São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

A CPI e cadáveres do governo Lula


CPI do tumulto aéreo pode desenterrar escândalos em obras de aeroportos e até de investigações do mensalão

"AQUELE CADÁVER que você plantou no seu jardim, no ano passado, já começou a brotar? Vai dar flores este ano?".
Os versos de Eliot são elegantes demais para lembrar os corpos enterrados na horta de escândalos petista-lulista. Mas fazem uma pergunta que os coveiros de CPI não querem nem ouvir. "Mantenha longe esse amigo do homem, o Cão, ou ele vai desenterrar o corpo com suas unhas de novo", escreveu Eliot.
O governo e o porta-voz de Lula na Câmara, Arlindo Chinaglia, ouviram o conselho do poeta anglo-americano. Estão com as mãos ocupadas com pás cheias de cal, que pretendem jogar na CPI do tumulto aéreo.
Além da incompetência e do desinvestimento na manutenção do serviço público, há de tudo nas cercanias da tumba da aviação. Há o melindre militar. Há companhias aéreas, sua promiscuidade com o setor público, as dívidas bilionárias dessas companhias com a Infraero.
Há, em especial, a Infraero. O Tribunal de Contas da União (TCU) tem dezenas de investigações sobre a estatal dos serviços aeroportuários, seguida de perto pelo Ministério Público.
Há suspeitas recentíssimas, de superfaturamento das obras da pista de Congonhas, o que veio a público na semana passada, quando o brigadeiro José Carlos Pereira falava à Câmara. Há suspeitas antigas, que vêm do governo FHC, como as obras do aeroporto de Salvador. Ou de Viracopos. Nesse caso, os diretores acusados continuaram na cúpula da empresa mesmo durante a gestão do hoje deputado federal Carlos Wilson (PT-PE), então agraciado por Lula com o cargo por pertencer ao PTB de Roberto Jefferson.
Roberto Jefferson? CPI dos Correios? Mensalão? Sim, a Infraero foi investigada na CPI dos Correios devido à suspeita de fraude em contratos de publicidade (aliás, por que a Infraero precisa fazer publicidade comercial? Não tem concorrentes).
Mas houve mais. A Infraero também estava no rolo do IRB, o Instituto de Resseguros do Brasil, outra estrela do mensalão. Ainda há quem lembre? A empresa foi uma das estatais que recomendaram ao IRB a contratação da Assurê, a corretora de seguros do amigo de Roberto Jefferson. Sua diretoria foi investigada, pois, por tráfico de influência.
O TCU e o Ministério Público investigaram ainda fraudes em contratos de informática e em obras nos aeroportos de Cumbica (Guarulhos), Congonhas, da Pampulha, Santos Dumont e de Goiânia.
Entre as suspeitas, direcionamento de licitação e superfaturamento. Foram, aliás, obras que custaram centenas de milhões de reais. O conserto da pista de Congonhas, que se tornou uma pista de patinação mortal, custará muito menos. E quase tanto quanto certos contratos de publicidade que a Infraero fechou sob o governo Lula 1.
O que isso tem a ver com a desorganização e a obsolescência do sistema de proteção do vôo? Diretamente, nada. Mas trata-se de espaço aberto para o vôo livre de rapina de parlamentares de oposição, entre eles tucanos e pefelês, que conhecem bem o risco político de CPIs, que tantas enterraram sob FHC. Daí o alvoroço do governo Lula, que está até deixando o PAC atrasar por conta da ameaça de aerocpi.

vinit@uol.com.br


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