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YOSHIAKI NAKANO
Juros na contramão
Enquanto os especuladores festejam a alta dos juros, os empresários devem rever
os planos de mais empregos
O BANCO CENTRAL decidiu elevar a taxa de juros em 0,5
ponto percentual, preocupado, segundo seu diretor de Política
Econômica, com a deterioração das
expectativas de inflação de 2009 e
porque aumentaram os riscos de
que os preços se acelerem mais do
que o previsto pelo próprio banco.
Por trás dessa decisão estão os
bancos e especuladores internacionais, de um lado, festejando; de outro, os empresários que, incrédulos,
começam a rever seus planos de
oferta de emprego e decisões de investimento. Os bancos, respondendo à sinalização dada pelo próprio
Banco Central, já haviam elevado
antecipadamente os juros no mercado, preparando o terreno para
uma ação dessa natureza.
Os especuladores internacionais
se beneficiaram da maior taxa de juros do mundo, apesar de o risco Brasil estar caindo, ampliaram seus ganhos com o aumento do diferencial
de taxas e já aumentaram o fluxo de
capitais para forçarem uma nova rodada de apreciação da taxa de câmbio. Do outro lado estão os empresários, que vinham ampliando a capacidade produtiva, respondendo ao
aumento da demanda, mas estão se
sentindo como aquele indivíduo que
estava para completar a maratona
mas foi agarrado e derrubado.
O resultado é um filme conhecido,
reprisado diversas vezes desde o
Plano Real: interrompe-se o ciclo de
recuperação e aprecia-se o câmbio.
Com isso, o déficit em transações
correntes, que já vinha aumentado
fortemente, deverá se acelerar explosivamente. Num futuro próximo,
que os especuladores internacionais
definirão, ou queimamos as reservas
cambiais, ou elevamos mais a taxa
de juros ou o real passará a se depreciar, provocando nova onda inflacionária, dessa vez verdadeira.
Em relação ao controle da taxa de
inflação, são dúbios os efeitos dessa
elevação dos juros e das próximas
que virão. Como nas elevações anteriores, a decorrente apreciação cambial terá efeitos deflacionários sobre
os bens comercializáveis. Mas, se a
taxa de inflação vai cair, é muito duvidoso. Todos sabem que a alta da
taxa de inflação se deve fundamentalmente à inflação importada, isto
é, ao aumento dos preços de alimentos, petróleo e derivados, produtos
siderúrgicos e outras commodities,
todas com pressões vindas do exterior, o que nos diz que a taxa de juros
brasileira será incapaz de afetá-la.
O aumento da inflação é um fenômeno global. A taxa média de inflação projetada de 41 países, segundo
os dados da "The Economist", passou de cerca de 3,1%, há um ano, para cerca de 5,2%, hoje. Se olharmos
para a oferta de alimentos, o quadro
é desanimador. Depois da desvalorização cambial de 1999, o setor agropecuário respondeu ampliando as
exportações, de forma que a área
plantada de grãos passou de 35 milhões de hectares na safra 1997/8 para 49 milhões na de 2004/5, além de
forte alta na produtividade. Em
2004, a taxa cambial começou a se
apreciar mais fortemente, e os custos de produção sofreram fortíssimo
aumento, reduzindo a área plantada
para 46 milhões de hectares.
A sorte é que neste ano são Pedro
ajudou, e a produtividade aumentou, mas, com a nova alta dos juros e
a apreciação cambial, vamos piorar
ainda mais as condições de oferta.
YOSHIAKI NAKANO, 62, diretor da Escola de Economia de
São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).
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