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VINICIUS TORRES FREIRE
Brutalidades chinesas
Crédito bancário dobra, PIB bate recorde e Bolsa assusta o mundo. Rolo é político: China não quer um yuan forte
O SALDO comercial chinês no
primeiro trimestre deste ano
foi de US$ 46,4 bilhões. Sim,
a diferença entre exportações e importações da China em três meses
bate o saldo comercial brasileiro de
um ano. As reservas aumentaram
US$ 136 bilhões neste primeiro trimestre de 2007, para US$ 1,2 trilhão. São US$ 45,3 bilhões por mês
empilhados no Banco Central chinês, o dobro do ritmo de acumulação de 2006. O TOTAL das reservas
do Brasil é de uns US$ 115 bilhões,
um espanto, em termos brasileiros.
Uma gorjeta, em termos chineses.
De onde tem vindo o dinheiro?
Além do brutal saldo do comércio
exterior, vem das vendas de ações de
empresas chinesas e da liqüidação
de investimentos financeiros em
moedas fortes.
No início deste ano, a China cresce
ao ritmo anualizado de 11,1%, contra
10,4% no trimestre final de 2006. O
investimento "urbano" em fábricas
e construção civil anda mais devagar. Devagar? Cresceu 25% no trimestre. No começo de 2006, crescia
a 30%. Os bancões globais estimam
crescimento de 10,5% a 11% no ano.
A taxa básica de juros é recorde
em oito anos, 6,4%, metade da brasileira. Subiu três vezes no ano passado, assim como subiram as reservas
compulsórias (dinheiro que os bancos têm de deixar de lado, sem emprestar). Mas a média mensal de
concessão de empréstimos bancários DOBROU no primeiro trimestre deste ano em relação a 2006.
O índice CSI 300 da Bolsa de Xangai avançou 177% nos últimos 12
meses e uns 50% neste ano. A classe
média colocava quase todo o seu dinheiro nos bancos. Mas seu rendimento gira em torno de 3% ao ano. A
inflação está na casa dos 3%. Isto é, o
povo percebeu que perde dinheiro.
Bidu, a Bolsa sobe. O que caiu ontem
foi nadica de neres, 4,7%.
O premiê Wen Jiabao disse que o
governo vai limitar o crédito, o investimento industrial, o boom imobiliário e o enorme saldo comercial.
Diz isso mais ou menos a cada trimestre. E nada.
A questão chave parece ser a moeda chinesa, que não se valoriza com
as reservas trilionárias e crescentes
do país, pois o governo não deixa.
Em tese, valorizar o yuan prejudica
a criação de empregos, os quais sustentam a gigantesca migração dos
miseráveis rurais para as cidades e a
riqueza crescente dos industriais
chineses. É um problema político.
Supondo que a valorização do
yuan funcionasse, reduzindo o saldo
comercial e um pouco do crescimento, o que fariam os pobres que
querem participar do milagre? Trabalhariam no setor de serviços? No
quê? Não seriam médicos, nem trabalhariam em "call centers", nem
consertariam computadores. Virariam domésticos, manicures, abririam restaurantes?
Há risco nas diversas bolhas chinesas? Muito tem se dito que o mercado acionário chinês ainda tem baixo impacto no planeta. Será?
OK, o mercado de ações chinês
ainda é nanico, fechado e primitivo,
sem poder de fogo bastante para
derrubar por si só Estados Unidos e
Europa. Mas Bolsas asiáticas definitivamente já não conseguem resistir
aos movimentos chineses. É uma
cabeça-de-ponte, um primeiro tentáculo firme por onde pode ser
transmitido um contágio financeiro
chinês. Tóquio caiu 1,7% ontem.
vinit@uol.com.br
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