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entrevista
"A indústria tem sido desprestigiada"
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Paulo Skaf, o Brasil
está perdendo "uma janela
de oportunidade" e estaria
em situação bem pior se o
mundo não estivesse crescendo tanto.
Na sua primeira eleição à
Fiesp, teve o apoio do vice-presidente da República, José Alencar, como ele egresso
do setor têxtil, e foi visto como governista. Depois transformou-se em crítico ferrenho da política econômica.
Para Skaf, Lula 2 deveria ser
um governo voltado ao "desenvolvimento".
(FCZ)
FOLHA - Será mais fácil agora
buscar nova voz para a indústria?
PAULO SKAF - Não é novidade
que a indústria tem sido desprestigiada. Temos uma política monetarista há 20 anos,
e o desenvolvimento foi deixado à margem. Convivemos
há anos com aumento de gastos públicos, juros altíssimos
e sem reformas estruturais.
E com um crescimento pífio.
É uma política que mata a
demanda. Mas a gente sabe
bem que o crescimento começa pela demanda, que
atrai investimentos, produção e emprego. Isso precisa
mudar. Será uma guerra.
FOLHA - Lula 2 não é mais do
mesmo do ponto de vista do gasto público, da carga tributária e
da falta de eficiência?
SKAF - Estamos aqui para
ajudar e dar apoio a todos os
governos, mas com total independência. Aplaudimos o
que achamos correto e vamos lutar contra o que não
está certo. Em relação à política econômica e fiscal, nossa
expectativa era que houvesse
maior foco no crescimento.
Isso não existe com esse juro
e câmbio e sem reformas. Temos um cenário hostil.
FOLHA - O risco-país vem batendo recordes de baixa. A Bolsa, de
alta. Muitos setores e empresas
nunca lucraram tanto. Não são
apenas algumas áreas ineficientes que sofrem mais?
SKAF - Não se trata só de criticar, mas também de reconhecer avanços. Aplaudimos
e estimulamos o que é positivo. Mas, se o juro estivesse
2,5 pontos percentuais abaixo do patamar atual, a realidade do câmbio seria outra.
Falar em falta de competitividade em alguns setores é
uma grande injustiça. Dizer
que os setores têxtil, calçadista e moveleiro não são
competitivos é uma injustiça. Outros setores não têm
sido prejudicados pois há
uma demanda internacional
forte, com os preços de commodities muito elevados. Para muitos produtos, o câmbio não está em R$ 2, mas em
R$ 3, pois houve um aumento de preços por trás. Setores
que não tiveram isso ou aumento da demanda internacional, e que vivem no mercado doméstico com esse
caldo de juro alto e importados baratos, estão sofrendo.
Se o mundo nos últimos
anos tivesse crescendo 2%, o
que estaria acontecendo com
o Brasil? Se esses setores da
indústria extrativa não estivessem tão bem, onde estaríamos? Estamos perdendo
uma janela de oportunidade.
FOLHA - O que leva Lula, eleito
com uma vantagem de 20 milhões de votos e hoje muito bem
avaliado, a não reformar o país?
SKAF - Diria que essas reformas vão se tornar inevitáveis. Vivemos em um regime
presidencialista, mas também numa democracia. A
verdade é que todas as reformas são quebras de paradigmas, e temos doenças e costumes errados que estão aí.
Qualquer presidente que
for eleito para agradar a
quem o elegeu, sem se preocupar com o resto, verá que o
agrado no curto prazo será o
desagrado no longo prazo.
Um presidente vitorioso tem
muita força, e quanto mais
rápido age, pode agir com
mais intensidade.
FOLHA - Estamos em abril...
SKAF - Os primeiros cem
dias se passaram. Cabe à sociedade cobrar. Na Fiesp, vamos nos mobilizar. Vamos
apresentar sugestões.
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