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VINICIUS TORRES FREIRE
A CPI e cadáveres do governo Lula
CPI do tumulto aéreo pode desenterrar escândalos em obras de aeroportos e até de investigações do mensalão
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"AQUELE CADÁVER que você
plantou no seu jardim, no
ano passado, já começou
a brotar? Vai dar flores este ano?".
Os versos de Eliot são elegantes demais para lembrar os corpos enterrados na horta de escândalos petista-lulista. Mas fazem uma pergunta
que os coveiros de CPI não querem
nem ouvir. "Mantenha longe esse
amigo do homem, o Cão, ou ele vai
desenterrar o corpo com suas unhas
de novo", escreveu Eliot.
O governo e o porta-voz de Lula na
Câmara, Arlindo Chinaglia, ouviram
o conselho do poeta anglo-americano. Estão com as mãos ocupadas
com pás cheias de cal, que pretendem jogar na CPI do tumulto aéreo.
Além da incompetência e do desinvestimento na manutenção do
serviço público, há de tudo nas cercanias da tumba da aviação. Há o
melindre militar. Há companhias
aéreas, sua promiscuidade com o setor público, as dívidas bilionárias
dessas companhias com a Infraero.
Há, em especial, a Infraero.
O Tribunal de Contas da União
(TCU) tem dezenas de investigações
sobre a estatal dos serviços aeroportuários, seguida de perto pelo Ministério Público.
Há suspeitas recentíssimas, de superfaturamento das obras da pista
de Congonhas, o que veio a público
na semana passada, quando o brigadeiro José Carlos Pereira falava à
Câmara. Há suspeitas antigas, que
vêm do governo FHC, como as obras
do aeroporto de Salvador. Ou de Viracopos. Nesse caso, os diretores
acusados continuaram na cúpula da
empresa mesmo durante a gestão do
hoje deputado federal Carlos Wilson (PT-PE), então agraciado por
Lula com o cargo por pertencer ao
PTB de Roberto Jefferson.
Roberto Jefferson? CPI dos Correios? Mensalão? Sim, a Infraero foi
investigada na CPI dos Correios devido à suspeita de fraude em contratos de publicidade (aliás, por que a Infraero precisa fazer publicidade
comercial? Não tem concorrentes).
Mas houve mais. A Infraero também estava no rolo do IRB, o Instituto de Resseguros do Brasil, outra estrela do mensalão. Ainda há quem
lembre? A empresa foi uma das estatais que recomendaram ao IRB a
contratação da Assurê, a corretora
de seguros do amigo de Roberto Jefferson. Sua diretoria foi investigada,
pois, por tráfico de influência.
O TCU e o Ministério Público investigaram ainda fraudes em contratos de informática e em obras nos
aeroportos de Cumbica (Guarulhos), Congonhas, da Pampulha,
Santos Dumont e de Goiânia.
Entre as suspeitas, direcionamento de licitação e superfaturamento.
Foram, aliás, obras que custaram
centenas de milhões de reais. O conserto da pista de Congonhas, que se
tornou uma pista de patinação mortal, custará muito menos. E quase
tanto quanto certos contratos de publicidade que a Infraero fechou sob
o governo Lula 1.
O que isso tem a ver com a desorganização e a obsolescência do sistema de proteção do vôo? Diretamente, nada. Mas trata-se de espaço
aberto para o vôo livre de rapina de
parlamentares de oposição, entre
eles tucanos e pefelês, que conhecem bem o risco político de CPIs,
que tantas enterraram sob FHC. Daí
o alvoroço do governo Lula, que está
até deixando o PAC atrasar por conta da ameaça de aerocpi.
vinit@uol.com.br
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