São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@grupofolha.com.br

Empresários veem novos sinais de recuperação na economia

Nas últimas semanas, a economia está dando sinais evidentes de recuperação, ainda que tímidos e num ritmo bem abaixo do período anterior à crise. A conclusão ficou evidente ontem durante apresentação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em seminário sobre a crise durante o 8º Fórum Empresarial de Comandatuba, na Bahia.
Em sua apresentação, Mei- relles mostrou vários números indicando uma trajetória de recuperação, mas recomendou cautela ao interpretar esses dados. Ele acha que pode ser precipitada uma nova onda de otimismo do mercado, depois de tanto tempo de pessimismo exacerbado.
O problema é que, além de ser a maior crise mundial desde a de 1929, os dados da economia são divulgados com enorme defasagem. O PIB do primeiro trimestre, por exemplo, será muito ruim e só será divulgado em junho, quando tudo leva a crer que a economia esteja muito melhor. Apesar da recuperação, o país deverá estar tecnicamente em recessão (dois trimestres negativos do PIB).
O tom da apresentação de Meirelles, apesar de todos os cuidados tomados, foi de otimismo. Mesmo quando falou sobre política monetária, ele afirmou diversas vezes que a tendência dos juros no Brasil é declinante.
Os empresários gostaram da apresentação e mostraram dados comprovando essa tendência de recuperação da economia brasileira. O presidente da Anfavea (associação das montadoras), Jackson Schneider, por exemplo, afirmou que, neste mês, as vendas de automóveis leves continuam no mesmo patamar -ou pouco acima- do de março, o que é um dado surpreendente.
Wilson Ferreira Jr., presidente da CPFL, também vai na mesma direção. O consumo de energia residencial em São Paulo e no Rio Grande do Sul, as duas áreas onde atua a CPFL, cresceu entre 8% e 12% em março e neste mês em relação ao ano passado; o consumo comercial, 6%; o industrial, 3%.
Mais cauteloso, Fábio Barbosa, presidente da Febraban (federação dos bancos), prefere esperar um pouco mais para poder traçar um quadro definitivo do atual momento. Ele acha que a consolidação desse processo depende essencialmente do que acontecer, daqui para a frente, nos EUA.

DIREÇÃO CONTRÁRIA
Fernando Arbache, pesquisador do ITA e sócio da consultoria Arbache, de inteligência de mercado, está convencido de que os investimentos privados previstos para as usinas hidrelétricas no Norte do país, como Jirau e Santo Antônio, deveriam ser redirecionados para outros setores. Para ele, as restrições de ordem ambiental e indígena vão inviabilizar a construção de redes de transmissão de energia nesses projetos nos próximos dez anos. Para Arbache, o país deveria reverter os investimentos previstos nesses projetos para obras de infraestrutura logística. O consultor diz que, se o país não mudar os traçados das estradas e melhorar as condições de transporte, o apagão logístico efetivamente vai acontecer, e o país não crescerá acima de 4% nos próximos dez anos. "Se o Brasil melhorar a circulação, ganha fôlego para crescer mais e investir em outras áreas, como energia. É uma escolha pensando no melhor para o país nesta década."

RECONHECIMENTO
Um dos assuntos mais comentados em Comandatuba foram os elogios do senador Aloízio Mercadante (PT-SP) a FHC. Disse que, assim como Fernando Henrique elogiou o governo Lula no Fórum Econômico Mundial, tinha que reconhecer que o governo tucano teve muitos méritos. "É um novo Mercadante", disse o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

DE PÉ TROCADO
Assim como Mercadante, Henrique Meirelles deu algumas declarações consideradas surpreendentes para boa parte da plateia. Defendeu, por exemplo, com bastante veemência, a função do Estado como indutor da economia. E afirmou que o BC não é assim tão conservador como muitos pensam. Os dois -ele e Mercadante- foram muito aplaudidos.

COMBUSTÍVEL
Vai ser lançado no final deste mês o livro "Biocombustíveis - A Energia da Controvérsia" (Senac São Paulo, 180 págs.), que aborda o debate sobre biocombustíveis no Brasil e no mundo. Organizado por Ricardo Abramovay, economista da FEA/ USP, o livro traz textos de especialistas como o franco-polonês Ignacy Sachs e os brasileiros Edna Carmélio e Arnoldo de Campos, responsáveis pela elaboração e pela gestão do PNBP (Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel).

RECRUTAMENTO
A Hays, de recrutamento especializado, fechou seu resultado mundial no período de julho a dezembro do ano passado. No segundo semestre de 2008, a empresa registrou um aumento de 2% em seu lucro líquido.

RECUPERAÇÃO
O escritório Siqueira Castro Advogados registrou, no primeiro trimestre, um aumento de 37% nos processos de recuperação judicial de empresas em relação a todo o ano de 2008. Na recuperação extrajudicial o crescimento foi de 21% em igual período. Para 2009, a expectativa é que a área de recuperação de empresas do escritório feche em alta de 50%.

MARIA-FUMAÇA
A produção ferroviária cresceu 4% em 2008, passando de 257,4 bilhões de TKU (tonelada por quilômetro útil) em 2007 para 267,7 bilhões de TKU em 2008. Para 2009, a expectativa é de alta de 7%, segundo a ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários). O transporte de cargas sobre trilho no Brasil representa 18% da matriz.

CARTEL
Apenas 30 casos de cartel foram condenados no Brasil nos últimos 15 anos, sobre um volume de 300 analisados pelo Cade, segundo levantamento do advogado Eduardo Molan Gaban, sócio do escritório Sampaio Ferraz. Para ele, um dos motivos para que o número de condenações seja pequeno é que a estrutura no Brasil é pequena e inadequada para avaliar o volume de casos.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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