São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2008

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Preço da terra no país sobe 16% e bate novo recorde

Pesquisa apura média de R$ 4.135, maior valor nominal para o hectare no Brasil

Analista atribui parte da alta à maior procura de áreas por grandes grupos, muitos estrangeiros; custo da terra no Sul passa o do Sudeste

ROBERTO SAMORA
DA REUTERS

Com a alta dos grãos, o preço médio das terras destinadas à agropecuária no Brasil subiu 16,3% no segundo bimestre de 2008, ante o mesmo período de 2007, para R$ 4.135 por hectare. O valor representa novo recorde nominal para o país, informou ontem o Instituto FNP, divisão da AgraFNP, braço brasileiro do grupo Agra Informa, um dos líderes em consultoria no agronegócio no mundo.
As principais áreas produtoras de grãos do país registraram as maiores valorizações. O preço médio no Sul do Brasil superou o custo das propriedades no Sudeste pela primeira vez desde o início de 2007. Na comparação com o primeiro bimestre, a alta do preço médio no Brasil foi de 3,42%. O valor no Sul subiu 6,16% em relação a igual período.
"O Sul no bimestre passado tinha quase igualado o valor com o Sudeste. Grande parte dessa troca de posição é por conta da procura de terras para grãos no Paraná, que se valorizou demais", disse Jacqueline Bierhals, analista da AgraFNP.
O preço médio do hectare no Sul subiu de R$ 7.288, no primeiro bimestre, para R$ 7.737 no segundo. O valor da terra no Sudeste foi estimado no Sudeste pela consultoria em R$ 7.450 por hectare, ante R$ 7.317 nos primeiros dois meses do ano.
Segundo Bierhals, para ter uma idéia da procura de terras por grãos no Paraná, um dos líderes na produção de grãos do país, houve negócio em Cascavel a R$ 34 mil por hectare, parcelado em três vezes. "A maior procura e o tamanho médio das propriedades -inferior, por exemplo, às do Cerrado-, dá espaço para esses preços mais salgados."
O produtor Camilo Carlos Caus, da região de Cascavel (PR), que está tentando ampliar a sua propriedade, disse que os preços dos grãos favorecem a aquisição de terras, mas afirmou que as negociações estão difíceis pelo valor elevado e pela disputa com outros interessados. "Tem até médico comprando terra por aqui."
Segundo a AgraFNP, os preços do Sudeste não se reajustaram no mesmo ritmo dos do Sul em razão do menor entusiasmo com os valores pagos pela cana, que tiveram queda na comparação com a safra passada, pela maior oferta de açúcar e álcool.
Em São Paulo, o maior produtor de cana do Brasil, o preço médio da terra subiu para R$ 11,8 mil por hectare, ante R$ 11,6 mil no primeiro bimestre. "Mas essa alta não é nada por conta da cana. São reflorestamentos, áreas de grãos, pastagens", disse Bierhals.

Centro-Oeste
No Centro-Oeste, principal região produtora de grãos do Brasil, a valorização em relação ao primeiro bimestre foi pequena, de 3,5%, mas, na comparação com o segundo bimestre de 2007, a alta foi de 40%, para R$ 3.246 por hectare, também em razão dos melhores preços das commodities agrícolas.
Segundo a analista, essa alta no Centro-Oeste ocorre também em razão da maior procura de terra por grandes grupos, muitos deles estrangeiros, interessados em cultivar em extensas áreas. Esses grupos têm interesse em áreas de Cerrado, não naquelas do bioma amazônico, até para evitar eventuais problemas com órgãos ambientais, disse a analista.
"Quem tem áreas abertas não vende, porque não existem outras áreas para serem abertas", disse o agricultor Nelson Picolli, presidente do Sindicato Rural de Sorriso (MT). Picolli cita dificuldades ambientais para a abertura de fronteiras agrícolas. O valor das propriedades da região ao norte de Mato Grosso, com a alta da soja, subiu, uma vez que as terras são cotadas em sacas, disse o dirigente do sindicato.


Com GITÂNIO FORTES , da Redação

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