São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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SISTEMA FINANCEIRO
HSBC devolve ativos considerados de liquidação duvidosa e recebe o equivalente em dinheiro do BC
Bamerindus tem R$ 1 bi além do Proer

FLÁVIO ARANTES
da Agência Folha, em Curitiba

No próximo dia 26, quando termina a intervenção no Bamerindus, o BC (Banco Central) terá transferido ao HSBC mais de R$ 1 bilhão além do que o banco inglês já recebeu do Proer para assumir a "parte boa" do banco brasileiro.
"É mais ou menos isso", disse à Agência Folha o interventor do BC, Flávio Siqueira.
Segundo ele, os números da venda do Bamerindus ao HSBC ainda estão sendo finalizados e, portanto, não dá para precisar o total repassado ao HSBC além do Proer.
O Proer é o programa de reestruturação do sistema bancário. Para viabilizar a transferência do Bamerindus ao HSBC, o BC investiu R$ 5,66 bilhões do programa.
Nem tudo foi para o caixa do HSBC. Para assumir a carteira imobiliária do Bamerindus, a Caixa Econômica Federal ficou com R$ 2,4 bilhões.
A possibilidade de o HSBC receber mais dinheiro do que o injetado pelo Proer consta do contrato de venda assinado pelo banco inglês com o BC, revelado pela Folha em agosto do ano passado.
O contrato permite ao HSBC devolver os ativos que julgue "de liquidação duvidosa". Nesse caso, o Bamerindus é obrigado a substituir os ativos devolvidos, "acrescidos de juros".
Caso o HSBC não se interesse pelo ativo apresentado como substituto, o Bamerindus é obrigado a repor o valor em dinheiro. Foi o que aconteceu.

Créditos devolvidos
O HSBC recebeu do Bamerindus R$ 10,34 bilhões em passivos e o mesmo valor em ativos.
O passivo é basicamente as obrigações com os correntistas e aplicadores. Já os ativos, além do dinheiro do Proer, são formados por bens móveis e imóveis e parte das operações de crédito do Bamerindus.
Após análise, o HSBC devolveu 20.894 operações de crédito para o Bamerindus, no total de R$ 918,2 milhões, valor reposto em dinheiro.
Segundo o interventor do BC, o HSBC pode ter devolvido ainda alguns bens móveis. Há também uma operação de crédito de cerca de R$ 800 milhões com o governo do Mato Grosso do Sul, devolvida pelo HSBC.
Siqueira não soube informar se parte desse crédito já está computada nos R$ 918,2 milhões.
O interventor afirma que as operações de crédito devolvidas pelo HSBC não podem ser totalmente computadas como prejuízo. "Nós estamos conseguindo receber entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões por mês", afirmou.

Carteira de cobrança
Segundo o relatório final da comissão de inquérito responsável pela intervenção, após a devolução feita pelo HSBC, sobraram no Bamerindus 48.248 operações de crédito, no valor de R$ 2,16 bilhões.
Desse total, o BC provisionou R$ 1,34 bilhão, ou 62% do total das operações, por considerá-las de difícil liquidação.

HSBC
A Agência Folha tentou ontem falar com o diretor de comunicação do HSBC, Tom Camargo. ele informou, por meio de sua assessoria, que estava em uma reunião e só poderia falar hoje.

Apenas por uma operação de crédito devolvida pelo HSBC, o BC entregou ao banco inglês cerca de R$ 800 milhões.
Flávio Siqueira, interventor do BC no Bamerindus, não soube informar se parte desse dinheiro já consta entre os mais de R$ 1 bilhão que o BC repassou ao HSBC em substituição a ativos devolvidos pelo banco inglês.
Mesmo que inclua parte da operação, ainda assim, o repasse de recursos ao HSBC, após o Proer, deve superar R$ 1 bilhão.
Os R$ 800 milhões se referem a um crédito do Bamerindus com o governo de Mato Grosso do Sul. Durante sete anos, o Bamerindus funcionou como banco oficial do Estado, que não tem instituição própria.
Os recursos são referentes a operações de ARO (Antecipação de Receita Orçamentária), além de outros créditos captados pelo Estado a juros de mercado e a curto prazo.
Essa operação foi repassada ao HSBC, que tentou receber do governo do Estado. O governo teria tentado obter um desconto na dívida, recusado pelo HSBC.
As divergências em torno do débito teriam influenciando a decisão do governo estadual de romper o contrato com o HSBC, que após a aquisição do Bamerindus tinha mantido a função de banco estadual.
O HSBC acabou devolvendo a operação de crédito ao BC, que repôs o valor em dinheiro, como estabelece o contrato entre o BC e o banco inglês.
Agora, o governo de Mato Grosso do Sul está finalizando a rolagem da dívida com a União.
Com isso, o governo federal vai pagar a operação de crédito ao Bamerindus e refinanciá-la ao Mato Grosso do Sul em 30 anos, a juros bem mais baixos que os de mercado.




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