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Mercado Aberto
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@grupofolha.com.br
Empresários veem novos sinais de recuperação na economia
Nas últimas semanas, a economia está dando sinais evidentes de recuperação, ainda
que tímidos e num ritmo bem
abaixo do período anterior à
crise. A conclusão ficou evidente ontem durante apresentação
do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em
seminário sobre a crise durante
o 8º Fórum Empresarial de Comandatuba, na Bahia.
Em sua apresentação, Mei-
relles mostrou vários números
indicando uma trajetória de recuperação, mas recomendou
cautela ao interpretar esses dados. Ele acha que pode ser precipitada uma nova onda de otimismo do mercado, depois de
tanto tempo de pessimismo
exacerbado.
O problema é que, além de
ser a maior crise mundial desde
a de 1929, os dados da economia são divulgados com enorme defasagem. O PIB do primeiro trimestre, por exemplo,
será muito ruim e só será divulgado em junho, quando tudo leva a crer que a economia esteja
muito melhor. Apesar da recuperação, o país deverá estar tecnicamente em recessão (dois
trimestres negativos do PIB).
O tom da apresentação de
Meirelles, apesar de todos os
cuidados tomados, foi de otimismo. Mesmo quando falou
sobre política monetária, ele
afirmou diversas vezes que a
tendência dos juros no Brasil é
declinante.
Os empresários gostaram da
apresentação e mostraram dados comprovando essa tendência de recuperação da economia brasileira. O presidente da
Anfavea (associação das montadoras), Jackson Schneider,
por exemplo, afirmou que, neste mês, as vendas de automóveis leves continuam no mesmo patamar -ou pouco acima- do de março, o que é um
dado surpreendente.
Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL, também vai na
mesma direção. O consumo de
energia residencial em São
Paulo e no Rio Grande do Sul,
as duas áreas onde atua a CPFL,
cresceu entre 8% e 12% em
março e neste mês em relação
ao ano passado; o consumo comercial, 6%; o industrial, 3%.
Mais cauteloso, Fábio Barbosa, presidente da Febraban (federação dos bancos), prefere
esperar um pouco mais para
poder traçar um quadro definitivo do atual momento. Ele
acha que a consolidação desse
processo depende essencialmente do que acontecer, daqui
para a frente, nos EUA.
DIREÇÃO CONTRÁRIA
Fernando Arbache, pesquisador do ITA e sócio da consultoria Arbache, de inteligência de mercado, está convencido
de que os investimentos privados previstos para as usinas
hidrelétricas no Norte do país, como Jirau e Santo Antônio,
deveriam ser redirecionados para outros setores. Para ele, as
restrições de ordem ambiental e indígena vão inviabilizar a
construção de redes de transmissão de energia nesses projetos nos próximos dez anos. Para Arbache, o país deveria reverter os investimentos previstos nesses projetos para obras
de infraestrutura logística. O consultor diz que, se o país não
mudar os traçados das estradas e melhorar as condições de
transporte, o apagão logístico efetivamente vai acontecer, e
o país não crescerá acima de 4% nos próximos dez anos. "Se
o Brasil melhorar a circulação, ganha fôlego para crescer
mais e investir em outras áreas, como energia. É uma escolha pensando no melhor para o país nesta década."
RECONHECIMENTO
Um dos assuntos mais comentados em Comandatuba
foram os elogios do senador
Aloízio Mercadante (PT-SP)
a FHC. Disse que, assim como Fernando Henrique elogiou o governo Lula no Fórum Econômico Mundial, tinha que reconhecer que o
governo tucano teve muitos
méritos. "É um novo Mercadante", disse o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).
DE PÉ TROCADO
Assim como Mercadante,
Henrique Meirelles deu algumas declarações consideradas surpreendentes para
boa parte da plateia. Defendeu, por exemplo, com bastante veemência, a função
do Estado como indutor da
economia. E afirmou que o
BC não é assim tão conservador como muitos pensam.
Os dois -ele e Mercadante-
foram muito aplaudidos.
COMBUSTÍVEL
Vai ser lançado no final
deste mês o livro "Biocombustíveis - A Energia da Controvérsia" (Senac São Paulo,
180 págs.), que aborda o debate sobre biocombustíveis
no Brasil e no mundo. Organizado por Ricardo Abramovay, economista da FEA/
USP, o livro traz textos de especialistas como o franco-polonês Ignacy Sachs e os
brasileiros Edna Carmélio e
Arnoldo de Campos, responsáveis pela elaboração e pela
gestão do PNBP (Programa
Nacional de Produção e Uso
do Biodiesel).
RECRUTAMENTO
A Hays, de recrutamento
especializado, fechou seu resultado mundial no período
de julho a dezembro do ano
passado. No segundo semestre de 2008, a empresa registrou um aumento de 2% em
seu lucro líquido.
RECUPERAÇÃO
O escritório Siqueira Castro Advogados registrou, no
primeiro trimestre, um aumento de 37% nos processos
de recuperação judicial de
empresas em relação a todo
o ano de 2008. Na recuperação extrajudicial o crescimento foi de 21% em igual
período. Para 2009, a expectativa é que a área de recuperação de empresas do escritório feche em alta de 50%.
MARIA-FUMAÇA
A produção ferroviária
cresceu 4% em 2008, passando de 257,4 bilhões de
TKU (tonelada por quilômetro útil) em 2007 para 267,7
bilhões de TKU em 2008.
Para 2009, a expectativa é de
alta de 7%, segundo a ANTF
(Associação Nacional dos
Transportadores Ferroviários). O transporte de cargas
sobre trilho no Brasil representa 18% da matriz.
CARTEL
Apenas 30 casos de cartel foram condenados no Brasil
nos últimos 15 anos, sobre um volume de 300 analisados
pelo Cade, segundo levantamento do advogado Eduardo
Molan Gaban, sócio do escritório Sampaio Ferraz. Para
ele, um dos motivos para que o número de condenações
seja pequeno é que a estrutura no Brasil é pequena e inadequada para avaliar o volume de casos.
com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI
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