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COLATERAL
Julgamento do mercado é mais rigoroso que o do Congresso, e instituições ligadas ao escândalo registram fortes perdas
Banco do mensalão sofre mais que políticos
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O julgamento político dos suspeitos de participar do esquema
do "mensalão" tem sido razoavelmente brando: até agora, cinco
deputados foram absolvidos das
acusações, quatro renunciaram
para evitar a cassação e somente
três perderam o mandato.
Muito mais rígido foi o julgamento que o mercado fez em relação aos bancos que, em maior ou
menor grau, estiveram envolvidos com as denúncias de corrupção. As instituições financeiras
que tiveram seus nomes citados
em alguma das CPIs em andamento em Brasília sofreram fortes
perdas no ano passado.
Os prejuízos vieram, em boa
parte, da desconfiança dos clientes. Independentemente da existência ou não de provas sobre
eventuais irregularidades cometidas por esses bancos, muitas pessoas e empresas preferiram não
manter negócios com instituições
que passaram a sofrer grande exposição na mídia devido a seu envolvimento com a crise política.
A conseqüência mais drástica
foi sentida pela corretora Bônus
Banval, apontada pela CPI dos
Correios como intermediária nos
repasses de dinheiro a partidos
aliados do governo.
No fim de 2004, a corretora tinha sob sua responsabilidade ativos que somavam R$ 2,413 bilhões, segundo balancetes entregues ao Banco Central
(BC). Em dezembro de
2005, esse valor havia caído para R$ 157 milhões.
A Bônus Banval sempre
negou a existência de irregularidades nas suas operações. Ainda assim, diante da fuga de clientes, a
corretora decidiu fechar
as portas: entregou ao BC,
em janeiro, um pedido
para que seu registro de
instituição financeira seja
cancelado -a requisição
ainda está em análise.
Na semana passada,
ninguém atendia nos telefones da antiga sede da
instituição.
BMG
Os bancos BMG e Rural
tiveram sorte melhor que
a da Bônus Banval, mas
também enfrentaram dificuldades. Das agências
dos dois bancos eram feitos saques de recursos supostamente destinados ao
financiamento irregular
de campanhas políticas.
Ambos sofreram uma
fuga de depósitos. Em dezembro de 2004, o BMG
era o 27º maior banco do
país em depósitos, com um saldo
de R$ 1,283 bilhão -concentrados, principalmente, em CDBs.
No final de 2005, o total de aplicações já havia caído pela metade,
passando para R$ 678 milhões
-valor que lhe valeu somente a
40º colocação no ranking.
As perdas do BMG só não foram
maiores devido à sua forte presença no mercado de crédito consignado -empréstimos com desconto direto no salário dos devedores. Graças a isso, o banco se
manteve lucrativo em 2005, com
ganhos de R$ 383 milhões.
Procurado pela Folha, o BMG
informou, por meio de sua assessoria, que o banco "mantém sua credibilidade no
mercado financeiro, apesar da crise política que
envolveu o Congresso
Nacional". Também de
acordo com a assessoria,
a fuga de depósitos se deveu à quebra do Banco
Santos, no final de 2004,
que despertou desconfiança do mercado em relação a instituições financeiras de pequeno e médio porte.
O banco diz ainda que
essa perda de clientes foi
compensada pela "venda
de recebíveis da carteira
de crédito". Curiosamente, parte da carteira do
BMG foi vendida à CEF
(Caixa Econômica Federal), em operações que totalizaram cerca de R$ 1 bilhão e que estão sendo
analisadas pela CPI dos
Correios.
Rural
Sem ter uma carteira de
crédito como a do BMG
para se sustentar, o Rural
acabou tendo forte prejuízo no ano passado. O
balanço de 2005 ainda
não foi finalizado, mas as perdas
acumuladas até novembro já
eram de R$ 221 milhões.
Depois que as primeiras denúncias de corrupção vieram a público, o Rural passou por um forte
ajuste. Os depósitos feitos por
seus clientes, que eram de R$ 3 bilhões no final de 2004, caíram para R$ 1,4 bilhão em novembro de
2005. Dos 2.214 funcionários, restaram 1.279, e as 85 agências foram reduzidas para 48.
Procurada pela Folha, a direção
do Rural não quis se manifestar
sobre o assunto.
Banco do Brasil
Dos principais bancos envolvidos na crise, o Banco do Brasil foi
o que menos sofreu, pelo menos
financeiramente, com as denúncias. Em 2005 o BB foi alvo de acusações devido ao relacionamento
de seu diretor de Marketing, Henrique Pizzolato, com o publicitário Marcos Valério de Souza e
com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Pizzolato, funcionário de carreira do BB, acabou pedindo aposentadoria e se afastou da direção
do banco em julho do ano passado. Na mesma época, o BB rescindiu seu contrato com a DNA, uma
das agências de Marcos Valério.
O banco fez uma auditoria na
sua área de marketing e ficou quase quatro meses sem veicular novas campanhas publicitárias.
Apesar disso, no ano passado o
BB teve um lucro recorde de R$
4,154 bilhões. Mas, ao divulgar o
resultado, o seu próprio presidente, Rossano Maranhão, reconheceu que as denúncias acabaram
por "drenar um certo nível de
energia" do banco.
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