São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2008

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Com crise nos EUA, bancos do Brasil avançam em ranking

Bradesco e Itaú assumem 4º e 5º posto entre as instituições de maior lucro nas Américas

Em situação mais favorável, instituições financeiras do país estão menos ameaçadas por problemas enfrentados pelos bancos americanos

TONI SCIARRETTA
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos brasileiros apareceram pela primeira vez no topo do ranking de lucros do sistema financeiro internacional. Levantamento da consultoria Economática mostra que Bradesco e Itaú só lucraram menos do que os americanos Goldman Sachs, JPMorgan e Wells Fargo no quarto trimestre do ano passado nas Américas.
Os motivos foram mais externos do que internos. Enquanto os brasileiros aumentam os ganhos com a expansão do crédito e a bancarização, as instituições americanas tiveram de assumir perdas contábeis pesadas por conta da crise das hipotecas americanas de segunda linha ("subprime").
Os bancos brasileiros são bem menores do que as instituições financeiras americanas. Em valor de mercado, por exemplo, o Bradesco e o Itaú somavam na última terça-feira US$ 57,6 bilhões e US$ 55,4 bilhões, respectivamente. Já os gigantes Bank of America, JPMorgan e Citigroup, embora depreciados com a crise, valiam US$ 172,9 bilhões, US$ 145,1 bilhões e US$ 107,8 bilhões, respectivamente. Mesmo assim, os brasileiros já ultrapassaram instituições de prestígio global como Morgan Stanley (US$ 47,3 bilhões) e Merrill Lynch (US$ 45,2 bilhões).
E a confortável situação das instituições financeiras nacionais garante que elas não sejam contaminadas pelos problemas que as outras enfrentam. "A chance de os bancos brasileiros serem afetados por problemas dessa natureza é absolutamente nula", avalia Antonio Bento Furtado de Mendonça Neto, vice-presidente da consultoria francesa Solving International, especializada em estratégia empresarial. "Eles não têm, em seu poder, títulos do mercado imobiliário americano. E aqui no Brasil não há os mecanismos de financiamento habitacional que existem por lá. Só agora esse setor de crédito começa a se desenvolver melhor no país", afirmou.
Para Alcides Leite, professor de finanças da Trevisan, os bancos brasileiros vivem uma realidade oposta à das instituições americanas, que foram depreciadas por estar no epicentro da crise imobiliária. Ele destaca ainda o impacto da valorização do real, que tornou os lucros obtidos por eles no país mais altos em dólares.
"Os bancos brasileiros tiveram um resultado excepcional com o aumento do crédito e a venda de ativos [Serasa, BM&F e Bovespa]. Estão ganhando muito com melhora operacional, redução de custos, migração de cheques e transações nas agências para os meios eletrônicos e internet, além da gestão de recursos internacionais. A importância dos bancos tende a crescer ainda mais na economia", comentou.
Para Einar Rivero, autor do estudo da Economática, o levantamento reconhece a saúde do sistema financeiro brasileiro, que adota práticas de risco mais conservadoras do que as instituições americanas. "É agradável ver os dois maiores bancos brasileiros entre as instituições financeiras de maior lucro do mundo. E isso vai continuar porque o mercado de crédito está em pleno aquecimento", disse.


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