São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 2006

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MERCADO FINANCEIRO

Para economistas, redução dos juros vai acelerar a atividade, especialmente no segundo semestre

Vendas e estoques indicam alta na produção

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O forte crescimento das vendas da indústria em janeiro, mais robustas que a produção, indica que os estoques se reduziram e devem estar próximos dos níveis desejados. Com isso, se as vendas continuarem a crescer, a produção deve acompanhá-las.
Para economistas, reforça-se a expectativa de aceleração da atividade com a queda dos juros, especialmente no segundo semestre deste ano, que será comparado ao mesmo período de 2005, um semestre muito fraco.
As vendas reais cresceram 4,9% em janeiro passado em relação ao mesmo mês em 2005, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), depois de oito meses em que quase não houve expansão; a média foi de apenas 0,1%.
Apesar do aumento das vendas, o número de horas trabalhadas na produção cresceu pouco, e a utilização da capacidade instalada continuou a cair, de acordo com dados da CNI.
Para analistas, a alta de apenas 1,2% das horas trabalhadas em janeiro, em comparação com o mesmo mês do ano passado, e a queda de 80,6% em dezembro para 80,4% em janeiro da utilização da capacidade instalada não preocupam tanto, uma vez que se observam sinais de recuperação da atividade econômica.
"Certamente, houve uma redução significativa dos estoques. Como em 2005 houve expansão do investimento, ainda que pequena, e, em janeiro, a produção caiu, é natural uma redução da utilização da capacidade instalada", afirma Tomás Málaga, economista do banco Itaú.
"Observando a formação bruta de capital fixo andando muito lentamente, sou mais da teoria de que a queima de estoques tem contribuído mais para o processo de queda de horas trabalhadas e menor utilização da capacidade do que a da chamada maturação de novos investimentos", afirma Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management.
Animadas com o forte crescimento de 2004, muitos empresas devem ter estocado no final daquele ano e no primeiro semestre de 2005, esperando a repetição de um ano similar.
Mas, no ano passado, vieram a crise política e a alta de juros por conta da inflação. Em conseqüência desses movimentos, a economia não andou como se esperava. O consumidor se retraiu, e os estoques ficaram encalhados.
Em janeiro, a produção industrial não teve desempenho melhor: caiu 1,7%.
Com a utilização da capacidade instalada sob controle e a expectativa de inflação bem-comportada, o que esperar dos próximos passos da política monetária?
Por ora, nada de redução mais forte dos juros, de acordo com muitos economistas.

Clareza
Para Málaga, o Banco Central poucas vezes foi tão claro: a trajetória é de queda, mas, como existe incerteza quanto ao impacto das reduções anteriores, a autoridade monetária terá cautela para conseguir um corte maior dos juros em um prazo menor.
"Uma maneira complicada de dizer que a próxima redução é de, no máximo, 0,75 ponto percentual, e que os cortes seguintes vão depender de como a inflação evoluirá", diz Málaga.
"O BC já poderia ter cortado um ponto percentual na reunião passada. Há de se reconhecer, porém, que, quanto mais se aproxima o final do ciclo de corte, mais improvável parece ser a aceleração de seu ritmo", diz Póvoa.


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