São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mudança opõe técnicos e políticos no governo

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Diante de resistências para mexer na poupança, o governo busca uma solução intermediária que possibilite manter um retorno que proteja o pequeno investidor, mas que não estimule a entrada de grandes aplicadores vindos dos fundos de investimento. Com a redução dos juros, o retorno de 6% da poupança fica mais atraente do que o dos fundos.
A primeira alternativa discutida, que conta com apoio na área política do governo federal, foi punir os grandes aplicadores, cobrando Imposto de Renda a partir de um determinado valor -até a semana passada, falava-se em R$ 100 mil.
O imposto, no entanto, só poderá incidir a partir de 2010 e não resolve o problema atual da migração de dinheiro dos fundos para a poupança. Foi aventada a hipótese de criar uma contribuição, que pode entrar em vigor em 90 dias.
Proposta por técnicos da equipe econômica, o fim da TR e a criação de um percentual da taxa Selic como rendimento da poupança -como os bancos fazem com os CDBs- encontram resistência na área política, pela dificuldade de implementação e por mexer no financiamento imobiliário (65% dos recursos vão para o setor) e na correção do FGTS (sensível aos sindicatos e fonte de recursos para obras de infraestrutura e de saneamento).
A ideia é instituir um percentual como 55% da Selic, que daria um rendimento líquido, por exemplo, de 5,6% ao ano -hoje, o rendimento fica em 6,17%.
Ganha força entre os políticos a proposta de limitar a entrada de grandes depósitos na poupança, instituindo uma espécie de teto para as aplicações, como já acontece no Tesouro Direto, site do governo que vende títulos públicos. No site, as aplicações mensais são limitadas a R$ 400 mil.
Outra possibilidade seria criar diferentes faixas de rendimento, com retorno menor para os grandes aplicadores.

Proteção aos pequenos
Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo ainda estuda como mexer na poupança. "Certamente não vamos prejudicar os poupadores. Protegeremos os que têm menor patrimônio; não podemos permitir que haja uma fuga dos grandes investidores para essa aplicação. Vamos fazer uma adaptação às nossas condições", disse.
Com um dos juros nominais mais altos do mundo, a revisão da poupança era uma "bomba- -relógio" que só deveria ser desarmada após 2011, quando o país passasse a ter "juros civilizados", comparados aos padrões internacionais. A crise financeira global, porém, antecipou essa discussão.
Segundo José Dutra Vieira Sobrinho, especialista em matemática financeira, a TR é uma daquelas "jabuticabas" -só existem no Brasil-, incompreensíveis para qualquer outra realidade de mercado.
No caso, a TR é calculada a partir da média do pagamento dos CDBs dos 30 maiores bancos, que depois sofre ação de um redutor cuja lógica é retirar o efeito dos tributos, entre outros componentes dos CDBs.
"Vamos ver se, desta vez, o governo não vem com uma solução tampão para a poupança. Poderia aproveitar a ocasião e arrumar de vez esse problema."


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Indicadores dos EUA dominam semana "curta"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.