São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2008

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Estrangeiros tiram R$ 2,1 bi da Bovespa

Até a segunda semana do mês, saída líquida de investimentos do mercado acionário do país chega a R$ 6 bilhões no ano

Apesar da fuga de recursos da Bolsa, fluxo total de capital estrangeiro ao Brasil teve crescimento em março, aponta levantamento do BC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Assustados com os problemas no sistema financeiro americano, os investidores estrangeiros tiraram R$ 2,109 bilhões da Bolsa de Valores de São Paulo no mês de março (até o dia 14). O valor é a diferença entre compras de ações no valor de R$ 19,854 bilhões e vendas de R$ 21,964 bilhões.
Em janeiro passado, o saldo negativo havia sido de R$ 4,731 bilhões. No entanto, em fevereiro, o clima melhorou um pouco e os estrangeiros voltaram: o saldo ficou positivo em R$ 865,4 milhões. No ano, porém, até a última sexta, está negativo em R$ 5,975 bilhões.
Há duas explicações principais para a fuga desses investidores. Uma é a necessidade de cobrir prejuízos sofridos no exterior com a crise que começou no setor imobiliário dos EUA, está afetando bancos e ameaça contaminar as demais áreas da economia, levando o país a uma recessão e provocando uma desaceleração mundial.
A outra, segundo especialistas, é uma aversão generalizada ao risco -fechando os olhos para os bons números que o Brasil e as empresas nacionais exibem, os estrangeiros se rendem ao medo de perder mais dinheiro e buscam ativos tidos como seguros em tempos de elevada incerteza. Os títulos do Tesouro americano são o destino favorito desses recursos.
Como os juros brasileiros estão entre os maiores do mundo, essa debandada deve ser temporária, na avaliação dos especialistas. Os investidores de fora tendem a voltar para o mercado local em busca de rendimentos maiores, tão logo passe o momento de nervosismo.
Números divulgados ontem pelo Banco Central indicam que a segunda opção pode ser mais plausível. Apesar da fuga de recursos da Bovespa em março, no mesmo período o fluxo total de capital estrangeiro ao Brasil teve crescimento.
Nas duas primeiras semanas de março, diz o BC, o ingresso líquido de dólares ficou em US$ 9,760 bilhões, mais que o dobro dos US$ 3,246 bilhões que ingressaram no país ao longo de todo o mês de fevereiro.
Os números se referem à diferença entre os recursos que entraram no Brasil e as remessas feitas ao exterior e incluem todas as operações de câmbio -envio de lucros ao exterior, exportações, importações, pagamento de empréstimos externos, entre outros itens.
O resultado parcial registrado neste mês responde por quase todo o saldo positivo de US$ 10,649 bilhões acumulado neste ano, embora fique abaixo dos US$ 14,734 bilhões apurados em igual período de 2007.
Porém, ao contrário do que vinha ocorrendo anteriormente, neste mês a principal fonte de dólares do Brasil não foi a balança comercial. As chamadas operações financeiras -que se referem a todas as transações cambiais efetuadas no país, exceto as de comércio exterior- registraram saldo positivo de US$ 7,133 bilhões no período. Nas duas primeiras semanas de março de 2007, o saldo dessas operações fora positivo em US$ 1,317 bilhão.
O economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, afirma que essa maior entrada de dólares nas operações financeiras não deve se repetir de agora em diante, pois é conseqüência da maior taxação, decidida na semana passada, sobre investimentos estrangeiros em títulos públicos negociados no mercado brasileiro.
Na última quarta-feira, depois do fechamento dos mercados, o governo anunciou que passaria a cobrar IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) desse tipo de aplicação, como parte de um conjunto de medidas para tentar conter a queda do dólar. A cobrança, porém, só começou efetivamente no começo desta semana, dando aos investidores um prazo de dois dias úteis para adaptar suas carteiras às novas regras.
"Essa entrada [de dólares neste mês] foi forte por causa do IOF. Quem já estava decidido [em investir em títulos brasileiros] acabou se antecipando", afirma Lintz.


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