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PECADO CAPITAL
Classe média alta dos EUA compra para elevar a auto-estima, seja bolsa de US$ 500 ou camiseta de US$ 10
"Nova luxúria" quer consumir felicidade
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles não são exatamente ricos.
Ganham de US$ 50 mil a US$ 75
mil por ano -algo em torno de
R$ 120 mil a R$ 180 mil. Trabalham bastante, sete horas por semana a mais do que seus pais. E,
principalmente, compram para
elevar a auto-estima, não por narcisismo.
Essa categoria de consumidores, de classe média alta, que vão
às lojas por prazer -mas consomem principalmente porque
querem se sentir respeitados e
amados- foi batizada de "the
new luxury" ("a nova luxúria")
pelos consultores norte-americanos. Uma expressão usada pela
popular apresentadora dos EUA
Oprah Winfrey, em um recente
programa de TV sobre o tema.
Nos Estados Unidos, eles somam 25 milhões de pessoas -representam, em média, 10% da população total nos países desenvolvidos. Em países emergentes, são
menos de 2%.
No ano que vem, essa massa de
consumidores, seleta e exigente,
vai virar alvo de um livro que está
sendo elaborado pela direção da
BCG (Boston Consulting Group),
uma consultoria com 54 escritórios em 34 países do mundo.
Felicidade
Basicamente, quem pertence a
esse grupo compra para obter
"benefícios emocionais", segundo Michael Silverstein, vice-presidente da BCG em Chicago, que
está elaborando o livro e deve finalizá-lo em dezembro.
"Essas pessoas podem comprar
uma bolsa Gucci de US$ 500 ou
uma camisa de US$ 10 da Target e
terem a mesma satisfação. Não
importa o preço, porque eles não
adquirem só coisas caras, e até
barganham. O que importa é a
sensação de felicidade", disse Silverstein à Folha.
Estudos estão sendo feitos em
Chicago e Nova York para que os
consultores determinem outras
características desse grupo. Pesquisas por amostragem com diversas questões (feitas até o momento) levam a crer que um entre
cada dez americanos são "pecadores"-fazem parte dessa "nova
luxúria" nos Estados Unidos.
Eles não são escravos de marcas, são autênticos e detalhistas.
Privilegiam o que é de boa qualidade e não compram produtos de
marcas pelas quais não tenham
afeição.
No livro, serão selecionadas as
marcas de produtos preferidas
desses consumidores e exemplos
de companhias que cresceram explorando esse segmento.
Entre as marcas escolhidas na
pesquisa estão os chocolates Godiva -uma caixa com 16 bombons sai por US$ 25-, lingeries
Victoria's Secret -uma camisola
custa, em média, US$ 50- e até
aparelhos de som da Bang &
Olufsen -Madonna tem um em
casa e custam, em média, US$
3.500. Produtos bem mais baratos
entraram na lista, como o café servido nas redes Starbucks (o expresso com leite custa US$ 3).
Mercado interno
No Brasil, o consultor não arrisca eleger as preferidas, mas afirma
que esse público, em países emergentes, tem basicamente as mesmas caraterísticas da classe norte-americana. A diferença é o evidente abismo entre as rendas.
"No Brasil ou no México, a expansão dessa classe esbarra nos
problemas de desigualdade econômica", afirma ele. Estudo finalizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
mostra que cada vez menos as
pessoas estão ganhando mais. E
cada vez mais estão ganhando
menos.
Cerca de 2,5% da população
brasileira recebe acima de 20 salários mínimos hoje no país. Essa
taxa foi próxima a 3% seis anos
atrás, segundo a pesquisa.
A queda na renda reduziu a
quantidade de pessoas que poderiam incorporar essa nova classe
de consumidores no Brasil.
Preferências que vendem
Silverstein arrisca até a dizer que
algumas das marcas preferidas
dessa classe cresceram no ano
passado -em meio à forte desaceleração da economia mundial- porque essa categoria de
consumidores não parou de comprar. A Starbucks, por exemplo,
cresceu 20% nos últimos anos,
enquanto o mercado cresceu a
metade disso.
Lojas que comercializam itens
para animais (pet shops), como a
Diamond e a Eagle Pack, eleitas
pela "nova luxúria", têm crescido
10% ao ano, o dobro da média do
mercado. No Brasil, alguns economistas e publicitários ouvidos
pela Folha destacam outras marcas com igual aceitação. Entre elas
estão Nike, Victor Hugo e carros
Mercedes-Benz.
Para atingir esse público, entretanto, é preciso seguir algumas regras, na avaliação do consultor
Neil Fiske, que também elabora a
pesquisa ao lado de Silverstein.
Eles afirmam que, em primeiro
lugar, é importante criar produtos
para essa categoria sem subestimar seus desejos de consumo.
"As empresas precisam criar algo
além daquilo que os consumidores querem", dizem os autores no
artigo "A nova luxúria e porque
precisamos dela".
Além disso, é importante, em
princípio, que a empresa crie um
nicho de mercado leal à marca.
Cerca de 10% dos consumidores
fiéis a uma marca respondem por,
em média, de 30% a até metade
das vendas, segundo o artigo.
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