São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 2002

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COMÉRCIO EXTERIOR

Exportações caem em ritmo menor que em outros países

Brasil perde menos que o mundo e mantém mercado

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma queda menor das exportações brasileiras do que a retração mundial no primeiro trimestre do ano indica que o país não está perdendo mercado, apesar do fraco desempenho das vendas externas neste ano.
De acordo com o Banco BBV, excluindo o efeito da crise Argentina, as exportações diminuíram 4,3% no primeiro trimestre, uma queda menor do que a dos principais traders (países com maior fluxo de comércio) mundiais, incluindo os tigres asiáticos.
Considerando a perda do mercado argentino, a diminuição nas vendas externas registrada no Brasil ficou em 10,7%, menor do que nos EUA (15,8%), na União Européia (10,8%), no Japão (12,6%), no Canadá (14,9%), em Cingapura (14,9%) e na Rússia (17,8%). A redução nas vendas para a Argentina é responsável por quase dois terços da queda dos embarques de mercadorias neste ano.
"Isso significa que, mesmo exportando menos, o Brasil não está perdendo mercado para outros países, que, proporcionalmente, estão vendendo menos do que o Brasil por causa da retração do comércio mundial", disse o secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior), Roberto Giannetti da Fonseca.
De acordo com a OMC (Organização Mundial do Comércio), pela primeira vez nos últimos 20 anos o comércio mundial teve, em 2001, retração -de 1% em volume e 4% em valor.
O Brasil, em contraste, elevou as exportações em 9,7% em 2001. Segundo o BBV, desde 1999, a participação do Brasil no mercado mundial aumentou em US$ 6,6 bilhões a receita de exportações.
Governo e analistas de mercado afirmam que, com a retomada do fluxo do comércio mundial esperada para o segundo semestre, as exportações brasileiras devem ganhar impulso.
Parte do fraco desempenho das exportações neste ano, porém, reflete a variação dos preço das mercadorias, que ficaram em média 9,4% mais baratas, e não perda de mercado.
Na avaliação dos economistas do BBV, mesmo com a esperada recuperação da economia mundial, a probabilidade de crescimento das exportações neste ano é praticamente nula, e o aumento do protecionismo mundial nos setores siderúrgico e agrícola reforça essa tendência.
De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Exterior, o preço do aço no mercado mundial nunca esteve tão baixo. Segundo a Funcex (Fundação de Comércio Exterior), a cotação dos produtos básicos exportados pelo Brasil atingiu seu menor nível desde 1977.
Os subsídios agrícolas, que ganharam mais US$ 60 bilhões do governo dos EUA para os próximos dez anos, ajudam a baixar os preços das commodities.

Recuperação
Mesmo com a manutenção dos mercados conquistados, as exportações brasileiras só deverão voltar a crescer em 2003. O BBV projeta recuo de 5,8% nas vendas neste ano. Isso porque, apesar da provável recuperação do comercio mundial, a Argentina não deve retomar o consumo no médio prazo.
O parceiro do Mercosul passou do segundo para o sexto lugar entre os maiores compradores de produtos brasileiros, ficando atrás dos EUA, da Holanda, da Alemanha, do Japão e do México.
As eleições parlamentares nos EUA e majoritárias na Europa também reforçam as tendências protecionistas, adiando a recuperação do comércio para 2003, na avaliação do diretor da Associação Brasileira de Comércio Exterior, José Augusto de Castro. Para ele, as ações de promoção comercial do governo só vão começar a surtir efeito no médio prazo.
O problema, aponta Castro, é que o governo teria de investir em políticas para estimular as exportações para que elas não só acompanhem o aumento do fluxo de comércio mundial mas aumentem sua participação de 1% nas trocas globais de produtos.
O Proex, o programa de financiamento das exportações, por exemplo, repetiu neste ano o mesmo orçamento de R$ 2,1 bilhões do ano passado. "Queremos aumentar as exportações de manufaturados, mas não temos recursos para financiá-las."


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