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Cresce financiamento com cartão de crédito
Segundo o BC, cartão e cheque especial foram as modalidades de empréstimo que mais cresceram no início deste ano
Avanço das operações nessas categorias, as mais caras para o consumidor, foi de 8%, o dobro do registrado na aquisição de veículos
EDUARDO CUCOLO
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O cartão de crédito e o cheque especial foram as modalidades de financiamento que
mais cresceram no início deste
ano, período sazonalmente
marcado pelo aperto no orçamento das famílias brasileiras.
Segundo dados do Banco
Central, o saldo dos empréstimos nessas modalidades avançou 8%, o dobro do registrado
na aquisição de veículos, que ficou em terceiro lugar. O BC
considera como financiamento
no cartão as compras parceladas, os saques e o parcelamento
da fatura (crédito rotativo).
Ao contrário do que ocorreu
no mesmo período do ano passado, esse crescimento não foi
acompanhado por aumento no
atraso de pagamentos. Pelo
contrário, essas duas modalidades foram as que registraram a
maior queda na inadimplência
nesse mesmo período.
Segundo o BC, as dívidas no
cheque especial caíram nos últimos 12 meses, apesar do aumento neste início de ano. Os
empréstimos com uso do cartão, por outro lado, cresceram
14% no mesmo período.
O dado chama a atenção porque essas duas formas de financiamento são justamente as
mais caras para o consumidor.
De acordo com o último boletim sobre juros e "spreads" divulgado pelo BC, as taxas praticadas em média no cheque especial estão em 159% ao ano,
enquanto no crédito pessoal a
cobrança não chega aos 44%.
Já no cartão de crédito os juros médios chegam a 133,9% ao
ano para os saques e o crédito
rotativo, segundo pesquisa de
março da Anefac (Associação
dos Executivos de Finanças).
Para o vice-presidente da entidade, Miguel de Oliveira, o aumento do uso dessas modalidades mais caras no início do ano
reflete a falta de planejamento
dos consumidores.
"Esse crédito, que deveria ser
apenas emergencial, acaba sendo usado por quem gastou além
do orçamento no fim do ano e
vem postergando as dívidas.
Mas a partir deste mês provavelmente voltará a ser usado
para financiar o consumo."
De acordo com o presidente
da Abecs (Associação Brasileira
das Empresas de Cartões de
Crédito), Paulo Caffarelli, a indústria de cartões cresce hoje
no Brasil a uma taxa de 20% ao
ano, impulsionada pelos processos de bancarização e ascensão das classes D e E.
"O ingresso dessa população
na área de cartões faz com que
o uso do crédito rotativo aumente. E são pessoas que ainda
estão em um estágio de aprendizado no uso desse produto",
diz o presidente da Abecs.
A associação lançou no ano
passado uma campanha de
conscientização do uso do cartão de crédito, iniciativa que
deve se repetir neste ano. Um
dos objetivos é mostrar que o
crédito rotativo deve ser utilizado apenas em situações
emergenciais e dentro de um
planejamento financeiro.
Apesar dessa melhora no começo de 2010, a inadimplência
nessas duas modalidades de
crédito continua em níveis acima da média do mercado bancário. No caso do cartão, 24%
dos pagamentos estão com
atraso superior a 90 dias, prazo
de referência para classificação
de inadimplência.
Se forem somadas as operações vencidas entre 15 e 89 dias,
os atrasos chegam a 35%. Em
junho do ano passado, os efeitos da crise levaram esse indicador a bater em 42%.
Em relação ao cheque especial, a taxa de inadimplência
(10,3%) está mais próxima da
média registrada nas outras
modalidades pesquisadas pelo
BC (7,2%). Essa ainda é, no entanto, a única forma de crédito
que tem inadimplência superior ao nível anterior à crise.
Tendência
De acordo com o professor de
economia da FGV Robson
Gonçalves, esses indicadores
devem continuar em queda, devido, principalmente, à redução no desemprego.
"O que gera inadimplência é
o desemprego, mais do que o
aumento nos juros. E hoje a
gente tem um crescimento
muito forte da ocupação."
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