São Paulo, domingo, 20 de maio de 2007

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Para Mantega, país vive círculo virtuoso

Ministro considera período atual melhor que o do milagre econômico porque expansão se dá sem aumento de dívida

Para ele, sobrevalorização do câmbio é resultado do bom momento e saída é elevar competitividade das empresas brasileiras

DO COLUNISTA DA FOLHA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, concorda que o Brasil vive hoje o melhor momento da história econômica, superior até ao da época do milagre econômico do período da ditadura militar. Segundo ele, a grande diferença entre o atual momento e o do milagre é que o país cresce hoje, apesar de a taxas menores, sem se endividar.
"O Brasil vive hoje um círculo virtuoso de crescimento econômico", diz ele. "Está tão bom que estamos até enfrentando problemas com o câmbio." Para contornar o problema de sobrevalorização do câmbio, Mantega diz que a saída é mesmo incentivar a competitividade das empresas. "Só não vamos recorrer a medidas artificiais como no passado." (GUILHERME BARROS)  

FOLHA - O Brasil vive hoje o melhor momento de sua história?
GUIDO MANTEGA
- Se formos olhar o conjunto de todos os números, chegaremos à conclusão de que o momento atual é melhor do que o da época do milagre econômico. No milagre, as taxas de crescimento foram maiores, mas o país estava produzindo um grande desequilíbrio econômico. O país estava se preparando para entrar numa crise que iria exigir um ajustamento mais adiante. A grande diferença em relação ao momento de hoje é que, na época do milagre, o país crescia com base no aumento do endividamento externo. O potencial inflacionário também era grande, tanto que se manifestou logo em seguida. O milagre promoveu um aumento da concentração de renda.

FOLHA - Mas o país cresce a um ritmo lento?
MANTEGA
- Hoje, de fato, as taxas de crescimento são mais modestas, porém bastante condizentes com um país maduro. As dívidas, tanto interna como externa, estão diminuindo. Eu prefiro um crescimento com taxas menores, mas com prazo mais longo e sustentável, do que um período de maior euforia de crescimento concentrada em menos tempo e que depois levaria o país a uma crise logo em seguida. A grande virtude de hoje é que o padrão de vida do cidadão brasileiro está melhorando, mas não à custa do endividamento, não à custa de um buraco na economia.

FOLHA - O sr. também acha o atual momento superior ao do Plano Real?
MANTEGA
- Você teve um momento na economia, nos anos de 1994 e 1995, no qual o Plano Real causou uma euforia de consumismo, mas isso foi produzido à custa de um enorme déficit comercial. O país estava se endividando para viabilizar esse aumento de consumo.
Hoje, a realidade nos faz acreditar que o país vive, de fato, um círculo virtuoso de crescimento. A economia está crescendo, o país está gerando recordes de empregos, os salários estão subindo, a renda do trabalhador está se expandindo. E maior renda do trabalhador se traduz em maior consumo, o que estimula novos investimentos.
E tudo isso acontece com redução do endividamento, com as contas públicas equilibradas e com inflação baixa. Isso nunca aconteceu antes no país. Sempre tem um ou outro setor com alguma dificuldade, mas, no conjunto da obra, nunca vi, na história do país, um quadro tão favorável como o de agora. Há confiança no futuro, confiança na estabilidade da economia.
Todo mundo está confiante em que esse processo veio para ficar. Está tão bom que estamos até enfrentando problemas com o câmbio. O importante, no entanto, é que o espírito animal do empresário foi liberado. O empresário está confiante no futuro. Nós vamos seguir nessa trajetória, e sem inflação.

FOLHA - Como o governo pretende enfrentar o problema do câmbio?
MANTEGA
- Nós não vamos usar nenhum artificialismo como já se fez no passado com câmbio duplo, triplo e outras manipulações dessa natureza. Nós admitimos que é inevitável algum tipo de valorização. Não adianta congelar o câmbio, porque isso estoura mais adiante. Medidas como essas podem até ser favoráveis num primeiro momento, mas se tornam desastrosas depois. Não vamos nos meter em nenhuma aventura cambial. O que temos de fazer é aumentar a competitividade das empresas, principalmente das que mais sofrem com o câmbio valorizado. Com o país a caminho do grau de investimento, é normal esse interesse de fora. O momento é bom para o país aproveitar para acumular reservas. Isso nos coloca numa posição mais segura para enfrentar eventuais turbulências no mercado.

FOLHA - Não seria o momento de o país abrir mais a economia, e não de aumentar a proteção com tarifas maiores de importação?
MANTEGA
- Quando se detecta concorrência desleal é preciso que se tomem medidas. São medidas excepcionais. Eu sou contra a elevação das tarifas de importação. É salutar que as tarifas estejam baixas. O aumento de tarifas ocorre excepcionalmente para defender alguns setores que estejam sofrendo algum processo de retaliação ou de concorrência desleal, como foi o caso dos setores têxtil e de calçados.
Quando foi necessário, por exemplo, nós reduzimos as tarifas de importação para o aço e isso pode se repetir para alguns setores a qualquer momento. Nós tanto podemos subir as tarifas como também podemos baixar, quando houver algum exagero, algum abuso. Não há uma determinação do governo de elevar as tarifas, muito pelo contrário. O país tem ainda poucas tarifas altas de importações. Uma delas, por exemplo, é a do setor automobilístico, mas nós não vamos baixar as tarifas para esse setor.


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