São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2008

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Bolsa recua 5% no 2º pior pregão do ano

Com aversão ao risco e temor de freada mundial, estrangeiro revê aplicações no setor de commodities; dólar sobe quase 2%

Dúvidas sobre eficiência de medidas do Fed fazem investidor buscar ativo mais seguro; ações da Vale e da Petrobras caem mais de 7%

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após comemorarem as medidas tomadas pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano) para tentar resolver a crise na qual mergulhou o sistema financeiro dos EUA, os mercados no mundo inteiro voltaram a sucumbir ao pessimismo que dá o tom dos negócios nas últimas semanas. A Bovespa sofreu a segunda pior queda no ano: 5,01%, para 58.827 pontos. A maior baixa em 2008, de 6,6%, havia sido registrada no dia 21 de janeiro.
"O que se viu nesta quarta-feira foi uma forte aversão ao risco", explica Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora. "Na véspera, o mercado tinha subido bastante, então já amanheceu um pouco de ressaca. O clima piorou de vez à tarde, com a queda dos preços das commodities." Grande parte das companhias brasileiras listadas na Bolsa é desse setor, daí a sua acentuada queda.
A Bolsa de Valores de São Paulo começou o dia com pequena elevação, chegou a registrar alta de 0,71%, mas depois inverteu e passou a cair, acelerando o ritmo de baixa no final do expediente.
A Bovespa acompanhou, dessa forma, o movimento das principais Bolsas mundiais. As asiáticas foram exceção, porque operaram ainda na esteira do bom humor da terça-feira -a do Japão subiu 2,48% e a de Hong Kong teve elevação de 2,26%. Mas as européias padeceram. A de Londres recuou 1,07%, a de Paris teve queda de 0,58%, e a de Frankfurt, de 0,5%. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York teve baixa de 2,36%, e a Nasdaq (onde se negociam papéis de empresas de tecnologia) caiu 2,57%.
No início da sessão de ontem, saiu o balanço do banco de investimentos Morgan Stanley. Seu lucro líquido caiu 42% no primeiro trimestre fiscal, para US$ 1,55 bilhão (aproximadamente R$ 2,6 bilhões) ou US$ 1,45 por ação, quando se esperava um ganho de apenas US$ 1,03 por ação. "Foram bons números. Entretanto, não ajudaram, pois surgiram boatos de que alguns ativos estavam superavaliados", comenta Mário Battistel, gerente de câmbio da corretora Fair.
Outra notícia positiva foi ignorada no meio do pânico. O governo americano reduziu a reserva compulsória de recursos das gigantes do segmento de financiamento à habitação Fannie Mae e Freddie Mac, o que deve liberar recursos para aliviar a situação de mutuários que não estão conseguindo pagar as prestações da casa própria. As turbulências todas tiveram início na inadimplência entre os consumidores do segmento "subprime" (de alto risco). Os empréstimos concedidos a eles eram a garantia de títulos que as financeiras lançavam no mercado. Outros bancos adquiriam esses bônus e também criavam títulos lastreados neles, e assim ocorria várias vezes sucessivas, daí estarem tantas instituições enfrentando dificuldades.

Mundo real
Nesse cenário, as perspectivas para a economia americana é que continuam desanimando. Investidores e especialistas temem que a atuação do Fed seja insuficiente para conter os problemas no segmento de empréstimos imobiliários e que eles causem uma crise em todo o sistema financeiro do país. A maior parte dos analistas já acredita que os EUA estejam entrando em recessão, porém a sua duração e profundidade dependem muito do tamanho das perdas enfrentadas pelos bancos. "O mercado está inseguro diante das incertezas a respeito da dimensão do rombo", afirma Battistel.
Por isso, os investidores fogem do risco de perder mais dinheiro do que já imaginam ter perdido. Uma recessão nos EUA, maior economia global, provocaria o desaquecimento de outros países e, conseqüentemente, diminuíra a demanda por commodities agrícolas, metálicas e petróleo. Os preços desses produtos recuaram muito ontem, enquanto quem estava colocando seu dinheiro neles resolveu correr para ativos considerados mais seguros, especialmente os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Assim, as ações de empresas ligadas ao setor de commodities foram castigadas. Na Bovespa, as preferenciais (PN) da Petrobras tiveram desvalorização de 7,4%, a R$ 69,40, e as ordinárias caíram 5,91%, a R$ 84,69. As PN da Companhia Vale do Rio Doce recuaram 7,2%, a R$ 44,26, e as ON registraram baixa de 6%, a R$ 53,65. "A queda desses quatro papéis deve ter respondido por cerca de dois pontos do total da baixa do Ibovespa [principal índice da Bolsa paulista]", diz Bandeira. "Eles têm grande liquidez, por isso é deles que os investidores se livram primeiro."
A retirada dos estrangeiros ficou bem evidente no mercado de câmbio. O dólar comercial terminou a quarta-feira vendido a R$ 1,721, com uma valorização de 1,83%.


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