São Paulo, sábado, 20 de abril de 2002

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BANCOS

Redução de despesas, com plano de demissões voluntárias, impulsionou resultado de R$ 526,3 mi de janeiro a março

Lucro do Banespa sobe 411% no trimestre

ÉRICA FRAGA
JOSÉ ALAN DIAS

DA REPORTAGEM LOCAL

O lucro líquido do Banespa disparou no primeiro trimestre deste ano, atingindo R$ 526,3 milhões. O ótimo resultado, que representa expansão de 411% em relação ao mesmo período de 2001, só foi ofuscado pelas precauções que a instituição teve de tomar para se prevenir contra calotes. As provisões para créditos de recebimento duvidoso aumentaram 560% e somaram R$ 94 milhões.
A redução de despesas feita pelo Banespa, que é controlado pelo Santander, pesou mais para o resultado do primeiro trimestre do que o aumento de receitas. Os gastos com empregados, por exemplo, caíram quase 60% em relação ao mesmo período de 2001. As despesas operacionais também tiveram queda, de 28,5%.
"Esse lucro pode ser atribuído principalmente ao saneamento pelo qual o banco passou. O programa de demissão voluntária implementado, por exemplo, ajudou muito a reduzir as despesas", diz Erivelto Rodrigues, sócio da Austin Asis.
Já o aumento das provisões contra devedores duvidosos deve refletir, segundo analistas, a piora do nível de crédito do banco, o que indica risco de inadimplência à vista. A exigência do Banco Central de que as instituições aumentassem suas provisões também contribuiu para que o item pesasse mais no balanço. A direção do Santander não quis comentar o resultado do Banespa.

Temporada de lucros
Tudo indica que a temporada de grandes lucros conseguidos pelas instituições financeiras no ano passado deverá se repetir em 2002. Analistas ouvidos pela Folha acreditam que nem a trajetória de queda das taxas de juros esperada para este ano deverá prejudicar os resultados dos bancos.
Pelo contrário, as estimativas das consultorias Thomson Financial e Austin Asis apontam que, em 2002, Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Unibanco -os quatro principais bancos brasileiros de varejo- vão lucrar ainda mais do que no ano passado, quando várias instituições tiveram ganhos recordes.
Nas projeções da Thomson, o lucro líquido do Bradesco neste ano será de R$ 2,238 bilhões, 3,13% maior do que os R$ 2,17 bilhões do ano passado. A estimativa da Austin Asis é de lucro ainda maior, de R$ 2,40 bilhões -o que representaria alta de 10,6% sobre o lucro de 2001.
No caso do Itaú, as duas consultorias prevêem que o lucro deste ano será menor que os US$ 2,39 bilhões de 2001 -haveria queda de 5,61% segundo a Thomson, enquanto a Austin Asis estima que a queda será de apenas 1,67%. Mas há uma ressalva: no ano passado, o Itaú obteve receita extraordinária de R$ 450 milhões por conta da venda de sua rede de processamento para a Telefônica. Ou seja, em tese, o lucro líquido recorrente deste ano pode ser até maior que o de 2001.
Segundo Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting e professor da USP (Universidade de São Paulo), em princípio, os bancos deveriam apresentar lucros menores em 2002, se for confirmada a tendência de queda nas taxas de juros.
Isso porque no ano passado uma parcela considerável de seus ganhos veio de operações de tesouraria com lucrativas transações de títulos públicos, no cenário de altas taxas de juros praticadas pelo BC.
A trajetória, já iniciada, de queda dos juros poderia se traduzir em ganhos menores com esse tipo de operação. ""Em ano de eleição, faz sentido o governo baixar os juros para apaziguar o eleitor", diz Matias. Mas, segundo o economista, a expectativa é de que os bancos vão compensar essa perda nos juros com o aumento na oferta de crédito e também com a entrada em vigor do SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro).
De acordo com Matias, a redução de custos, somada ao aumento de tarifas com o SPB, pode representar aumento de R$ 6 bilhões na receita do setor.
Rodrigues estima que a oferta de crédito deve crescer entre 20% e 25% neste ano para compensar a redução esperada de receita com a intermediação financeira.
Outro item que deverá pesar mais no resultado dos bancos, segundo Rodrigues, é a receita com serviços. "Esperamos aumento médio de 20% nesse item neste ano, contra 15% no ano passado."



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