São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2006

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COLATERAL

Julgamento do mercado é mais rigoroso que o do Congresso, e instituições ligadas ao escândalo registram fortes perdas

Banco do mensalão sofre mais que políticos

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O julgamento político dos suspeitos de participar do esquema do "mensalão" tem sido razoavelmente brando: até agora, cinco deputados foram absolvidos das acusações, quatro renunciaram para evitar a cassação e somente três perderam o mandato.
Muito mais rígido foi o julgamento que o mercado fez em relação aos bancos que, em maior ou menor grau, estiveram envolvidos com as denúncias de corrupção. As instituições financeiras que tiveram seus nomes citados em alguma das CPIs em andamento em Brasília sofreram fortes perdas no ano passado.
Os prejuízos vieram, em boa parte, da desconfiança dos clientes. Independentemente da existência ou não de provas sobre eventuais irregularidades cometidas por esses bancos, muitas pessoas e empresas preferiram não manter negócios com instituições que passaram a sofrer grande exposição na mídia devido a seu envolvimento com a crise política.
A conseqüência mais drástica foi sentida pela corretora Bônus Banval, apontada pela CPI dos Correios como intermediária nos repasses de dinheiro a partidos aliados do governo.
No fim de 2004, a corretora tinha sob sua responsabilidade ativos que somavam R$ 2,413 bilhões, segundo balancetes entregues ao Banco Central (BC). Em dezembro de 2005, esse valor havia caído para R$ 157 milhões.
A Bônus Banval sempre negou a existência de irregularidades nas suas operações. Ainda assim, diante da fuga de clientes, a corretora decidiu fechar as portas: entregou ao BC, em janeiro, um pedido para que seu registro de instituição financeira seja cancelado -a requisição ainda está em análise.
Na semana passada, ninguém atendia nos telefones da antiga sede da instituição.

BMG
Os bancos BMG e Rural tiveram sorte melhor que a da Bônus Banval, mas também enfrentaram dificuldades. Das agências dos dois bancos eram feitos saques de recursos supostamente destinados ao financiamento irregular de campanhas políticas.
Ambos sofreram uma fuga de depósitos. Em dezembro de 2004, o BMG era o 27º maior banco do país em depósitos, com um saldo de R$ 1,283 bilhão -concentrados, principalmente, em CDBs.
No final de 2005, o total de aplicações já havia caído pela metade, passando para R$ 678 milhões -valor que lhe valeu somente a 40º colocação no ranking.
As perdas do BMG só não foram maiores devido à sua forte presença no mercado de crédito consignado -empréstimos com desconto direto no salário dos devedores. Graças a isso, o banco se manteve lucrativo em 2005, com ganhos de R$ 383 milhões.
Procurado pela Folha, o BMG informou, por meio de sua assessoria, que o banco "mantém sua credibilidade no mercado financeiro, apesar da crise política que envolveu o Congresso Nacional". Também de acordo com a assessoria, a fuga de depósitos se deveu à quebra do Banco Santos, no final de 2004, que despertou desconfiança do mercado em relação a instituições financeiras de pequeno e médio porte.
O banco diz ainda que essa perda de clientes foi compensada pela "venda de recebíveis da carteira de crédito". Curiosamente, parte da carteira do BMG foi vendida à CEF (Caixa Econômica Federal), em operações que totalizaram cerca de R$ 1 bilhão e que estão sendo analisadas pela CPI dos Correios.

Rural
Sem ter uma carteira de crédito como a do BMG para se sustentar, o Rural acabou tendo forte prejuízo no ano passado. O balanço de 2005 ainda não foi finalizado, mas as perdas acumuladas até novembro já eram de R$ 221 milhões.
Depois que as primeiras denúncias de corrupção vieram a público, o Rural passou por um forte ajuste. Os depósitos feitos por seus clientes, que eram de R$ 3 bilhões no final de 2004, caíram para R$ 1,4 bilhão em novembro de 2005. Dos 2.214 funcionários, restaram 1.279, e as 85 agências foram reduzidas para 48.
Procurada pela Folha, a direção do Rural não quis se manifestar sobre o assunto.

Banco do Brasil
Dos principais bancos envolvidos na crise, o Banco do Brasil foi o que menos sofreu, pelo menos financeiramente, com as denúncias. Em 2005 o BB foi alvo de acusações devido ao relacionamento de seu diretor de Marketing, Henrique Pizzolato, com o publicitário Marcos Valério de Souza e com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Pizzolato, funcionário de carreira do BB, acabou pedindo aposentadoria e se afastou da direção do banco em julho do ano passado. Na mesma época, o BB rescindiu seu contrato com a DNA, uma das agências de Marcos Valério.
O banco fez uma auditoria na sua área de marketing e ficou quase quatro meses sem veicular novas campanhas publicitárias.
Apesar disso, no ano passado o BB teve um lucro recorde de R$ 4,154 bilhões. Mas, ao divulgar o resultado, o seu próprio presidente, Rossano Maranhão, reconheceu que as denúncias acabaram por "drenar um certo nível de energia" do banco.


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