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Estrangeiros tiram R$ 2,1 bi da Bovespa
Até a segunda semana do mês, saída líquida de investimentos do mercado acionário do país chega a R$ 6 bilhões no ano
Apesar da fuga de recursos da Bolsa, fluxo total de capital estrangeiro ao Brasil teve crescimento em março, aponta levantamento do BC
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Assustados com os problemas no sistema financeiro
americano, os investidores estrangeiros tiraram R$ 2,109 bilhões da Bolsa de Valores de
São Paulo no mês de março (até
o dia 14). O valor é a diferença
entre compras de ações no valor de R$ 19,854 bilhões e vendas de R$ 21,964 bilhões.
Em janeiro passado, o saldo
negativo havia sido de R$ 4,731
bilhões. No entanto, em fevereiro, o clima melhorou um
pouco e os estrangeiros voltaram: o saldo ficou positivo em
R$ 865,4 milhões. No ano, porém, até a última sexta, está negativo em R$ 5,975 bilhões.
Há duas explicações principais para a fuga desses investidores. Uma é a necessidade de
cobrir prejuízos sofridos no exterior com a crise que começou
no setor imobiliário dos EUA,
está afetando bancos e ameaça
contaminar as demais áreas da
economia, levando o país a uma
recessão e provocando uma desaceleração mundial.
A outra, segundo especialistas, é uma aversão generalizada
ao risco -fechando os olhos para os bons números que o Brasil
e as empresas nacionais exibem, os estrangeiros se rendem
ao medo de perder mais dinheiro e buscam ativos tidos como
seguros em tempos de elevada
incerteza. Os títulos do Tesouro americano são o destino favorito desses recursos.
Como os juros brasileiros estão entre os maiores do mundo,
essa debandada deve ser temporária, na avaliação dos especialistas. Os investidores de fora tendem a voltar para o mercado local em busca de rendimentos maiores, tão logo passe
o momento de nervosismo.
Números divulgados ontem
pelo Banco Central indicam
que a segunda opção pode ser
mais plausível. Apesar da fuga
de recursos da Bovespa em
março, no mesmo período o
fluxo total de capital estrangeiro ao Brasil teve crescimento.
Nas duas primeiras semanas
de março, diz o BC, o ingresso
líquido de dólares ficou em US$
9,760 bilhões, mais que o dobro
dos US$ 3,246 bilhões que ingressaram no país ao longo de
todo o mês de fevereiro.
Os números se referem à diferença entre os recursos que
entraram no Brasil e as remessas feitas ao exterior e incluem
todas as operações de câmbio
-envio de lucros ao exterior,
exportações, importações, pagamento de empréstimos externos, entre outros itens.
O resultado parcial registrado neste mês responde por
quase todo o saldo positivo de
US$ 10,649 bilhões acumulado
neste ano, embora fique abaixo
dos US$ 14,734 bilhões apurados em igual período de 2007.
Porém, ao contrário do que
vinha ocorrendo anteriormente, neste mês a principal fonte
de dólares do Brasil não foi a
balança comercial. As chamadas operações financeiras
-que se referem a todas as
transações cambiais efetuadas
no país, exceto as de comércio
exterior- registraram saldo
positivo de US$ 7,133 bilhões
no período. Nas duas primeiras
semanas de março de 2007, o
saldo dessas operações fora positivo em US$ 1,317 bilhão.
O economista-chefe do BNP
Paribas, Alexandre Lintz, afirma que essa maior entrada de
dólares nas operações financeiras não deve se repetir de agora
em diante, pois é conseqüência
da maior taxação, decidida na
semana passada, sobre investimentos estrangeiros em títulos
públicos negociados no mercado brasileiro.
Na última quarta-feira, depois do fechamento dos mercados, o governo anunciou que
passaria a cobrar IOF (Imposto
sobre Operações Financeiras)
desse tipo de aplicação, como
parte de um conjunto de medidas para tentar conter a queda
do dólar. A cobrança, porém, só
começou efetivamente no começo desta semana, dando aos
investidores um prazo de dois
dias úteis para adaptar suas
carteiras às novas regras.
"Essa entrada [de dólares
neste mês] foi forte por causa
do IOF. Quem já estava decidido [em investir em títulos brasileiros] acabou se antecipando", afirma Lintz.
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