São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FGTS pode render menos que a inflação

Se governo não mudar forma de cálculo, fundo dos trabalhadores deve render menos que alta de preços já em 2008

Fazenda indica que pode mudar novamente cálculo do reajuste para respeitar "rentabilidade" do fundo, que tem mais de R$ 181 bi

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O dinheiro do trabalhador depositado no FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) poderá ser corroído pela inflação a partir de 2008, caso o governo não mude a fórmula de correção dos recursos.
No fim deste ano, a correção do FGTS deverá empatar com a inflação, na melhor das hipóteses, ou ficar ligeiramente negativa, segundo cálculos do professor José Dutra Sobrinho, matemático da USP (Universidade de São Paulo).
O Ministério da Fazenda, em documento interno enviado à Folha, compromete-se a "respeitar a necessidade de preservar a rentabilidade do FGTS" caso o rendimento fique negativo.
O estudo da Fazenda projeta uma correção do FGTS acima da inflação neste ano, mas não faz projeções para 2008.
Se os preços ficarem em 4,5% no próximo ano, como acredita o ministro Guido Mantega (Fazenda), os depósitos do FGTS terão um rendimento abaixo da inflação de aproximadamente 0,3%.
Mas, se for confirmado o cenário projetado pelo mercado financeiro, em que a inflação é de 3,87%, a correção do dinheiro depositado pelos trabalhadores deve superar a inflação em apenas 0,3%.

R$ 181 bilhões
O FGTS tem depósitos de mais de R$ 181 bilhões e, no ano passado, os recursos foram remunerados em quase 2% acima da inflação do período medida pelo IPCA.
"Essa é uma hipótese muito provável [de rendimento abaixo da inflação]. Neste ano não deve acontecer, mas, em 2008, se a fórmula não sofrer alterações, o trabalhador deve ser prejudicado", afirmou Dutra Sobrinho.
Os depósitos do FGTS tendem a perder para a inflação quando os juros básicos definidos pelo BC caírem abaixo de 11,5%, o que o mercado financeiro espera que aconteça no fim de 2007.
Se esse cenário se confirmar, a taxa de mercado oferecida pelos bancos em seus CDBs -que serve de base para o cálculo da TR- será de 11%. Esse percentual é o piso estabelecido pelo Banco Central para aplicar a atual fórmula de cálculo.

CMN
Com uma queda nos juros básicos -hoje em 12,75%- e, em conseqüência, das taxas de mercado, o CMN (Conselho Monetário Nacional, formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e o presidente do BC) terá que decidir como a TR passará a ser calculada.
Como não se sabe qual será a nova norma, é impossível dizer com certeza de quanto será o rendimento do FGTS se os juros básicos chegarem a 10,5% no fim de 2008, como projeta o mercado financeiro.
Mas, se os parâmetros da fórmula atual forem aplicados a essa taxa de juros menor, o dinheiro do trabalhador no FGTS será remunerado em cerca de 3,5% para uma inflação esperada de cerca de 4%.
"Com a queda nos juros, a tendência é de rendimento abaixo da inflação, mas é possível encontrar meios para que isso não se torne permanente", disse o economista Sérgio Vale, da MB Associados.
Uma remuneração abaixo da inflação significa que o trabalhador está perdendo dinheiro. O que ocorre na prática é o seguinte: um trabalhador que tenha R$ 10.000 no FGTS no início de 2008 chegará ao final do ano com R$ 10.350 em sua conta vinculada.
Se a correção fosse somente pela inflação estimada pelo mercado financeiro para 2008, de 4%, o saldo no final do próximo ano -sem contar novos depósitos- seria de R$ 10.400.
Essa é a segunda decisão recente do governo que pode prejudicar o trabalhador que tem recursos no FGTS. A primeira foi a criação de um fundo de investimento em infra-estrutura que terá até R$ 5 bilhões dos trabalhadores. O problema nesse caso é que, se a obra der prejuízo ou render abaixo do esperado, o patrimônio do FGTS poderá ser reduzido.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Sindicatos prometem ação na Justiça
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.