São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2007

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entrevista

"A indústria tem sido desprestigiada"

DA REPORTAGEM LOCAL

Para Paulo Skaf, o Brasil está perdendo "uma janela de oportunidade" e estaria em situação bem pior se o mundo não estivesse crescendo tanto.
Na sua primeira eleição à Fiesp, teve o apoio do vice-presidente da República, José Alencar, como ele egresso do setor têxtil, e foi visto como governista. Depois transformou-se em crítico ferrenho da política econômica. Para Skaf, Lula 2 deveria ser um governo voltado ao "desenvolvimento". (FCZ)

 

FOLHA - Será mais fácil agora buscar nova voz para a indústria?
PAULO SKAF -
Não é novidade que a indústria tem sido desprestigiada. Temos uma política monetarista há 20 anos, e o desenvolvimento foi deixado à margem. Convivemos há anos com aumento de gastos públicos, juros altíssimos e sem reformas estruturais. E com um crescimento pífio. É uma política que mata a demanda. Mas a gente sabe bem que o crescimento começa pela demanda, que atrai investimentos, produção e emprego. Isso precisa mudar. Será uma guerra.

FOLHA - Lula 2 não é mais do mesmo do ponto de vista do gasto público, da carga tributária e da falta de eficiência?
SKAF -
Estamos aqui para ajudar e dar apoio a todos os governos, mas com total independência. Aplaudimos o que achamos correto e vamos lutar contra o que não está certo. Em relação à política econômica e fiscal, nossa expectativa era que houvesse maior foco no crescimento. Isso não existe com esse juro e câmbio e sem reformas. Temos um cenário hostil.

FOLHA - O risco-país vem batendo recordes de baixa. A Bolsa, de alta. Muitos setores e empresas nunca lucraram tanto. Não são apenas algumas áreas ineficientes que sofrem mais?
SKAF -
Não se trata só de criticar, mas também de reconhecer avanços. Aplaudimos e estimulamos o que é positivo. Mas, se o juro estivesse 2,5 pontos percentuais abaixo do patamar atual, a realidade do câmbio seria outra. Falar em falta de competitividade em alguns setores é uma grande injustiça. Dizer que os setores têxtil, calçadista e moveleiro não são competitivos é uma injustiça. Outros setores não têm sido prejudicados pois há uma demanda internacional forte, com os preços de commodities muito elevados. Para muitos produtos, o câmbio não está em R$ 2, mas em R$ 3, pois houve um aumento de preços por trás. Setores que não tiveram isso ou aumento da demanda internacional, e que vivem no mercado doméstico com esse caldo de juro alto e importados baratos, estão sofrendo. Se o mundo nos últimos anos tivesse crescendo 2%, o que estaria acontecendo com o Brasil? Se esses setores da indústria extrativa não estivessem tão bem, onde estaríamos? Estamos perdendo uma janela de oportunidade.

FOLHA - O que leva Lula, eleito com uma vantagem de 20 milhões de votos e hoje muito bem avaliado, a não reformar o país?
SKAF -
Diria que essas reformas vão se tornar inevitáveis. Vivemos em um regime presidencialista, mas também numa democracia. A verdade é que todas as reformas são quebras de paradigmas, e temos doenças e costumes errados que estão aí. Qualquer presidente que for eleito para agradar a quem o elegeu, sem se preocupar com o resto, verá que o agrado no curto prazo será o desagrado no longo prazo. Um presidente vitorioso tem muita força, e quanto mais rápido age, pode agir com mais intensidade.

FOLHA - Estamos em abril...
SKAF -
Os primeiros cem dias se passaram. Cabe à sociedade cobrar. Na Fiesp, vamos nos mobilizar. Vamos apresentar sugestões.


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