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Entrevista
Para Armínio, juro baixo não garante prosperidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o Brasil alcançar
taxa de juros reais de até 4%
ao ano, nível de países emergentes como México e Chile,
os investidores locais sofrerão um choque de "normalidade". Quem diz isso é Armínio Fraga, ex-presidente do
Banco Central e atual sócio
da Gávea Investimentos.
"Ganhar 5% a 10% no
overnight sempre foi uma
tentação irresistível para
nossos poupadores. Isso vai
mudar", disse ele à Folha.
Segundo Armínio, se os juros, de fato, caírem para esse
patamar, o Brasil terá a
chance de criar uma efetiva
poupança de longo prazo.
"Mas não será o fim dos problemas. Juro baixo não garante prosperidade."
A seguir, os principais trechos da entrevista.
(MA)
FOLHA - Como um ambiente de
juros baixos afetaria o hábito dos
brasileiros?
ARMÍNIO FRAGA - A mentalidade de todos vai mudar. Consumidores e empresas vão se
alavancar mais. Dependerão
menos de dinheiro próprio.
Já os poupadores serão obrigados a alongar o horizonte.
Serão submetidos a certos tipos de risco. Será muito bom
para o país, uma chance única de fortalecer a poupança
de longo prazo.
FOLHA - A que riscos o sr. se refere?
ARMÍNIO - De coisas simples,
como comprar imóveis, investir na Bolsa. Ganhar 5% a
10% no overnight sempre foi
uma tentação irresistível para nossos poupadores. Isso
vai mudar. O tema "risco" certamente vai ganhar relevância. Mas vejo com certa preocupação a expectativa que se
criou em torno da redução
dos juros.
FOLHA - Por quê?
ARMÍNIO - Juros baixos não
garantem prosperidade, que
vem de uma ênfase maior e
generalizada em educação,
investimento, tecnologia e
melhores práticas gerenciais. Um ambiente em que
reinem a concorrência, a segurança de regras e contratos e a estabilidade também é
crucial.
FOLHA - Se os juros baixos não
garantem a prosperidade, pode-se dizer que juros altos não a inibem?
ARMÍNIO - Não é bem assim.
Eu quis dizer outra coisa.
Tanto o México como o Chile
têm juro real entre 2% e 4%,
e o desempenho econômico
de ambos não é o mesmo.
FOLHA - Um cenário de juros
mais baixos permite ao governo
gastar mais?
ARMÍNIO - A economia sofre
um choque brutal, e é natural
que a maioria esmagadora
dos países reduza um pouco
o esforço fiscal, transitoriamente. Mas isso não significa
sinal verde para gastar mais,
e indiscriminadamente. A
ênfase precisa ser dada aos
investimentos, que são gastos não permanentes.
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