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Para Mantega, país vive círculo virtuoso
Ministro considera período atual melhor que o do milagre econômico porque expansão se dá sem aumento de dívida
Para ele, sobrevalorização
do câmbio é resultado do
bom momento e saída é
elevar competitividade das
empresas brasileiras
DO COLUNISTA DA FOLHA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, concorda que o
Brasil vive hoje o melhor momento da história econômica,
superior até ao da época do milagre econômico do período da
ditadura militar. Segundo ele, a
grande diferença entre o atual
momento e o do milagre é que o
país cresce hoje, apesar de a taxas menores, sem se endividar.
"O Brasil vive hoje um círculo virtuoso de crescimento econômico", diz ele. "Está tão bom
que estamos até enfrentando
problemas com o câmbio." Para
contornar o problema de sobrevalorização do câmbio,
Mantega diz que a saída é mesmo incentivar a competitividade das empresas. "Só não vamos recorrer a medidas artificiais como no passado."
(GUILHERME BARROS)
FOLHA - O Brasil vive hoje o melhor
momento de sua história?
GUIDO MANTEGA - Se formos
olhar o conjunto de todos os
números, chegaremos à conclusão de que o momento atual
é melhor do que o da época do
milagre econômico. No milagre, as taxas de crescimento foram maiores, mas o país estava
produzindo um grande desequilíbrio econômico. O país estava se preparando para entrar
numa crise que iria exigir um
ajustamento mais adiante. A
grande diferença em relação ao
momento de hoje é que, na época do milagre, o país crescia
com base no aumento do endividamento externo. O potencial inflacionário também era
grande, tanto que se manifestou logo em seguida. O milagre
promoveu um aumento da concentração de renda.
FOLHA - Mas o país cresce a um ritmo lento?
MANTEGA - Hoje, de fato, as taxas de crescimento são mais
modestas, porém bastante condizentes com um país maduro.
As dívidas, tanto interna como
externa, estão diminuindo. Eu
prefiro um crescimento com
taxas menores, mas com prazo
mais longo e sustentável, do
que um período de maior euforia de crescimento concentrada em menos tempo e que depois levaria o país a uma crise logo em seguida. A grande virtude de hoje é que o padrão de
vida do cidadão brasileiro está
melhorando, mas não à custa
do endividamento, não à custa
de um buraco na economia.
FOLHA - O sr. também acha o atual
momento superior ao do Plano
Real?
MANTEGA - Você teve um momento na economia, nos anos
de 1994 e 1995, no qual o Plano
Real causou uma euforia de
consumismo, mas isso foi produzido à custa de um enorme
déficit comercial. O país estava
se endividando para viabilizar
esse aumento de consumo.
Hoje, a realidade nos faz acreditar
que o país vive, de fato, um círculo virtuoso de crescimento. A
economia está crescendo, o
país está gerando recordes de
empregos, os salários estão subindo, a renda do trabalhador
está se expandindo. E maior
renda do trabalhador se traduz
em maior consumo, o que estimula novos investimentos.
E tudo isso acontece com redução do endividamento, com as
contas públicas equilibradas e
com inflação baixa. Isso nunca
aconteceu antes no país. Sempre tem um ou outro setor com
alguma dificuldade, mas, no
conjunto da obra, nunca vi, na
história do país, um quadro tão
favorável como o de agora. Há
confiança no futuro, confiança
na estabilidade da economia.
Todo mundo está confiante em
que esse processo veio para ficar. Está tão bom que estamos
até enfrentando problemas
com o câmbio. O importante,
no entanto, é que o espírito animal do empresário foi liberado.
O empresário está confiante no
futuro. Nós vamos seguir nessa
trajetória, e sem inflação.
FOLHA - Como o governo pretende
enfrentar o problema do câmbio?
MANTEGA - Nós não vamos usar
nenhum artificialismo como já
se fez no passado com câmbio
duplo, triplo e outras manipulações dessa natureza. Nós admitimos que é inevitável algum
tipo de valorização. Não adianta congelar o câmbio, porque isso estoura mais adiante. Medidas como essas podem até ser
favoráveis num primeiro momento, mas se tornam desastrosas depois. Não vamos nos
meter em nenhuma aventura
cambial. O que temos de fazer é
aumentar a competitividade
das empresas, principalmente
das que mais sofrem com o
câmbio valorizado. Com o país
a caminho do grau de investimento, é normal esse interesse
de fora. O momento é bom para
o país aproveitar para acumular reservas. Isso nos coloca numa posição mais segura para
enfrentar eventuais turbulências no mercado.
FOLHA - Não seria o momento de o
país abrir mais a economia, e não de
aumentar a proteção com tarifas
maiores de importação?
MANTEGA - Quando se detecta
concorrência desleal é preciso
que se tomem medidas. São
medidas excepcionais. Eu sou
contra a elevação das tarifas de
importação. É salutar que as tarifas estejam baixas. O aumento de tarifas ocorre excepcionalmente para defender alguns
setores que estejam sofrendo
algum processo de retaliação
ou de concorrência desleal, como foi o caso dos setores têxtil e
de calçados.
Quando foi necessário, por
exemplo, nós reduzimos as tarifas de importação para o aço e
isso pode se repetir para alguns
setores a qualquer momento.
Nós tanto podemos subir as tarifas como também podemos
baixar, quando houver algum
exagero, algum abuso. Não há
uma determinação do governo
de elevar as tarifas, muito pelo
contrário. O país tem ainda
poucas tarifas altas de importações. Uma delas, por exemplo, é
a do setor automobilístico, mas
nós não vamos baixar as tarifas
para esse setor.
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