São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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INVESTIMENTOS
Ministro da Fazenda afirma que o fluxo ainda é intenso, mas a taxa de crescimento já é mais lenta
Entrada de dólares recua, admite Malan

ARTHUR PEREIRA FILHO
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, afirmou ontem em São Paulo que está ocorrendo um processo de desaceleração na entrada de dólares no país.
"A taxa de crescimento tem sido expressiva, embora desacelerando", disse Malan, referindo-se à diferença entre entradas e saídas de dólares nos últimos dias.
Segundo o ministro, "uma coisa é a taxa de crescimento da entrada de divisas, outra é a velocidade da taxa de crescimento". O ministro disse que as pessoas confundem as duas taxas, durante uma conversa com jornalistas antes da solenidade de posse do presidente da Febraban (federação dos bancos), Roberto Egydio Setubal, que entra em seu segundo mandato.

Reservas
O ministro afirmou que o volume de ingresso de divisas foi expressivo, principalmente nos últimos dois meses. "Estamos com o nível de reservas comparável com o que tínhamos no período anterior à crise asiática."
Malan não revelou o valor atual das reservas, mas disse que o nível é "confortável", embora reconheça que há divergências entre economistas sobre o nível adequado de reservas do país.
Malan não descarta a adoção de medidas de restrição à entrada de dólares, se isso for necessário. Ele lembrou que durante a crise asiática o governo alterou o prazo de permanência de certos tipos de ingresso. Um dos instrumentos de intervenção do governo é o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), criado no segundo semestre de 94.
Segundo Malan, é um imposto regulatório que pode ser alterado em função das necessidades do balanço de pagamentos.
"Nós não vamos anunciar de antemão o que pensamos fazer. Isso depende das circunstâncias", disse Malan.

Regras
O presidente da Febraban, Roberto Setubal, disse que é possível que o governo mexa nas regras para desacelerar a entrada de reservas externas.
Segundo ele, o país precisa de reservas na faixa de US$ 60 bilhões. "Quando chega aí não há necessidade de incentivar mais a entrada de novos recursos."
Os números do Banco Central confirmam a avaliação de Malan. Embora o início de 98 esteja registrando um ingresso recorde de dólares no país, o ritmo começa a cair.
A média diária de entrada pelo segmento financeiro do câmbio contratado, aquele por onde entra a maior parte do dinheiro dos investidores que vêm atrás dos altos juros e da Bolsa, está caindo.
Desde o início de março até o dia 11, a média diária estava em US$ 704,08 milhões. Na última semana (de 12 a 18), a média caiu 11,2%, para US$ 624,99 milhões.
A explicação, segundo analistas, está na própria redução das taxas de juro pelo governo, que tem surpreendido o mercado por sua rapidez.
Juros menores representam um cupom cambial menor para o investidor estrangeiro.
O cupom é o ganho do investidor estrangeiro que aplica em juros no país e é medido pela diferença entre os juros internos e a variação do câmbio.
Como o câmbio tem estado bastante estável, a queda dos juros está apertando a margem paga ao capital estrangeiro. Ontem, o cupom estava em torno de 11,60% ao ano, bem abaixo dos cerca de 15% de um mês atrás.



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