São Paulo, Quinta-feira, 20 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRIVATIZAÇÃO
Zylbersztajn diz que mercado competitivo dará suporte para debate
Venda da Petrobrás estará madura em 5 anos, diz ANP

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), David Zylbersztajn, afirmou ontem que o debate sobre a privatização da Petrobrás passará a "ter cada vez mais consistência" na medida em que avance a criação de um mercado competitivo no setor.
Nas suas últimas declarações a respeito, Zylbersztajn vinha defendendo a simples manutenção da Petrobrás como estatal. Ontem disse que o debate sobre a privatização não faz sentido hoje porque a venda da Petrobrás significaria neste momento a substituição de um virtual monopólio estatal por um monopólio privado.
As declarações de Zylbersztajn foram feitas durante o terceiro dia de trabalhos do 11º Fórum Nacional. Ele foi um dos palestrantes de um debate sob o título de "O Day After (dia seguinte) da Privatização da Infra-Estrutura".
O diretor da ANP disse que o processo de transformação do mercado brasileiro de petróleo de monopolista para competitivo deve durar de cinco a dez anos. Isso inviabilizaria a venda da Petrobrás no atual governo.
Ainda de acordo com Zylbersztajn, os setores de pesquisa, exploração e produção de petróleo não devem demorar muito tempo para ganhar competitividade. A ANP promoverá no próximo mês a primeira licitação, no total de 27 blocos, para a entrada de novas empresas no mercado de exploração de petróleo no Brasil.
Ele disse que a maior demora no processo de abertura deverá se concentrar nos setores de refino e de transporte de petróleo e derivados. Os dois setores são, basicamente, controlados pela Petrobrás, e, a médio prazo, a competição depende de a estatal decidir vender algumas das suas unidades.
O presidente do BNDES, José Pio Borges, disse no Fórum Nacional que o banco vai apoiar, inclusive com financiamentos, um processo de concentração de empresas nos setores siderúrgico, petroquímico e de papel e celulose.
A concentração, segundo ele, tem o objetivo de dar a esses setores maior capacidade de competir com os concorrentes internacionais. Borges disse que nos principais países do mundo os três setores já passaram por esse processo de concentração.
O diretor da área de infra-estrutura do BNDES, Fernando Perrone, afirmou que este ano o banco deverá desembolsar R$ 6,5 bilhões em financiamento a projetos de infra-estrutura. Esse valor, segundo ele, será 1.277% maior que os R$ 478 milhões financiados em 1994.
Ainda nos debates do Fórum, o economista Francisco Eduardo Pires de Souza, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), disse que, para crescer 5% ao ano, o Brasil terá que investir 3,3% do PIB (Produto Interno Bruto) ao ano em infra-estrutura.
Ele afirmou que o superávit primário de 3,1% nas contas públicas programado para os próximos três anos propicia ao governo investir apenas 2,4% em infra-estrutura, o que só possibilitaria um crescimento anual do PIB de 2,6%.

Organização
O ministro Celso Lafer (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) anunciou ontem o lançamento, no próximo dia 31, da Onipe (Organização Nacional da Indústria do Petróleo).
Planejada a reboque da abertura do setor, seu objetivo será incentivar a competição dos fornecedores nacionais e estrangeiros que trabalham com petróleo.
A Onipe terá sede na Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Vai reunir governo, setor privado e órgão regulador (Agência Nacional do Petróleo), mas sua gestão é privada.


Colaborou Isabel Clemente, da Sucursal do Rio


Texto Anterior: Luís Nassif: Esquizofrenia política
Próximo Texto: SDE investiga Marítima
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.