São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2010

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Estrangeiro reclama de burocracia

Em evento com Lula, espanhóis elogiam expansão brasileira, mas ainda veem entraves aos negócios

Empresários questionam ministro Paulo Bernardo se crescimento previsto para este ano e o próximo não será um "voo de galinha"

Javier Lizón/Efe
Lula e Ignacio Sánchez-Galán, presidente da holding espanhola Iberdrola, em evento em Madri

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu último dia na Espanha, um país ainda mergulhado na crise econômica, para pedir mais investimentos no Brasil.
Levou uma comitiva formada por Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e pelos presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e do Bradesco, Luiz Trabuco, que soltaram uma enxurrada de cifras para mostrar a solidez e a "previsibilidade" do país.
"Venho aqui pedir que os senhores acreditem no Brasil e invistam no Brasil", disse Lula ontem a cerca de 150 empresários espanhóis, durante seminário sobre o futuro do Brasil.
Na plateia, investidores -como os presidentes das multinacionais Telefónica e Iberdrola, representantes de empresas ligadas ao petróleo e ao esporte e banqueiros- se mostraram especialmente animados com cifras de aumento do consumo, diminuição do deficit público e previsões de crescimento na casa dos 6% neste ano.
Mas alguns deles, ouvidos pela Folha, disseram-se cautelosos com os efeitos da crise na Espanha e entraves de investimentos no Brasil.
"Ainda há muita burocracia no Brasil e a política fiscal é muito complexa. Também estamos vendo uma competição excessiva lá", avaliou o diretor da Câmara de Comércio espanhola Gonzalo Solada.
Mesmo assim, ele afirma que o Brasil é apontado como um dos principais mercados para investidores espanhóis.
O crescimento do consumo, que, segundo expôs Mantega, ficou na casa dos 9% em abril -"quase uma demanda chinesa"-, é um dos principais atrativos para os espanhóis.
Isso porque, segundo apontaram ontem, seu expertise atual está em produtos voltados à chamada classe C brasileira, como artigos de telefonia, turismo e roupas.
"Temos muito mercado para descobrir no Brasil", disse Dominique Riberolles, da Cia. Espanhola de Petroleiros, que há dez anos investe no país. Ele disse que a crise tem estimulado os investimentos em emergentes como o Brasil.

Confiança
"É uma forma de fugir do nosso mercado interno", disse Riberolles, que elogiou o discurso do presidente Lula. "Deu-nos mais confiança."
Confiança foi a palavra-chave da imagem vendida ontem pela comitiva brasileira. Lula falou no país como a 5ª economia mundial em 2020. Mantega deu previsão de fechar 2010 com o deficit público em 1,5% do PIB, "o menor do G20".
Isso para uma plateia que ainda está absorvendo o anúncio, na semana passada, de cortes sociais do governo espanhol para diminuir o deficit de 11% da Espanha -muito acima da meta de 3% da União Europeia.
Questionado por um empresário se não se trata de um "voo de galinha" do Brasil, Paulo Bernardo disse que há preocupação em equilibrar o crescimento. "Achamos muito mais razoável que a economia cresça mais de 6% neste ano e tenha condições de crescer 4,5%, 5% em 2011. O que não queremos é voar além do planejado."


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