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Bolsa recua 5% no 2º pior pregão do ano
Com aversão ao risco e temor de freada mundial, estrangeiro revê aplicações no setor de commodities; dólar sobe quase 2%
Dúvidas sobre eficiência de medidas do Fed fazem
investidor buscar ativo mais seguro; ações da Vale e da
Petrobras caem mais de 7%
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia após comemorarem
as medidas tomadas pelo Fed
(Federal Reserve, banco central americano) para tentar resolver a crise na qual mergulhou o sistema financeiro dos
EUA, os mercados no mundo
inteiro voltaram a sucumbir ao
pessimismo que dá o tom dos
negócios nas últimas semanas.
A Bovespa sofreu a segunda
pior queda no ano: 5,01%, para
58.827 pontos. A maior baixa
em 2008, de 6,6%, havia sido
registrada no dia 21 de janeiro.
"O que se viu nesta quarta-feira foi uma forte aversão ao
risco", explica Álvaro Bandeira,
diretor da corretora Ágora. "Na
véspera, o mercado tinha subido bastante, então já amanheceu um pouco de ressaca. O clima piorou de vez à tarde, com a
queda dos preços das commodities." Grande parte das companhias brasileiras listadas na
Bolsa é desse setor, daí a sua
acentuada queda.
A Bolsa de Valores de São
Paulo começou o dia com pequena elevação, chegou a registrar alta de 0,71%, mas depois
inverteu e passou a cair, acelerando o ritmo de baixa no final
do expediente.
A Bovespa acompanhou, dessa forma, o movimento das
principais Bolsas mundiais. As
asiáticas foram exceção, porque operaram ainda na esteira
do bom humor da terça-feira
-a do Japão subiu 2,48% e a de
Hong Kong teve elevação de
2,26%. Mas as européias padeceram. A de Londres recuou
1,07%, a de Paris teve queda de
0,58%, e a de Frankfurt, de
0,5%. O índice Dow Jones da
Bolsa de Nova York teve baixa
de 2,36%, e a Nasdaq (onde se
negociam papéis de empresas
de tecnologia) caiu 2,57%.
No início da sessão de ontem,
saiu o balanço do banco de investimentos Morgan Stanley.
Seu lucro líquido caiu 42% no
primeiro trimestre fiscal, para
US$ 1,55 bilhão (aproximadamente R$ 2,6 bilhões) ou US$
1,45 por ação, quando se esperava um ganho de apenas US$
1,03 por ação. "Foram bons números. Entretanto, não ajudaram, pois surgiram boatos de
que alguns ativos estavam superavaliados", comenta Mário
Battistel, gerente de câmbio da
corretora Fair.
Outra notícia positiva foi ignorada no meio do pânico. O
governo americano reduziu a
reserva compulsória de recursos das gigantes do segmento
de financiamento à habitação
Fannie Mae e Freddie Mac, o
que deve liberar recursos para
aliviar a situação de mutuários
que não estão conseguindo pagar as prestações da casa própria. As turbulências todas tiveram início na inadimplência
entre os consumidores do segmento "subprime" (de alto risco). Os empréstimos concedidos a eles eram a garantia de títulos que as financeiras lançavam no mercado. Outros bancos adquiriam esses bônus e
também criavam títulos lastreados neles, e assim ocorria
várias vezes sucessivas, daí estarem tantas instituições enfrentando dificuldades.
Mundo real
Nesse cenário, as perspectivas para a economia americana
é que continuam desanimando.
Investidores e especialistas temem que a atuação do Fed seja
insuficiente para conter os problemas no segmento de empréstimos imobiliários e que
eles causem uma crise em todo
o sistema financeiro do país. A
maior parte dos analistas já
acredita que os EUA estejam
entrando em recessão, porém a
sua duração e profundidade dependem muito do tamanho das
perdas enfrentadas pelos bancos. "O mercado está inseguro
diante das incertezas a respeito
da dimensão do rombo", afirma
Battistel.
Por isso, os investidores fogem do risco de perder mais dinheiro do que já imaginam ter
perdido. Uma recessão nos
EUA, maior economia global,
provocaria o desaquecimento
de outros países e, conseqüentemente, diminuíra a demanda
por commodities agrícolas, metálicas e petróleo. Os preços
desses produtos recuaram
muito ontem, enquanto quem
estava colocando seu dinheiro
neles resolveu correr para ativos considerados mais seguros,
especialmente os títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Assim, as ações de empresas
ligadas ao setor de commodities foram castigadas. Na Bovespa, as preferenciais (PN) da
Petrobras tiveram desvalorização de 7,4%, a R$ 69,40, e as ordinárias caíram 5,91%, a R$
84,69. As PN da Companhia
Vale do Rio Doce recuaram
7,2%, a R$ 44,26, e as ON registraram baixa de 6%, a R$ 53,65.
"A queda desses quatro papéis
deve ter respondido por cerca
de dois pontos do total da baixa
do Ibovespa [principal índice
da Bolsa paulista]", diz Bandeira. "Eles têm grande liquidez,
por isso é deles que os investidores se livram primeiro."
A retirada dos estrangeiros
ficou bem evidente no mercado
de câmbio. O dólar comercial
terminou a quarta-feira vendido a R$ 1,721, com uma valorização de 1,83%.
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