|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SISTEMA FINANCEIRO
HSBC devolve ativos considerados de liquidação duvidosa e recebe o equivalente em dinheiro do BC
Bamerindus tem R$ 1 bi além do Proer
FLÁVIO ARANTES
da Agência Folha, em Curitiba
No próximo dia 26, quando termina a intervenção no Bamerindus, o BC (Banco Central) terá
transferido ao HSBC mais de R$ 1
bilhão além do que o banco inglês
já recebeu do Proer para assumir a
"parte boa" do banco brasileiro.
"É mais ou menos isso", disse à
Agência Folha o interventor do
BC, Flávio Siqueira.
Segundo ele, os números da venda do Bamerindus ao HSBC ainda
estão sendo finalizados e, portanto, não dá para precisar o total repassado ao HSBC além do Proer.
O Proer é o programa de reestruturação do sistema bancário. Para
viabilizar a transferência do Bamerindus ao HSBC, o BC investiu
R$ 5,66 bilhões do programa.
Nem tudo foi para o caixa do
HSBC. Para assumir a carteira
imobiliária do Bamerindus, a Caixa Econômica Federal ficou com
R$ 2,4 bilhões.
A possibilidade de o HSBC receber mais dinheiro do que o injetado pelo Proer consta do contrato
de venda assinado pelo banco inglês com o BC, revelado pela Folha em agosto do ano passado.
O contrato permite ao HSBC devolver os ativos que julgue "de liquidação duvidosa". Nesse caso, o
Bamerindus é obrigado a substituir os ativos devolvidos, "acrescidos de juros".
Caso o HSBC não se interesse
pelo ativo apresentado como
substituto, o Bamerindus é obrigado a repor o valor em dinheiro.
Foi o que aconteceu.
Créditos devolvidos
O HSBC recebeu do Bamerindus
R$ 10,34 bilhões em passivos e o
mesmo valor em ativos.
O passivo é basicamente as obrigações com os correntistas e aplicadores. Já os ativos, além do dinheiro do Proer, são formados
por bens móveis e imóveis e parte
das operações de crédito do Bamerindus.
Após análise, o HSBC devolveu
20.894 operações de crédito para o
Bamerindus, no total de R$ 918,2
milhões, valor reposto em dinheiro.
Segundo o interventor do BC, o
HSBC pode ter devolvido ainda alguns bens móveis. Há também
uma operação de crédito de cerca
de R$ 800 milhões com o governo
do Mato Grosso do Sul, devolvida
pelo HSBC.
Siqueira não soube informar se
parte desse crédito já está computada nos R$ 918,2 milhões.
O interventor afirma que as operações de crédito devolvidas pelo
HSBC não podem ser totalmente
computadas como prejuízo. "Nós
estamos conseguindo receber entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões
por mês", afirmou.
Carteira de cobrança
Segundo o relatório final da comissão de inquérito responsável
pela intervenção, após a devolução feita pelo HSBC, sobraram no
Bamerindus 48.248 operações de
crédito, no valor de R$ 2,16 bilhões.
Desse total, o BC provisionou R$
1,34 bilhão, ou 62% do total das
operações, por considerá-las de
difícil liquidação.
HSBC
A Agência Folha tentou ontem
falar com o diretor de comunicação do HSBC, Tom Camargo. ele
informou, por meio de sua assessoria, que estava em uma reunião
e só poderia falar hoje.
Apenas por uma operação de
crédito devolvida pelo HSBC, o
BC entregou ao banco inglês cerca
de R$ 800 milhões.
Flávio Siqueira, interventor do
BC no Bamerindus, não soube informar se parte desse dinheiro já
consta entre os mais de R$ 1 bilhão
que o BC repassou ao HSBC em
substituição a ativos devolvidos
pelo banco inglês.
Mesmo que inclua parte da operação, ainda assim, o repasse de
recursos ao HSBC, após o Proer,
deve superar R$ 1 bilhão.
Os R$ 800 milhões se referem a
um crédito do Bamerindus com o
governo de Mato Grosso do Sul.
Durante sete anos, o Bamerindus
funcionou como banco oficial do
Estado, que não tem instituição
própria.
Os recursos são referentes a operações de ARO (Antecipação de
Receita Orçamentária), além de
outros créditos captados pelo Estado a juros de mercado e a curto
prazo.
Essa operação foi repassada ao
HSBC, que tentou receber do governo do Estado. O governo teria
tentado obter um desconto na dívida, recusado pelo HSBC.
As divergências em torno do débito teriam influenciando a decisão do governo estadual de romper o contrato com o HSBC, que
após a aquisição do Bamerindus
tinha mantido a função de banco
estadual.
O HSBC acabou devolvendo a
operação de crédito ao BC, que repôs o valor em dinheiro, como estabelece o contrato entre o BC e o
banco inglês.
Agora, o governo de Mato Grosso do Sul está finalizando a rolagem da dívida com a União.
Com isso, o governo federal vai
pagar a operação de crédito ao Bamerindus e refinanciá-la ao Mato
Grosso do Sul em 30 anos, a juros
bem mais baixos que os de mercado.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|