. Não é um remédio
para resolver todos os males de
crescimento que vitimam o país.
A principal virtude da PPP reside no papel de redutor de risco para o investimento privado. A adesão de um investidor a uma parceria com o setor público se torna
mais atraente porque, em tese, haveria maior garantia de rentabilidade e recuperação do capital
aplicado.
No entanto, a PPP deve ser bem
implementada ou será insuficiente (ou até mesmo contraproducente) para o investimento privado. Há três motivos principais para preocupação.
Em primeiro lugar, a redução de
risco para o setor privado não pode ser obtida à custa da elevação
do risco fiscal. Preocupa, nesse
sentido, que o projeto aprovado,
cujo texto definitivo ainda não estava disponível no site da Câmara
ontem, venha a representar possível burla à Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso poderá vir a ocorrer
sem um comando claro de inclusão das despesas dos Estados com
as PPPs em seus respectivos limites de endividamento.
A retomada do investimento
não depende apenas de melhores
condições para o agente privado.
O equilíbrio das contas públicas é
fundamental, ao gerar poupança
pública capaz de financiar gastos
sem gerar pressões inflacionárias
ou de endividamento -que terminam por inviabilizar o crescimento.
Em segundo lugar, a PPP é um
contrato guarda-chuva. A PPP
não substitui as regras setoriais,
mas as complementa. A parceria
só funciona se, além dos termos
gerais da PPP, estiverem definidas
regras claras e adequadas para
cada segmento de infra-estrutura.
Infelizmente, transcorridos quase 15 meses de governo Lula, isso
ainda não ocorreu. E o pior é que
as principais preocupações persistem em segmentos particularmente carentes de investimento,
como os de saneamento e de energia elétrica. Na maioria das questões de infra-estrutura, há apenas
promessas genéricas, como as que
foram feitas na campanha presidencial.
De concreto, existem apenas
episódios preocupantes de redução da autonomia das agências
reguladoras setoriais, como o da
demissão, na prática, de Luiz
Schymura da presidência da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Em terceiro lugar, somam-se às
indefinições microeconômicas as
dúvidas quanto ao desempenho
macroeconômico. É verdade que é
quase impossível não crescer entre
3% e 4% em 2004 diante das previsões para o comportamento da
economia mundial.
No entanto o excesso de conservadorismo da política monetária
e a descoordenação dentro do
partido do governo podem colocar a perder a atual janela de
oportunidade. Isso faz com que as
projeções para 2005-06 se tornem
ainda mais incertas, inibindo a
inversão de médio prazo.
Uma parceria bem-sucedida entre os setores público e privado em
projetos de longa maturação requer objetivos e regras claras, bem
como sinais favoráveis para a demanda futura. São todos elementos em falta na atual conjuntura.
Gesner Oliveira, 47, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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